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REGIME MILITAR
Ministro do Trabalho de Costa e Silva diz que o presidente sabia como contornar o impasse que levou ao AI- 5
Faltou habilidade política, diz Passarinho
do enviado especial a Brasília
Jarbas Passarinho, ministro do
Trabalho do presidente Costa e Silva, disse à Folha que a crise política que culminou no AI-5 poderia
ter sido desarmada se o governo tivesse mais habilidade política.
Isso ocorria por um acaso: o líder
do governo, Ernani Sátiro, sofrera
um infarto e fora substituído por
Daniel Krieger. As relações de
Krieger com o ministro da Justiça,
Gama e Silva, o porta-voz civil dos
militares de linha dura, beiravam a
"animosidade". Essa indisposição
e a disputa dos militares ditos liberais e os de linha dura acabou no
AI-5, como conta Passarinho na
entrevista a seguir:
(MCC)
Folha - Não faltou habilidade política ao governo para evitar a crise
com o Congresso e o AI-5?
Jarbas Passarinho - Completa.
Por que o discurso do Marcio Moreira Alves, algo sem a menor importância, foi o detonador do processo? Porque o Ernani Sátiro, o líder do governo na Câmara, estava
infartado no Rio. No meu entender, teria sido possível que o Ernani evitasse o confronto que se viu.
Folha - Por que o governo não
conseguiu evitar o confronto?
Passarinho - O vice-líder do Ernani, o Daniel Krieger, não tinha a
mesma altura do Ernani para negociação. E o Krieger tinha uma
animosidade recíproca com o Gaminha, que era o ministro da Justiça. O Gaminha foi inflexível, queria processar o Marcio Moreira Alves, mas haveria a possibilidade de
solucionar a questão sem chegar
ao AI-5. Como? Se se evitasse o
problema na Câmara. O Costa e
Silva dizia assim: se eu perder na
Câmara, onde eu tenho dois terços
pela Arena, eu não tenho como me
justificar. Mas se eu perder no Supremo, eu posso justificar, porque
são dois poderes independentes.
Folha - Não faltou habilidade a
Costa e Silva para conciliar militares da linha dura e liberais?
Passarinho - Faltou. Um integrante da linha dura chegou na
noite da derrota na Câmara e disse
assim: se o presidente vacila, ultrapassemos o chefe. Ora, isso era deposição. Foi o general Moniz deAragão. O Costa e Silva queria a volta à democracia. No fatídico mês
de agosto de 1969, o presidente me
chamou e disse: "Basta de cassações". Ele queria que eu substituísse o Krieger na presidência da Arena e como líder do governo porque
os militares queriam cassar o Krieger. Ele foi contra o AI-5.
Folha - Por que um ato que deveria durar nove meses, como o sr.
diz, durou dez anos?
Passarinho - Porque o Costa e Silva morreu. Se não tivesse morrido,nós teríamos voltado ao regime
democrático. Com a doença do
Costa, a linha dura foi ganhando
força. Eu achava que seria um ato
passageiro. É por isso que eu disse
na reunião que a mim me repugna
enveredar pelo caminho da ditadura, mas, não tendo alternativa,
às favas os escrúpulos de consciência. Eu tinha os meus escrúpulos.
Folha - É correta a hipótese segundo a qual o AI-5 abriu caminho
para a tortura e as mortes?
Passarinho - É parcialmente aceitável. Dou graças a Deus ter passado 28 anos no Exército seguindo a
Convenção de Genebra (que veta
tortura a prisioneiros). Era uma
guerra suja de ambos os lados. Mas
não dá para dizer que o AI-5 provocou isso. Ele não teria levado a
isso se tivesse intimidado o suficiente para não haver luta armada.
Folha - O sr. se arrepende de algum ato desse período?
Passarinho - Arrependimento
existe quando você praticou um
erro grave. E eu não considero ter
praticado nenhum erro grave.
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