São Paulo, quinta, 7 de janeiro de 1999

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CRIME EM ALAGOAS
Unicamp vai comparar gravação com voz de Talvane Albuquerque, acusado de mandar matar deputada
Câmara investiga diálogo com pistoleiro

DENISE MADUEÑO
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília

A Câmara dos Deputados enviou ontem para análise da Unicamp fita entregue pelo deputado Augusto Farias (PFL-AL) com diálogo que seria entre o deputado federal Talvane Albuquerque (PFL-AL) e o pistoleiro Maurício Novaes, o "Chapéu de Couro".
Talvane é suspeito de ser o mandante da morte da deputada Ceci Cunha (PSDB-AL), em 16 de dezembro do ano passado.
No principal trecho da fita, há o seguinte diálogo:
"Olha, doutor, já tô com um litro de mel, já tô com o rapaz, com um, sabe? Agora, qual o jeito que o sr. quer? Três? Como é?", pergunta supostamente "Chapéu de Couro". "Dois tá bom, três tá bom, né?", responde a voz identificada como de Talvane. "Três, né?", diz supostamente "Chapéu de Couro". "A gente tem tudo preparado para dois", responde supostamente Talvane.
"Preparado para dois, né?" é a pergunta. "Vestimenta, tudo" é a resposta. "Eu sei. Tudo certo? Tudo, tudo para nós ficarmos em Maceió? Lá pro careca", diz supostamente "Chapéu de Couro".
Na versão de Farias, "litro de mel" significa pistoleiro e "careca" é ele próprio. Segundo o deputado, a conversa demonstra o acerto entre Talvane e o pistoleiro para matá-lo. Cabia aos assessores de Talvane vigiá-lo para orientar os pistoleiros.
No trecho entregue à Mesa da Câmara, os interlocutores marcam um novo telefonema para o dia seguinte, quando seriam acertados detalhes. Seguem-se ligações para o gabinete de Talvane em Brasília.
O assessor de nome Jadielson combina de se encontrar com "Chapéu de Couro" para dar seguimento a uma ação. O texto não fala explicitamente em assassinato. Segundo Farias, os diálogos aconteceram nos dias 11 e 12 de novembro.
Talvane não quis comentar o conteúdo da fita. Afirmou que estava em uma sapataria no shopping Pátio Brasil em Brasília e não se lembra de ter falado em litro de mel. O deputado nega ter contratado o pistoleiro para matar Farias.
A Câmara criou ontem uma comissão de sindicância para investigar, num prazo de 15 dias, o suposto envolvimento de Talvane na morte de Ceci Cunha.
A fita não foi suficiente para pedir a cassação do mandato do parlamentar. A Unicamp (Universidade de Campinas) vai analisar se a voz é de Talvane. A comparação será feita com a gravação do discurso que ele fez anteontem na Câmara para se defender da suspeita de ser o mandante do crime.
"Não há declaração explícita. A conversa não foi tão clara a ponto de incriminar em definitivo. Daí a razão para abertura de sindicância", afirmou o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).
O deputado Augusto Farias foi à presidência da Câmara acompanhado pelo ministro da Justiça, Renan Calheiros, e do presidente do PSDB, Teotonio Vilela Filho, ambos de Alagoas.
Teotonio afirmou que Farias está colaborando nas investigações sobre a morte da deputada.
Talvane Albuquerque pediu desligamento do PFL ontem. "Poupou-me o trabalho de ter de expulsá-lo", disse o presidente do partido, Jorge Bornhausen.
A Mesa da Câmara decidiu dar início às investigações imediatamente para ganhar tempo. Em fevereiro, o novo Congresso tomará posse, poderá aproveitar as investigações, mas terá de abrir um novo processo.
Mesmo sendo investigado pela Câmara, Talvane deverá assumir a vaga de Ceci na próxima legislatura. Segundo Temer, no entanto, ele não tomará posse no dia 1º de fevereiro.

Clique aqui para ouvir a íntegra da gravação.

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