São Paulo, domingo, 6 de dezembro de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Para presidente da instituição, versão de que disputas internas causaram o episódio é "ridícula e absurda'
BB não originou grampo, diz Ximenes

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília


O presidente do Banco do Brasil, Paulo César Ximenes, considerou "ridícula e absurda" a versão de que brigas internas da instituição podem ser a causa de todo o episódio do grampo no BNDES.
Ele reagiu assim a insinuação feita pelo ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, que saiu do governo justamente por causa do grampo. Disse, porém, que não tinha lido a entrevista em que o ex-ministro fez a afirmação e falava apenas em tese.
"O Banco do Brasil gravou fitas? Tinha fitas? Divulgou fitas? Isso é ridículo", disse Ximenes, 54, à Folha na sexta. Economista, funcionário aposentado e ex-presidente do Banco Central, ele atuou sempre no serviço público.
Na sua opinião, "as fitas não têm nada comprometedor", e o ex-diretor da Área Internacional do banco, Ricardo Sérgio de Oliveira, que também saiu do governo por causa do grampo, "foi julgado por uma frase que não teve nenhuma substância operacional".
Referia-se à advertência de Oliveira, numa das fitas, de que o BB estava "no limite da irresponsabilidade" ao conceder fiança de R$ 874 milhões a um dos consórcios da privatização das teles. Leia os principais tópicos da entrevista:

ENCOL - "Do total de cerca de R$ 100 milhões, havia R$ 43 milhões de créditos de curto prazo vencidos. Era preciso viabilizar uma operação para alongar a dívida, reforçar a garantia e tentar receber esses créditos. Foi o que foi feito. Resultado: houve uma redução líquida no financiamento de cerca de R$ 30 milhões. Se não tivéssemos feito, a quebra da Encol teria sido dois anos antes. Tínhamos que tentar dar viabilidade à empresa e à quitação dos débitos, sem aumentar a exposição do banco.
Agora, se a empresa for mesmo à falência, aí ninguém vai receber nada. É o risco."

AUDITORIA - "A Comissão de Ética, que é um departamento do banco, está analisando a auditoria e deve enviar suas conclusões para o Conselho Fiscal até o final do mês. (Referência à auditoria sobre o socorro à Encol que foi comandado pelo ex-presidente da Previ Jair Bilachi.) Foram ouvidos 61 funcionários desde o início da auditoria interna, em setembro de 97, quando os problemas internos da Encol se agravaram e ficou claro que aquilo não ia acabar bem.
Reconheço que é tempo demais, é um processo exagerado, mas no final vão ser avaliadas as respostas de 38 funcionários. Não é fácil."

SUA OPINIÃO - "Não tenho opinião. Não vou condenar porque querem que eu condene, nem absolver porque querem que eu absolva. Sou isento. Aguardo o Conselho Fiscal. Defendo os objetivos da operação, não ações isoladas de 93 e 94, quando eu nem estava no banco, e provavelmente de 95 e 96, quando eu já estava."

PRIVATIZAÇÃO DAS TELES - "É um negócio de bilhões e bilhões de dólares. Os responsáveis têm que ter uma visão ampla do quadro. Têm que garantir a competição para tentar o melhor preço e saber se quem está disputando tem competência para tocar a empresa depois. Foi esse o objetivo do BNDES.
Acredito, com absoluta convicção, que todo mundo nesse processo teve a melhor intenção, o melhor propósito de fazer o que era melhor para o país.
Na Tele Norte Leste sempre faltava concorrente, assim como na privatização da Vale do Rio Doce. Houve, sim, o desenho do outro grupo. Só que a expectativa sobre quem iria ganhar não se concretizou. Achavam que ia dar uma coisa, deu outra."

PREVI E PRIVATIZAÇÕES - "Não participo do processo (de fiança para os consórcios). Falo como quem viu de longe, mas com a certeza de que todas as cartas de crédito foram honradas.
A carta do Banco Opportunity foi 1 entre mais de 30, muitas delas para grupos que estavam disputando a mesma empresa. Todas as empresas tinham capacidade. Acho que a Previ (maior fundo de pensão do país, com patrimônio de R$ 22 bilhões) comprou duas excelentes participações, uma da Telecom Italia na Tele Centro Sul, e a outra na Telemar na Tele Norte Leste. Foram bons negócios."

LIMITE DA IRRESPONSABILIDADE -"Aí você tem que perguntar ao Ricardo Sérgio. Ele só podia estar falando sobre os valores. O processo envolve valores realmente estratosféricos".

RICARDO SÉRGIO -"Meu amigo? Não. Eu o conheci aqui no banco, quando tomei posse. Veio não sei de onde. Veio.
Ele tem características diferentes das nossas. Foi do Citibank, veio do setor privado. Ele somava, completava o que nos faltava, porque todos nós (da diretoria do BB) somos do Banco Central, como eu, ou do próprio BB.
Acho que ele foi julgado por uma frase que não tem substância operacional. As cartas de fiança foram tecnicamente corretas.
Ele pediu para sair. Saiu para tirar o embaraço criado por uma única frase.Enquanto ficou, as acusações ocupavam páginas e páginas de jornal. Acho que ele não aguentou. O camarada também é filho de Deus."

BB E GRAMPO - "É um absurdo (a versão de Mendonça de Barros de que o grampo foi resultado de uma disputa interna no BB). Não tenho nada a dizer sobre isso. O BB gravou as fitas? Tinha as fitas? Divulgou as fitas? Isso é ridículo."

PARA ONDE VAI -"Não sei. Estou no governo há muito tempo. Sempre fui funcionário público. O banco esteve no vermelho em 95 e 96, mas voltou a dar lucro em 97 e 98. Fiz um bom trabalho. Essas histórias de Petrobrás e de Banco Mundial? Nem sei de onde aparecem."

MINISTÉRIO DA PRODUÇÃO - "Já ouvi falar os maiores absurdos sobre isso. Falam até em dividir carteiras do banco, umas ficando no Ministério da Fazenda, outras indo para o novo ministério.
Isso aqui (o BB) é uma S/A. Não dá para esquartejar, mandando um pedaço para cada lado.
O ideal é que o Ministério da Produção tenha assento no Conselho de Administração do banco, para que todos participem do esforço para a produção. Mas dividir o banco não tem a menor lógica."



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