|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRIVATIZAÇÃO
Para presidente da instituição, versão de que disputas internas causaram o episódio é "ridícula e absurda'
BB não originou grampo, diz Ximenes
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O presidente
do Banco do
Brasil, Paulo César Ximenes,
considerou "ridícula e absurda" a versão de
que brigas internas da instituição podem ser a causa de todo o episódio do grampo
no BNDES.
Ele reagiu assim a insinuação feita pelo ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de
Barros, que saiu do governo justamente por causa do grampo. Disse,
porém, que não tinha lido a entrevista em que o ex-ministro fez a
afirmação e falava apenas em tese.
"O Banco do Brasil gravou fitas?
Tinha fitas? Divulgou fitas? Isso é
ridículo", disse Ximenes, 54, à Folha na sexta. Economista, funcionário aposentado e ex-presidente
do Banco Central, ele atuou sempre no serviço público.
Na sua opinião, "as fitas não têm
nada comprometedor", e o ex-diretor da Área Internacional do
banco, Ricardo Sérgio de Oliveira,
que também saiu do governo por
causa do grampo, "foi julgado por
uma frase que não teve nenhuma
substância operacional".
Referia-se à advertência de Oliveira, numa das fitas, de que o BB
estava "no limite da irresponsabilidade" ao conceder fiança de R$
874 milhões a um dos consórcios
da privatização das teles. Leia os
principais tópicos da entrevista:
ENCOL - "Do total de cerca de R$
100 milhões, havia R$ 43 milhões
de créditos de curto prazo vencidos. Era preciso viabilizar uma
operação para alongar a dívida, reforçar a garantia e tentar receber
esses créditos. Foi o que foi feito.
Resultado: houve uma redução líquida no financiamento de cerca
de R$ 30 milhões. Se não tivéssemos feito, a quebra da Encol teria
sido dois anos antes. Tínhamos
que tentar dar viabilidade à empresa e à quitação dos débitos, sem
aumentar a exposição do banco.
Agora, se a empresa for mesmo à
falência, aí ninguém vai receber
nada. É o risco."
AUDITORIA - "A Comissão de
Ética, que é um departamento do
banco, está analisando a auditoria
e deve enviar suas conclusões para
o Conselho Fiscal até o final do
mês. (Referência à auditoria sobre
o socorro à Encol que foi comandado pelo ex-presidente da Previ
Jair Bilachi.) Foram ouvidos 61
funcionários desde o início da auditoria interna, em setembro de 97,
quando os problemas internos da
Encol se agravaram e ficou claro
que aquilo não ia acabar bem.
Reconheço que é tempo demais,
é um processo exagerado, mas no
final vão ser avaliadas as respostas
de 38 funcionários. Não é fácil."
SUA OPINIÃO - "Não tenho opinião. Não vou condenar porque
querem que eu condene, nem absolver porque querem que eu absolva. Sou isento. Aguardo o Conselho Fiscal. Defendo os objetivos
da operação, não ações isoladas de
93 e 94, quando eu nem estava no
banco, e provavelmente de 95 e 96,
quando eu já estava."
PRIVATIZAÇÃO DAS TELES - "É
um negócio de bilhões e bilhões de
dólares. Os responsáveis têm que
ter uma visão ampla do quadro.
Têm que garantir a competição para tentar o melhor preço e saber se
quem está disputando tem competência para tocar a empresa depois.
Foi esse o objetivo do BNDES.
Acredito, com absoluta convicção, que todo mundo nesse processo teve a melhor intenção, o
melhor propósito de fazer o que
era melhor para o país.
Na Tele Norte Leste sempre faltava concorrente, assim como na
privatização da Vale do Rio Doce.
Houve, sim, o desenho do outro
grupo. Só que a expectativa sobre
quem iria ganhar não se concretizou. Achavam que ia dar uma coisa, deu outra."
PREVI E PRIVATIZAÇÕES - "Não
participo do processo (de fiança
para os consórcios). Falo como
quem viu de longe, mas com a certeza de que todas as cartas de crédito foram honradas.
A carta do Banco Opportunity foi
1 entre mais de 30, muitas delas para grupos que estavam disputando
a mesma empresa. Todas as empresas tinham capacidade. Acho
que a Previ (maior fundo de pensão do país, com patrimônio de R$
22 bilhões) comprou duas excelentes participações, uma da Telecom
Italia na Tele Centro Sul, e a outra
na Telemar na Tele Norte Leste.
Foram bons negócios."
LIMITE DA IRRESPONSABILIDADE -"Aí você tem que perguntar ao
Ricardo Sérgio. Ele só podia estar
falando sobre os valores. O processo envolve valores realmente estratosféricos".
RICARDO SÉRGIO -"Meu amigo?
Não. Eu o conheci aqui no banco,
quando tomei posse. Veio não sei
de onde. Veio.
Ele tem características diferentes
das nossas. Foi do Citibank, veio
do setor privado. Ele somava,
completava o que nos faltava, porque todos nós (da diretoria do BB)
somos do Banco Central, como eu,
ou do próprio BB.
Acho que ele foi julgado por uma
frase que não tem substância operacional. As cartas de fiança foram
tecnicamente corretas.
Ele pediu para sair. Saiu para tirar o embaraço criado por uma
única frase.Enquanto ficou, as
acusações ocupavam páginas e páginas de jornal. Acho que ele não
aguentou. O camarada também é
filho de Deus."
BB E GRAMPO - "É um absurdo
(a versão de Mendonça de Barros
de que o grampo foi resultado de
uma disputa interna no BB). Não
tenho nada a dizer sobre isso. O BB
gravou as fitas? Tinha as fitas? Divulgou as fitas? Isso é ridículo."
PARA ONDE VAI -"Não sei. Estou
no governo há muito tempo. Sempre fui funcionário público. O banco esteve no vermelho em 95 e 96,
mas voltou a dar lucro em 97 e 98.
Fiz um bom trabalho. Essas histórias de Petrobrás e de Banco Mundial? Nem sei de onde aparecem."
MINISTÉRIO DA PRODUÇÃO -
"Já ouvi falar os maiores absurdos
sobre isso. Falam até em dividir
carteiras do banco, umas ficando
no Ministério da Fazenda, outras
indo para o novo ministério.
Isso aqui (o BB) é uma S/A. Não
dá para esquartejar, mandando
um pedaço para cada lado.
O ideal é que o Ministério da Produção tenha assento no Conselho
de Administração do banco, para
que todos participem do esforço
para a produção. Mas dividir o
banco não tem a menor lógica."
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|