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ELIO GASPARI
Uma boa notícia: Itamar no páreo
Enfim uma boa notícia. Itamar Franco é candidato a presidente da República e o Planalto
sabe que correrá riscos se tentar
escanteá-lo com os recursos que
usou em 1998.
Vai bem a coisa. A sucessão de
2002 já tem cinco candidatos: Lula, Itamar e Ciro Gomes pela oposição. José Serra e Tasso Jereissati
pelo governo. Salvo em 1994,
quando a Presidência foi disputada por FFHH e Lula, nunca a disputa teve tamanha qualidade. (A
eleição de 1998 não conta, porque
nela um candidato qualificado
cavalgou o embuste de populismo
cambial.)
Não se pode querer que todo
mundo ache os cinco candidatos
bons, e é nisso que está a graça de
uma eleição. É melhor conviver
com a diversidade brasileira do
que com a monotonia americana,
na qual George Bush e Al Gore
podiam ser diferentes, mas faziam uma força danada para evitar que o eleitorado percebesse.
É bom que Itamar seja candidato. Quem quiser achar que ele é
um bom candidato pode fazê-lo,
mas essa não é a parte relevante
da questão. É bom que Itamar seja candidato para confrontar o
tucanato com o custo e os riscos
de seu cosmopolitismo provinciano. As leviandades cometidas durante o processo de privatização
do patrimônio da Viúva levaram
FFHH a viver assombrado pelo
risco de uma CPI que, além de necessária, parece inevitável.
A qualificação do governador
de Minas como candidato oposicionista depende de comprovação
e a campanha eleitoral será a
oportunidade adequada para isso. Até lá, Itamar merece passar
por um processo de desmitificação. Ele é um caso raro de pessoa
que fez a coisa certa e ficou com
cara de quem faz tudo errado.
Exemplo: foi o único presidente
da República (ao lado do marechal Castello Branco) com a coragem de abdicar de parte de suas
prerrogativas em benefício da estabilidade da moeda. Quando
Itamar entregou o Ministério da
Fazenda ao professor Fernando
Henrique Cardoso e a uma equipe de economistas que detestava,
praticou um ato de coragem que
faltou a todos os seus antecessores. Faltou também ao seu sucessor quando jogou o país num regime de populismo cambial e privataria inimputável para assegurar sua própria reeleição.
Brega, monoglota, primitivo e
ressentido, Itamar Franco falaria
em português com a rainha Elizabeth, mas não falaria em inglês
com os empresários coreanos. Seria capaz (como foi) de nomeações desastradas, mas não carregaria pelo governo afora o conteúdo dos grampos do BNDES.
Não mandaria o Exército proteger uma propriedade rural onde
suas filhas fossem sócias.
Em compensação, aceitou duas
embaixadas ridículas. Uma em
Lisboa, onde não entendeu os costumes. Outra na OEA, em Washington, onde não entendia o
idioma.
O seu governo teve a virtude de
dar a milhões de brasileiros a sensação de que estavam mais habilitados que ele para exercer a Presidência. Quando nomeou o
chanceler Fernando Henrique
Cardoso para o Ministério da Fazenda, foi tido por doido por muitos deles, inclusive pelo próprio
Cardoso. Já o atual governo tem a
característica de se considerar
uma dádiva dos céus (como o almirante Villegagnon) ou do mercado (como Maurício de Nassau).
Esse homem que fez tudo errado foi o único presidente brasileiro a oferecer um lugar no governo
ao PT. Rebarbaram-no, mas Luiz
Inácio Lula da Silva já se arrependeu publicamente disso. Foi ele
quem teve a coragem de colocar
um promissor político cearense
no Ministério da Fazenda. Chamava-se Ciro Gomes. Tentou,
mas não conseguiu, colocar José
Serra no Ministério da Fazenda.
Itamar Franco conseguiu até
eleger o seu sucessor. Numa prova
de que tudo o que faz de certo deixa a impressão de ter sido o errado, essa é uma das coisas de que
ele mais se arrepende na vida.
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