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CELSO PINTO
O que pode reverter
o otimismo
O mercado vinha, até agora, num ciclo de otimismo,
empurrado por duas convicções
e um fato. A primeira é que a
oposição não vai ganhar a eleição presidencial. A segunda é
que, mantida a política econômica, e sem um grande susto externo, os juros para o Brasil e no
Brasil podem cair significativamente. Se isso for verdade, este é
um bom momento para investir
tanto em renda fixa quanto na
Bolsa brasileira.
O fato é a abundância de liquidez internacional nos últimos meses. Ela levou a uma menor aversão ao risco e beneficiou
o Brasil. Em janeiro, o Brasil foi
escolhido -com a Rússia- como uma das duas melhores opções entre os emergentes, numa
reunião, em Nova York, da EMTA, a associação internacional
dos traders em países emergentes. No caso do Brasil, por combinar bons indicadores econômicos com prêmios de risco ainda muito altos.
Ainda é cedo para avaliar o
quanto a crise com o PFL pode
mudar o humor, mas isso só deverá acontecer se o mercado se
convencer de que o episódio aumentará as chances de a oposição vencer (porque a oposição é
vista, no mercado, como sinônimo de mudanças nas bases da
política econômica). O desfecho
da crise com o PFL pode levar à
manutenção da candidatura
Roseana Sarney ou à sua retirada. Saber quem ganha, nesses
cenários, não é tarefa tão simples.
O candidato tucano, José Serra, ganha, se herdar a maioria
dos votos de Roseana, o que algumas pesquisas colocam em
dúvida. Mantida uma candidatura enfraquecida do PFL, por
outro lado, Serra só lucra se, de
fato, decolar. Caso contrário,
embolam as chances de vários
candidatos ao segundo turno.
Pode-se dizer que o mercado,
de forma geral, aposta na vitória de Serra, com a adesão de
Roseana ou sem ela, ajudado
pela transferência da popularidade em alta do presidente, graças à retomada econômica. Soa
muito otimista? Soa, mas a verdade é que, em ciclos de boa liquidez, muita gente no mercado
gosta de argumentos que reforçam seu maior apetite por mais
riscos e mais retornos.
A aposta na queda dos juros e
do "risco Brasil" vem sendo recompensada. No final de fevereiro, o "risco Brasil" (medido
pelo Embi) estava em 830 pontos básicos; hoje está em torno
de 780. E muita gente aposta em
quedas adicionais.
Dois exemplos. Paulo Leme,
diretor da Goldman Sachs, em
Nova York, acha que o prêmio
de risco cobrado ao Brasil pode
cair para 700 pontos até 2003.
Somando essa queda com a
queda de uns 200 pontos básicos
na expectativa inflacionária, isso abriria espaço para um recuo
dos juros dos 18,75% atuais para menos de 15,5%.
Outro exemplo: Jim Walker,
economista-chefe do CLSA
Emerging Markets, no Reino
Unido, acha que a redução no
"risco Brasil" pode ser ainda
maior, de 200 a 300 pontos até o
ano que vem, para menos de
600 pontos. Os juros internos poderiam cair ainda mais.
A percepção de ambos é que o
Brasil, ao atravessar a crise argentina, no ano passado, com
um excelente resultado fiscal,
marcou um ponto com os investidores. De fato, a maioria dos
bancos tem recomendado aos
investidores ficarem comprados
em Brasil acima dos limites da
carteira teórica. O outro grande
mercado na América Latina em
situação razoável é o México,
mas lá a sobrevalorização do
peso aumenta o risco de desvalorização e elevação dos juros,
ao contrário do Brasil.
Leme acha que ainda haverá
turbulências em razão da Argentina, onde o risco de uma hiperinflação é muito alto. Mesmo
com alguma volatilidade no segundo e terceiro trimestres, contudo, prevê que a direção será
positiva, se o próximo presidente mantiver as atuais bases macroeconômicas.
Walker tem apostado forte no
Brasil há algum tempo. A dívida
pública é alta e isso embute um
risco, admite. Mas, em parte, o
temor em relação ao Brasil apenas reflete a transparência das
estatísticas do país. Especialista
em Ásia, ele lembra o caso da
China, país admirado pelos investidores internacionais. O déficit público chinês é de apenas
2% do PIB e a dívida não supera
14% do PIB, mas o país não só
não contabiliza as finanças regionais como subestima o tamanho de alguns buracos fiscais.
Nos cálculos de Walker, o número real do déficit chinês chega
a 14% do PIB e o estoque da dívida, corretamente medido, está
entre 50% e 75% do PIB. Ou seja, se a China fosse tão transparente quanto o Brasil nas suas
contas, os investidores teriam
muito mais razões para temer o
futuro chinês.
O que pode mudar o otimismo? Um avanço da oposição na
corrida presidencial. Uma desvalorização cambial mais forte,
provocada por volatilidade política, resultados medíocres nas
contas externas ou contágio de
crises piores na Argentina. Neste
caso, o câmbio afetaria a projeção inflacionária e dificultaria
novas quedas nos juros. Na pior
hipótese, o BC poderia ser obrigado a subir os juros. Na área
externa, o Fed, banco central
americano, pode começar a subir os juros mais cedo, em agosto, e isso afetar a liquidez. A economia mundial pode crescer
menos do que o esperado.
Apostar num cenário sem ruídos é uma ousadia. Mas, para
reverter o otimismo atual, a situação precisa complicar um
bocado.
CPMF suspeita
Uma teoria conspiratória corre Brasília e já chegou à Receita
Federal. Por trás do provável
atraso na aprovação da prorrogação da CPMF não estaria
apenas a indignação da bancada do PFL. Alguns atrasos já
vieram antes. A suspeita é que
haveria interessados na abertura de uma "janela" sem CPMF,
que permitisse grandes transferências de recursos sem pagamento do imposto.
Para não haver "janelas", a
CPMF teria que estar aprovada
até 18 de março. O boicote do
PFL torna essa tarefa quase impossível. Cada semana sem
CPMF custará R$ 400 milhões
em perda de receita. É o equivalente ao custo de um ano de
isenção de CPMF nas Bolsas,
tão duramente batalhada inclusive pela bancada do PFL.
E-mail:
CelPinto@uol.com.br
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