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Funcionário da Infraero diz que militar
alegou ter "compromissos inadiáveis"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Em depoimento oficial, ontem,
o funcionário Daniel Rodrigues
Pires Bezerra, da Infraero (empresa responsável pela administração de aeroportos), que estava
de plantão na torre de comando
de Viracopos (Campinas) na
Quarta-Feira de Cinzas, declarou
que determinou a interrupção do
vôo JJ 3874 da TAM depois de
acionado pelo sub-oficial da Aeronáutica de nome Agostine.
A interrupção foi para garantir
o embarque de um "militar de alta
patente", que Bezerra soube depois se tratar do general Francisco
Albuquerque, comandante do
Exército, que estava acompanhado de sua mulher.
O depoimento foi dado ao DAC
(Departamento de Aviação Civil),
que abriu inquérito interno
-chamado de "avaliação de procedimentos"- para apurar a informação publicada pelo jornalista Elio Gaspari, na Folha de domingo, sobre a possível "carteirada" do general para embarcar no
vôo, mesmo tendo chegado entre
15 e 20 minutos antes da decolagem. O prazo exigido é de uma
hora antes, e o avião já estava lotado, com a porta fechada.
Segundo o depoimento de Bezerra, quem fez o check-in do general e de sua mulher foi um sargento de nome Santos, às 17h10,
quando o vôo estava marcado para 17h30. No meio da etiquetagem
de bagagens, o funcionário da
TAM Alejandro Viniegra Figueiroa mandou parar tudo, pois o
vôo estava lotado e fechado.
O general, segundo o depoimento, se negou a aceitar e alegou
que "tinha compromissos inadiáveis em Brasília" e deveria embarcar de qualquer jeito. O sub-oficial Agostine, que é fiscal do DAC
no aeroporto de Viracopos, acionou a torre pelo rádio e mandou
que os procedimentos de vôo, já
iniciados pela aeronave de prefixo
PTMZQ, com destino a Brasília,
fossem abortados.
Daniel ainda argumentou que
isso não era comum, mas Agostine avisou que era uma ordem e
que a situação envolvia "um militar de alta patente".
Nas palavras de Daniel, a ordem
foi clara: "Segura o avião!". Foi
atendida. O avião interrompeu o
taxiamento, enquanto a TAM negociava duas poltronas.
Os passageiros "voluntários"
foram o casal Erasmo Pinto Júnior e Sandra Oliveira, mas há
versões desencontradas sobre os
motivos. Há também divergências quanto à ocorrência de overbooking. A TAM nega, mas a Folha apurou que, segundo o inquérito, 16 passageiros com reservas
ficaram de fora.
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