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PESQUISA ELEITORAL
Resolução determina divulgação prévia dos bairros das entrevistas; empresas temem manipulação
TSE aumenta exigências para institutos
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto a verticalização de coligações tira o sono dos partidos,
outra decisão do Tribunal Superior Eleitoral preocupa os institutos de pesquisa. Agora, ao registrar seus levantamentos de intenção de voto no TSE, eles têm de
indicar municípios e bairros em
que serão feitas as entrevistas.
Instituída na resolução de número 20.950, que reúne instruções sobre o uso de pesquisas no
pleito deste ano, a exigência veio
se juntar a uma lista de informações que os institutos são obrigados a apresentar até cinco dias antes da divulgação dos resultados
(leia quadro à direita).
A novidade não constava do
texto original da instrução, elaborado pelo ministro Fernando Neves. Foi sugerida pelo advogado
Hélio Parente Filho, representante do PPS em uma audiência com
partidos realizada no tribunal em
novembro passado.
Na defesa de sua proposta, Parente Filho argumentou que a revelação prévia de municípios e
bairros permitiria aferir melhor a
confiabilidade dos resultados.
Para ele, os dados que já eram
exigidos -ponderação da amostra quanto a sexo, idade, escolaridade e renda dos entrevistados-
não são suficientes.
"Nas cidades grandes, um candidato pode estar bem em um
bairro e mal em outro", diz o advogado. A concentração da amostra em áreas de "perfil semelhante" criaria distorção e poderia favorecer determinado nome.
Acolhida pelo relator Neves e
aprovada pelos demais ministros
do TSE, a sugestão entrou no texto final, datado de 13 de dezembro, com uma atenuante.
Parente Filho chegara a recomendar que os institutos informassem também os nomes das
ruas onde são aplicados os questionários, o que foi rejeitado.
Tanto o advogado quanto o relator defendem que a nova exigência será benéfica ao processo
eleitoral, obrigando os institutos a
diversificar suas amostras.
"Quem vai analisar os dados da
pesquisa a ser divulgada tem o direito de saber onde ela foi feita",
afirma Neves. "Ouvi partidos e
institutos. Ninguém demonstrou
interesse nesse ponto."
"Convite à intimidação"
Aí começa a divergência entre as
partes, pois os três institutos responsáveis pelo maior volume de
levantamentos eleitorais sustentam que não foram ouvidos. Ibope, Datafolha e Vox Populi dizem
ter recebido apenas, para conhecimento e eventuais sugestões, a
versão original da resolução.
Os três criticam o que foi aprovado. Para os dois primeiros, corre-se o risco de partidos e candidatos tentarem interferir no trabalho de campo e consequentemente nos resultados. Na avaliação do terceiro, a medida simplesmente não atende ao anunciado
propósito de aumentar a transparência das pesquisas.
"É um convite à intimidação",
diz Marcia Cavallari, diretora do
Ibope Opinião. Ela não vê sentido
em entregar aos partidos, antecipadamente, informações que eles
já têm o direito de requerer uma
vez divulgados os resultados. "O
problema é avisar antes", acredita. "Serve apenas para fragilizar a
metodologia dos institutos."
Mauro Paulino, diretor-geral do
Datafolha, concorda e acrescenta
outra objeção. "Cada instituto
tem sua estratégia de coleta de dados", afirma. "A mudança tolhe a
liberdade de cada um construir
sua amostra." Segundo ele, a análise do histórico da empresa e a
comparação de resultados concorrentes são instrumentos melhores para aferir confiabilidade.
O ministro do TSE e o advogado
do PPS minimizam o receio de
que as campanhas, de posse de informações estratégicas, desloquem seus militantes para locais
em que há probabilidade de visita
dos entrevistadores.
Ainda que isso venha a ocorrer,
argumenta Neves, os dados estarão disponíveis para todos os partidos. Eventuais distorções seriam
"neutralizadas" pela ação de campanhas rivais. Parente Filho não
acredita que os partidos tenham
tal capacidade de mobilização.
Marcos Coimbra, diretor do
Vox Populi, também não. Para
ele, mais que ameaçadora, a medida é inócua e quase impossível
de ser executada. Inócua porque
as informações exigidas estariam
longe de medir a representatividade de uma pesquisa de alcance
nacional. "São amostras feitas por
estratificação sócio-econômica e
equilibradas demograficamente.
A importância da dimensão bairro é quase nenhuma", diz.
E difícil de ser posta em prática
porque boa parte dos municípios
brasileiros nem sequer dispõe de
cadastro de bairros. Coimbra
acha que a mudança servirá apenas para engordar a papelada do
registro -uma pesquisa nacional
costuma abranger mais de 150
municípios- e como pretexto
para políticos "interessados em
fazer jogo de cena".
Segundo Marcio Boiajion, diretor-executivo da Anep (Associação Nacional de Empresas de Pesquisas), a entidade estuda meios
para recorrer da medida. É prevista multa de até R$ 106.410,00 para
quem divulgar pesquisa sem o registro das informações exigidas.
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