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JANIO DE FREITAS
O dever da CPI
A tendência de reanimação das CPIs, evidenciada
ontem no Congresso, prenuncia
o fim do alívio visto, em geral, como retorno ao ambiente propício
à campanha de Lula, sem os solavancos de revelações e acusações constrangedoras para o governo e sua base parlamentar.
A quantidade de novas denúncias surgidas no final de semana,
inclusive com mais ônus para o
ministro Antonio Palocci, torna
muito questionável a disposição,
visível também em oposicionistas, de evitar a prorrogação da
CPI dos Correios, para investigação dos novos temas. Nesse caso a
CPI, que preservou até aqui um
bom nível de reconhecimento público, correria o risco de acusações de acordão e outros maus
propósitos políticos, como a prioridade de integrantes seus a dedicar-se às respectivas campanhas
eleitorais.
Ainda que se desconsiderem as
denúncias de agora, as subcomissões da CPI dos Correios têm
muito material por ser examinado conclusivamente, além de documentos até agora esperados
em vão, apesar de sua utilidade
para conclusões mais seguras dos
sub-relatores e do relatório final.
Sem a realização plena dessas
responsabilidades pendentes,
não haverá justificativa possível
para o encerramento da CPI dos
Correios.
A operação
Por mais que as narrativas falem em assaltantes com uniformes militares, bem armadas, ou
lá o que seja, o assalto a um
quartel do Exército no Rio, com
roubo de dez fuzis modernos, é
tão absurdo quanto grave. Há
anos se repetem os roubos de armamento e munição de quartéis
e bases -e até hoje não foram
criadas ou aplicadas normas que
evitem, por exemplo, a concentração de fuzis em dependência
logo à entrada de um quartel.
Casa-de-guarda: guarda de quê,
se não é nem do próprio quartel,
quanto mais de suas armas?
Não é ao quartel do mais recente assalto que se debita a ausência de medidas eficazes de segurança. O problema é generalizado, como comprovam sucessivos episódios (há duas semanas,
um soldado foi morto quando
procurava, com policiais, fuzil
roubado do Forte de Copacabana). O que compromete muito
mais os altos comandos do que os
comandados de todos os níveis.
Os procedimentos obsoletos não
podem se impor à realidade mudada.
Informa o Exército que mais de
mil homens estão em favelas, não
distantes do centro da cidade, e
que mais soldados devem chegar
de Brasília e Goiás, para procurar os dez fuzis e a pistola roubados. Já no primeiro ano do governo Lula, um momento agudo da
criminalidade urbana no Rio levou o comando do Exército a explicar o isolamento das tropas
-na prática, o mesmo que indiferença- como imposição da
falta de preparo específico. Tropa
com esse treinamento seria prontamente organizada, com vagas
notícias posteriores a respeito,
entre as quais a de soldadesca
preparada em Campinas.
Não se sabe da tal tropa com as
convenientes habilitações. Sabe-se, porém, que a finalidade da
ação militar em curso não é combater quadrilhas. É criar ambiente opressivo nas favelas cercadas, para fazer os assaltantes
preferirem entregar, de algum
modo, os fuzis roubados. O problema não é a criminalidade, são
os dez fuzis.
Muito objetivo, sem dúvida.
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