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Para especialista, petista é afetuoso, e não paternalista
DA SUCURSAL DO RIO
"Gente, vamos quebrar o
protocolo, mas nem tanto."
A frase, dita pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva do
parlatório à multidão que
acompanhava sua posse, segundo o psicanalista Jorge
Forbes, 53, sintetiza o tipo de
"líder de vanguarda" que o
petista é, dono de um discurso que cumpre o próprio pedido, sem ser populista.
Para Forbes, Lula desrespeita o formalismo tradicional dos discursos de presidente, inventa imagens e
metáforas inesperadas, da
mesma maneira que o presidente da Microsoft, Bill Gates, pode ser milionário e
não usar gravata.
Segundo ele, no mundo
"obsessivo" da era industrial, do século 20, o padrão
formal era importante, e os
comportamentos dentro de
cada função tendiam a convergir para uma forma única. Hoje não há essa imposição, mas uma multiplicidade de modelos, e Lula "inaugura uma nova forma de fazer política". "É afetuoso,
sem ser paternalista", defende Forbes.
Com essa atitude, ele diz, o
presidente termina por conquistar apoio, e não só no
Brasil. "O que faz do Lula
uma das pessoas mais populares no mundo não é o fato
de ele ser operário. Mas sim
porque ele é surpreendente,
arrisca, equivoca."
Quanto ao equilíbrio na
novidade -desrespeitar o
protocolo, "mas não tanto"-, Forbes diz que é preciso "surpreender", mas
também se fazer entender,
sem cair numa ausência de
sentido.
Para o professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp Eduardo
Guimarães, os discursos
com imagens abrangentes e
comparações de Lula têm
um "traço didático, pedagógico". "É uma tentativa de se
aproximar de um interlocutor supostamente pouco
preparado", ele diz.
Nessa aproximação, nesse
registro em que fala Lula,
pouco importaria se os dados objetivos que cita são
corretos ou não. "Para ele,
isso não tem importância."
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