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NO AR
"Good cop, bad cop"
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
E George W. Bush cedeu.
Depois da resistência
mostrada por França e Alemanha, Rússia e China, ele surgiu
ao vivo nos canais de notícias
para dizer que aceita uma nova
resolução da ONU sobre as inspeções no Iraque.
Cedeu, desta vez num jogo de
cena diferente com Colin Powell. Antes era o presidente o
"bad cop", o policial malvado,
na expressão da Fox News, e seu
secretário de Estado era o "good
cop", o bom policial.
Anteontem e ontem, eles trocaram de lado. Powell tratou os
velhos aliados como "irrelevantes", Bush cedeu a eles.
A retórica prosseguiu mais ou
menos a mesma, mas Bush mostrou respeito pela ordem internacional, pela lei.
E não deu ouvidos à própria
Fox News, que em editorial clamou pela guerra solitária, sem
os aliados que só fazem dar "facadas nas costas".
O que seguiu na retórica foram expressões como "fim de jogo" (Powell) e "o jogo acabou"
para Saddam (Bush).
O presidente também repisou
as supostas provas dadas pelo
secretário. E de novo elas foram
pouco convincentes ou, ainda,
foram convincentes só quanto
ao esforço do Iraque de enganar
os inspetores da ONU.
Mas não quanto à ligação do
Iraque com a Al Qaeda. Isso é
problema menos da oratória de
Powell/Bush e mais dos vazamentos da comunidade de informações americana.
Dizia o secretário ontem, comentando a acusação iraquiana de que as suas provas poderiam ter sido forjadas por qualquer serviço de inteligência de
terceira categoria:
- Nós não temos um serviço
de inteligência de terceira categoria. Nós não temos que forjar
nada. Forjar nada.
O problema é que funcionários da CIA e outras espalharam
por jornais como "New York Times" que a ligação Iraque/Al
Qaeda é tênue, mais desejo político do que informação.
A direção do PT, incontinente
no uso do poder recém-ocupado, se exaspera com os "radicais". Entra dia, sai dia, um José
Genoino ou Aloizio Mercadante
ameaça no Jornal Nacional com
Inquisição e tortura.
Antes o alvo era a alagoana
Heloísa Helena, ontem era o cabeludo paraense João Batista, o
Babá, que teria ofendido o ministro da Fazenda ao declarar
que não confia mais nele nem
como médico.
Babá teve a menos radical das
reações, dizendo que quem joga
gasolina no fogo são aqueles que
ameaçam com o horror dos infernos -e fazem do assunto, na
mídia, algo maior do que é.
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