São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2006

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JANIO DE FREITAS

O dever da CPI

A tendência de reanimação das CPIs, evidenciada ontem no Congresso, prenuncia o fim do alívio visto, em geral, como retorno ao ambiente propício à campanha de Lula, sem os solavancos de revelações e acusações constrangedoras para o governo e sua base parlamentar.
A quantidade de novas denúncias surgidas no final de semana, inclusive com mais ônus para o ministro Antonio Palocci, torna muito questionável a disposição, visível também em oposicionistas, de evitar a prorrogação da CPI dos Correios, para investigação dos novos temas. Nesse caso a CPI, que preservou até aqui um bom nível de reconhecimento público, correria o risco de acusações de acordão e outros maus propósitos políticos, como a prioridade de integrantes seus a dedicar-se às respectivas campanhas eleitorais.
Ainda que se desconsiderem as denúncias de agora, as subcomissões da CPI dos Correios têm muito material por ser examinado conclusivamente, além de documentos até agora esperados em vão, apesar de sua utilidade para conclusões mais seguras dos sub-relatores e do relatório final. Sem a realização plena dessas responsabilidades pendentes, não haverá justificativa possível para o encerramento da CPI dos Correios.

A operação
Por mais que as narrativas falem em assaltantes com uniformes militares, bem armadas, ou lá o que seja, o assalto a um quartel do Exército no Rio, com roubo de dez fuzis modernos, é tão absurdo quanto grave. Há anos se repetem os roubos de armamento e munição de quartéis e bases -e até hoje não foram criadas ou aplicadas normas que evitem, por exemplo, a concentração de fuzis em dependência logo à entrada de um quartel. Casa-de-guarda: guarda de quê, se não é nem do próprio quartel, quanto mais de suas armas?
Não é ao quartel do mais recente assalto que se debita a ausência de medidas eficazes de segurança. O problema é generalizado, como comprovam sucessivos episódios (há duas semanas, um soldado foi morto quando procurava, com policiais, fuzil roubado do Forte de Copacabana). O que compromete muito mais os altos comandos do que os comandados de todos os níveis. Os procedimentos obsoletos não podem se impor à realidade mudada.
Informa o Exército que mais de mil homens estão em favelas, não distantes do centro da cidade, e que mais soldados devem chegar de Brasília e Goiás, para procurar os dez fuzis e a pistola roubados. Já no primeiro ano do governo Lula, um momento agudo da criminalidade urbana no Rio levou o comando do Exército a explicar o isolamento das tropas -na prática, o mesmo que indiferença- como imposição da falta de preparo específico. Tropa com esse treinamento seria prontamente organizada, com vagas notícias posteriores a respeito, entre as quais a de soldadesca preparada em Campinas.
Não se sabe da tal tropa com as convenientes habilitações. Sabe-se, porém, que a finalidade da ação militar em curso não é combater quadrilhas. É criar ambiente opressivo nas favelas cercadas, para fazer os assaltantes preferirem entregar, de algum modo, os fuzis roubados. O problema não é a criminalidade, são os dez fuzis.
Muito objetivo, sem dúvida.


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