São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para especialista, petista é afetuoso, e não paternalista

DA SUCURSAL DO RIO

"Gente, vamos quebrar o protocolo, mas nem tanto." A frase, dita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva do parlatório à multidão que acompanhava sua posse, segundo o psicanalista Jorge Forbes, 53, sintetiza o tipo de "líder de vanguarda" que o petista é, dono de um discurso que cumpre o próprio pedido, sem ser populista.
Para Forbes, Lula desrespeita o formalismo tradicional dos discursos de presidente, inventa imagens e metáforas inesperadas, da mesma maneira que o presidente da Microsoft, Bill Gates, pode ser milionário e não usar gravata.
Segundo ele, no mundo "obsessivo" da era industrial, do século 20, o padrão formal era importante, e os comportamentos dentro de cada função tendiam a convergir para uma forma única. Hoje não há essa imposição, mas uma multiplicidade de modelos, e Lula "inaugura uma nova forma de fazer política". "É afetuoso, sem ser paternalista", defende Forbes.
Com essa atitude, ele diz, o presidente termina por conquistar apoio, e não só no Brasil. "O que faz do Lula uma das pessoas mais populares no mundo não é o fato de ele ser operário. Mas sim porque ele é surpreendente, arrisca, equivoca."
Quanto ao equilíbrio na novidade -desrespeitar o protocolo, "mas não tanto"-, Forbes diz que é preciso "surpreender", mas também se fazer entender, sem cair numa ausência de sentido.
Para o professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp Eduardo Guimarães, os discursos com imagens abrangentes e comparações de Lula têm um "traço didático, pedagógico". "É uma tentativa de se aproximar de um interlocutor supostamente pouco preparado", ele diz.
Nessa aproximação, nesse registro em que fala Lula, pouco importaria se os dados objetivos que cita são corretos ou não. "Para ele, isso não tem importância."

Texto Anterior: Presidente no divã: Discursos de Lula são sintoma de governo, diz psicanalista
Próximo Texto: Entrevista da 2ª
Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti: Para antropóloga, Carnaval do Rio passa por momento crítico

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.