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Falta acordo para votar limitação na Câmara
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de seis anos de negociação, duas passagens pelo Senado e
duas pela Câmara, a proposta de
emenda à Constituição que tenta
impor limites ao uso de medidas
provisórias está longe de um
acordo entre governo e oposição.
O governo reluta em aceitar limites à edição das MPs -com
seus efeitos imediatos- e insiste
em tirar da Constituição o dispositivo que veda o uso de medidas
para regulamentar matérias que
tenham sido objeto de emenda
constitucional a partir de 1995.
"A proibição coloca uma pedra
no futuro. Suprimi-la é uma questão de governabilidade", avalia
Pedro Parente (Casa Civil).
O desfecho da novela ainda pode demorar. No ano passado, o
presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), incluiu o tema
na pauta do plenário em seis ocasiões diferentes. Mas em nenhuma delas o assunto nem sequer foi
discutido pelos parlamentares.
Parcimônia
Para Parente, não há exagero no
uso das MPs. Ele vê até certa parcimônia na sua edição: em 2000, a
média seria de menos de duas novas medidas por mês, contra 3,5
mensais no ano anterior.
"Hoje, nenhum ministério pode
enviar uma matéria para a Casa
Civil no formato de MP. Tem que
mandar como projeto de lei e, se
for o caso, explicitar na exposição
de motivos a necessidade de
transformá-lo em medida provisória", afirma o ministro.
Incluído na Constituição em
1995, o veto ao uso de MPs na regulamentação de matéria constitucional (artigo 246) foi celebrado
pela oposição como uma vitória.
No lugar dessa proibição, o relator Roberto Brant (PFL-MG) propõe limites temáticos. Pela última
versão da proposta de emenda
constitucional, aprovada em abril
do ano passado, o governo não
poderia editar MPs sobre matéria
orçamentária, contribuições sociais e sequestro de ativos financeiros -como fez o ex-presidente Fernando Collor ao assumir o
governo, em março de 1990.
"Não podemos concordar com
uma restrição feita em duas pontas: nos temas e com o 246", afirma o ministro Aloysio Nunes Ferreira, secretário-geral da Presidência da República, que foi relator do substitutivo sobre as MPs
na primeira vez que a proposta
tramitou na Câmara, em 1997.
"Aceitamos aprovar a proposta
do governo, desde que a votação
sobre a supressão do artigo 246
seja feita em separado", reage o
deputado José Genoino (PT-SP).
Trata-se de uma manobra da
oposição. Se o governo aceitar, terá que jogar com a certeza de que
conseguirá 308 votos para manter
o texto proposto pelo relator, tirando da Constituição o veto ao
uso de MPs para regulamentar o
que foi modificado por emenda.
"Sabemos que há uma negociação para emendar o artigo 192 da
Constituição, que dispõe sobre o
sistema financeiro. Se tiram o 246,
e o governo vem com uma MP e
torna o Banco Central independente? Com a esquerda podendo
chegar ao poder em dois anos?",
pergunta Genoino.
O debate é longo e registra fatos
pitorescos. Antes de se eleger presidente, Fernando Henrique Cardoso foi à tribuna do Senado criticar a edição abusiva de MPs.
O "Diário do Congresso" de 14
de dezembro de 1988 registra discurso do senador FHC no governo Sarney: "Não há nenhuma razão para transformar em medidas
de urgência tudo aquilo que pode
ser feito com mais ponderação, e
o governo está abusando das medidas provisórias, como se fossem
decretos-lei".
Em artigo publicado pela Folha
em 7 de junho de 1990, ele defendia mecanismos de controle, pelo
Legislativo, da edição de MPs.
"Seja qual for o mecanismo, ou
o Congresso põe ponto final no
reiterado desrespeito a si próprio
e à Constituição, ou então é melhor reconhecer que no país só
existe um poder de verdade, o do
presidente. E daí por diante esqueçamos também de falar em
democracia", escreveu FHC.
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