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São Paulo, sexta-feira, 07 de fevereiro de 2003

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NO AR

"Good cop, bad cop"

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

E George W. Bush cedeu.
Depois da resistência mostrada por França e Alemanha, Rússia e China, ele surgiu ao vivo nos canais de notícias para dizer que aceita uma nova resolução da ONU sobre as inspeções no Iraque.
Cedeu, desta vez num jogo de cena diferente com Colin Powell. Antes era o presidente o "bad cop", o policial malvado, na expressão da Fox News, e seu secretário de Estado era o "good cop", o bom policial.
Anteontem e ontem, eles trocaram de lado. Powell tratou os velhos aliados como "irrelevantes", Bush cedeu a eles.
A retórica prosseguiu mais ou menos a mesma, mas Bush mostrou respeito pela ordem internacional, pela lei.
E não deu ouvidos à própria Fox News, que em editorial clamou pela guerra solitária, sem os aliados que só fazem dar "facadas nas costas".
 
O que seguiu na retórica foram expressões como "fim de jogo" (Powell) e "o jogo acabou" para Saddam (Bush).
O presidente também repisou as supostas provas dadas pelo secretário. E de novo elas foram pouco convincentes ou, ainda, foram convincentes só quanto ao esforço do Iraque de enganar os inspetores da ONU.
Mas não quanto à ligação do Iraque com a Al Qaeda. Isso é problema menos da oratória de Powell/Bush e mais dos vazamentos da comunidade de informações americana.
Dizia o secretário ontem, comentando a acusação iraquiana de que as suas provas poderiam ter sido forjadas por qualquer serviço de inteligência de terceira categoria:
- Nós não temos um serviço de inteligência de terceira categoria. Nós não temos que forjar nada. Forjar nada.
O problema é que funcionários da CIA e outras espalharam por jornais como "New York Times" que a ligação Iraque/Al Qaeda é tênue, mais desejo político do que informação.
 
A direção do PT, incontinente no uso do poder recém-ocupado, se exaspera com os "radicais". Entra dia, sai dia, um José Genoino ou Aloizio Mercadante ameaça no Jornal Nacional com Inquisição e tortura.
Antes o alvo era a alagoana Heloísa Helena, ontem era o cabeludo paraense João Batista, o Babá, que teria ofendido o ministro da Fazenda ao declarar que não confia mais nele nem como médico.
Babá teve a menos radical das reações, dizendo que quem joga gasolina no fogo são aqueles que ameaçam com o horror dos infernos -e fazem do assunto, na mídia, algo maior do que é.


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