DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), reclamou do vazamento de informações sigilosas do Banco Central ao pedir ontem ao presidente da instituição, Armínio Fraga, uma cópia integral do relatório de auditoria feita no Banpará (Banco do Estado do Pará). O documento apontaria Barbalho como beneficiário, em 84, do desvio de R$ 10 milhões do Banpará.
""Registro que esta não é a primeira vez que através da imprensa são divulgadas pseudo-informações que seriam extraídas do tal relatório que estaria sob a guarda do Banco Central", disse o senador no ofício ao BC.
Em entrevista, Jader disse ser inocente das acusações de envolvimento no desvio de dinheiro público depositado no Banpará durante sua gestão como governador do Estado. Mas justificou que não vem se defendendo por não saber o que diz o relatório.
""Tenho dificuldade de apresentar defesa sobre algo que desconheço. Esse episódio é de cerca de 17 anos atrás", disse.
Jader não soube explicar o cheque do Banco Itaú de Cr$ 93 mil emitido por ele em 17 de outubro de 84 cujos recursos foram aplicados nos mesmo títulos ao portador em que foram investidos recursos desviados do Banpará.
""A assinatura é minha. Devo ter dado esse e outros tantos cheques. Quem tem conta bancária é para emitir cheques... Não posso dizer que não tenha feito (aplicações financeiras no Itaú)", disse.
A providência de Jader foi tomada 11 dias após a publicação da primeira reportagem dando conta da existência de um relatório secreto do BC que o responsabilizaria pelo desvio de US$ 10 milhões do Banpará quando era governador do Estado.
Até ontem, ele se limitava a repetir que só sabia da existência de um relatório do BC sobre fiscalização feita em 90 no Banpará que nem mencionava seu nome.
Na correspondência encaminhada a Fraga, Jader anexou ofício que recebeu em abril de 96 do então presidente do BC, Gustavo Loyola, atestando que seu nome não é mencionado no relatório da fiscalização do Banpará.
""Repito que ao longo desses anos nunca fui instado pelo Banco Central, pelo Ministério Público do Pará ou por qualquer órgão público sobre a existência desse pretenso relatório", disse.
O Banco Central só deverá dizer na próxima semana se entrega a Jader e ao Ministério Público do Pará os relatórios sobre o desvio de recursos no Banpará. O requerimento foi submetido à análise jurídica pelo procurador-geral da instituição, José Coelho Ferreira.
Mas a palavra final sobre a entrega dos documentos ficará a cargo de Armínio Fraga, que viajou ontem à tarde para os Estados Unidos, onde manterá encontros com autoridades do governo norte-americano e irá a seminários.
Fraga só deve estar de volta ao Brasil no sábado. A assessoria de imprensa do BC declarou que ele pretende dar a resposta ao senador o mais rápido possível.
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse a interlocutores que julga delicada a situação do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), no caso Banpará e que só poderá ajudar o aliado até certo limite.
FHC se reuniu com Jader ontem e afirmou que não permitiria o que chamou de "vazamento irresponsável" do relatório do BC.
Segundo um interlocutor de FHC, o governo não tem interesse em fragilizar Jader e o PMDB na hora em que luta contra a abertura de uma CPI para reabrir o caso Eduardo Jorge e investigar as demais acusações de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
A cúpula do PMDB também está apreensiva com o caso Banpará. Seus membros apoiaram Jader para presidente do Senado e temem a abertura de uma investigação contra ele.


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