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A MORTE DE COVAS
Para seguidores,
governador se
tornou "herói"
FLÁVIA DE LEON
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Se para as milhares de pessoas
que compareceram ontem ao
velório do governador Mário
Covas ele era em vida um
exemplo de político, depois de
morto transformou-se praticamente num herói.
Maria Bezerra de Menezes,
50, Leandra Mendes, 44, e Anita Infante, 71, passaram a manhã de ontem agarradas às grades do portão n.º 1 do Palácio
dos Bandeirantes. Em comum,
as três tinham a paixão por Covas e a determinação de não
voltar para casa antes de prestar a última homenagem àquele que definiram como "um
pai", "paixão" e "um dos políticos que jamais esquecerei".
Elas eram apenas uma amostra da variedade de fãs de Covas que foram se despedir.
A abertura dos portões do
palácio ao público ocorreu às
13h10 e, até 19h, cerca de 8.000
pessoas tinham passado por
ali, segundo estimativa do capitão PM Roberto, da guarda do
Bandeirantes. Naquele horário,
ao menos 200 coroas de flores
haviam sido entregues no local.
Com uma foto em que aparece ao lado de Covas, Maria deixava correr algumas lágrimas
ao se lembrar da ocasião. "Ele
foi inaugurar um hospital em
Sapopemba (zona leste)." Na
foto, Maria segura sua neta,
Tainá, no colo. "Hoje de manhã cedo, quando ouvi a notícia, liguei pra ela e contei. Ela ficou chorando", disse.
A seu lado, Leandra, moradora de Guarulhos, dizia que
Covas era seu ídolo político:
"Eu era apaixonada por ele, de
marido ter ciúmes e tudo".
A santista Anita Infante, que
atualmente mora na Penha,
acordou cedo para ver seu conterrâneo pela última vez. "Logo
que ouvi no rádio, às 5h50, tratei de me arrumar logo e vir para cá, pois no velório do Ayrton
Senna (piloto de F1, morto em
94) foi um sacrifício."
Anita participou das últimas
homenagens a várias figuras
públicas. "Além do Senna, fui
ao velório da Elis Regina, ao do
Jânio Quadros (prefeito, morto
em 89) e até ao do Altemar Dutra.
Mais de 1.200 panfletos e quase 200 camisetas, todos com a
foto de Covas, foram levados
por uma comitiva do diretório
municipal do PSDB de Itu, que
fretou um ônibus para chegar a
São Paulo. Também estiveram
no palácio representantes do
PSDB da Terceira Idade e do
PSDB Jovem, cujos representantes levaram bandeiras da última campanha eleitoral com o
nome de Covas.
Quem se definiu como uma
fã ardorosa de Covas foi Carolina Cardoso, 23, que atua num
programa social do governo do
Estado na Zona Norte da cidade de São Paulo. Com os olhos
cheios de água após ver de perto o corpo do governador, Carolina disse que Covas era "um
homem admirável, que fez
muitos projetos bons, como o
que abre as escolas públicas
nos fins-de-semana para tirar
os jovens da rua".
Emoção diante do corpo do
governador também sentiu, e
demonstrou chorando muito,
o motorista desempregado
Sérgio Oliveira, 32. Vestido
com uma camisa do Santos Futebol Clube autografada por
Pelé, ele disse que Covas "deixou o Estado em dia. E eu admiro o fato de ele ter encarado
tudo de frente. Lembra daquela
frase dele, quando foi atacado
pelos professores, que dizia
que, se não pudesse sair de casa, não seria mais governador?
Aquele professor que atirou
um ovo nele deveria pedir desculpas publicamente."
Oponente político do governador à época das rusgas com o
magistério, o professor Leandro (ele não quis dizer o sobrenome) arregimentou um grupo de alunos e colegas do Colégio Estadual Ascendino Reis,
do Tatuapé, e foi homenagear o
governador. "A nossa escola foi
a última a ser visitada pelo Covas, em agosto. A postura dele
como político era imaculada,
apesar de nossas divergências."
Dar exemplo de um comportamento político elogiável foi o
objetivo do comerciante José
Nonato, 53, que levou a filha Lilian, 14, ao velório de Covas. Ele
afirmou que estava lá porque
respeitava muito Covas desde
que foi prefeito. A garota, por
sua vez, fez questão de afirmar
que Covas foi "um homem
muito corajoso, um verdadeiro
herói".
Já o estudante Carlos Alberto
Oliveira, 18, morador de Jandira, caminhou de Pinheiros até
o Morumbi enrolado numa
bandeira do Brasil. "Eu votei
no Covas. Saí de casa de trem e
fui até Pinheiros. De lá, caminhei até aqui. É uma última homenagem. Mesmo morto, tenho certeza de que ele está vendo", afirmou.
Quem não aguentou muito
tempo na frente do palácio foi o
ambulante Roberto Oliveira,
40, que trocou as mercadorias
que vende no centro da cidade
por flores artificiais. Oferecia
duas rosas de tecido por R$
1,00. Antes das 13h, já havia ido
embora.
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