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PRESTAÇÃO DE CONTAS
Jornal do governo omite "mensalão"
Preparada pelo Planalto, cartilha é divulgada como "balanço da gestão Lula"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O leitor que tiver acesso a um
exemplar do jornal que o Palácio do Planalto preparou sobre
os três anos da gestão Luiz Inácio Lula da Silva não verá quase
nenhuma menção às denúncias
de corrupção que derrubaram
parte da cúpula do governo.
Além da praticamente total
omissão à crise do "mensalão",
no balanço não há lembranças
ou simples citações à recente
derrapada da economia, aos buracos nas rodovias federais e às
milhares de famílias sem terra
acampadas em todo o país.
O "jornal de prestação de contas", de 36 páginas e com tiragem de 1,2 milhão de exemplares, segue a linha ensaiada por
Lula para a campanha eleitoral,
quando promete comparar números de seu governo com os da
gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Em formato tablóide (meio
jornal), o balanço traz comparações em diferentes áreas, como
controle do desmatamento, turismo, agricultura familiar,
agronegócio e exportações. Essa
é a sexta edição da chamada
"prestação de contas", a primeira em versão jornal. As quatro
primeiras foram revistas, e a última, veiculada em versão on-line no site da Presidência.
O jornal, produzido pela
agência Lew, Lara por R$ 976
mil, começou a ser distribuído
ontem a agentes públicos de todo o país, especialmente prefeituras, escolas, bibliotecas, consulados, embaixadas e setores
do Legislativo e do Judiciário.
O PSDB afirmou que estuda
ações na Justiça contra a propaganda. "O governo está antecipando a campanha eleitoral e isso não pode ser aceito. O PSDB
estuda acionar tanto a Justiça
Eleitoral quanto a comum", diz
o deputado Eduardo Paes (RJ),
secretário-geral do partido.
Na capa, o jornal traz a manchete "Mais Desenvolvimento,
Menos Desigualdade" e citações
sobre a criação de empregos, o
aumento das exportações e o
Bolsa-Família, programa de
transferência de renda que deve
se transformar num dos carros-chefes da virtual campanha de
Lula à reeleição. "E o salário mínimo real em 2005 ficou 23%
superior ao vigente em dezembro de 2002", diz uma das chamadas da primeira página.
Um resumo geral da gestão
aparece no editorial da página
dois. Nele, o governo fala numa
economia estável e em crescimento. E faz a avaliação de que
"a superação dos enormes desafios históricos não se dá em apenas 36 meses de governo".
O tema da corrupção, que dominou a crise política vivida pelo governo federal no ano passado, é citado de forma discreta e
sutil na página 33. O destaque é
para as ações de fiscalização da
Controladoria Geral da União
nas administrações municipais.
Em meio a esse texto, menciona-se num único parágrafo a
auditoria especial nos Correios,
criada, segundo o jornal, "em
conseqüência das denúncias divulgadas pela mídia".
Na mesma página, há um texto sobre as ações da Polícia Federal no qual é enfatizado o
combate à lavagem de dinheiro.
Investigações em torno do
"mensalão", que mobilizaram
agentes da corporação nos últimos meses, são ignoradas no
jornal do governo.
Aos transportes, tema que nas
últimas semanas dominou a
agenda do presidente Lula, foram reservadas três páginas.
Uma delas trata das ações do governo nas rodovias do país. Não
há, porém, qualquer tipo de citação, mesmo que de forma discreta, sobre a situação precária
das estradas federais, onde, nesta segunda-feira, será iniciado
um programa emergencial de
recuperação.
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