UOL

São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MATO GROSSO

Organização de acusado de liderar crime organizado lavaria dinheiro para quadrilhas, segundo Ministério Público

Ações de Arcanjo se estenderiam a 5 Estados

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O crime organizado em Mato Grosso tem ramificações em cinco Estados brasileiros, segundo o Ministério Público Federal, e lavaria dinheiro para outras organizações criminosas do país.
"Nós temos essa impressão, porque a movimentação bancária é muito grande, mais de R$ 500 milhões, sem declaração de Imposto de Renda. E as empresas, entre aspas lícitas, não têm aporte para a movimentação", afirmou o procurador da República em Cuiabá, Pedro Taques, que conduz as investigações com o objetivo de desmontar o esquema.
Taques se refere aos negócios do "comendador" João Arcanjo Ribeiro, 51, acusado de ser o líder do crime organizado em Mato Grosso e de sonegar da Receita Federal R$ 842 milhões. Com prisão decretada, Arcanjo está foragido desde dezembro.
A quadrilha dele teria ligações com a exploração de máquinas caça-níqueis em Minas Gerais, no Paraná (Londrina) e no Rio de Janeiro, onde ainda manteria laços com o jogo do bicho -atividades que Arcanjo comandaria também em Mato Grosso. Na Paraíba, o "comendador" estaria no ramo de bingos.
João Arcanjo também é acusado pelo Ministério Público de participação no assassinato do empresário Sávio Brandão de Lima Júnior, dono do jornal "Folha do Estado", de Cuiabá, que foi morto no ano passado (leia texto nesta página).

Fora do país
Arcanjo, segundo denúncia do procurador, usou empresas "offshore" (com sede virtual em paraíso fiscal) no Uruguai e a antiga agência do Banestado (Banco do Estado do Paraná) em Nova York para lavar dinheiro.
Em uma semana, em 1996, foram enviados ao Banestado, por meio das contas CC-5 (de não-residentes), R$ 5 milhões, informou Pedro Taques.
A quantia é pequena em relação ao patrimônio de Arcanjo, que, segundo o procurador, chega a R$ 500 milhões. Os bens do "comendador" estão indisponíveis.
O Ministério Público Federal suspeita que a quantia enviada ao Banestado seja muito maior, devido ao patrimônio que Arcanjo possui nos Estados Unidos.
Ele é dono de 55% de um hotel em Orlando, na Flórida (EUA), avaliado em US$ 40 milhões. Esse valor foi informado à Justiça pelo contador Luiz Alberto Dondo Gonçalves, que trabalhava para Arcanjo e está preso desde dezembro.

Empréstimos
Gonçalves informou ainda que "em 1997 ou 1998 Arcanjo enviou para o exterior R$ 1.150.300 por meio de conta CC-5".
Essa quantia foi usada para pagar um empréstimo ao BankBoston, afirmou o contador. A informação bate com uma das rotas de lavagem de dinheiro identificada pelo promotor de Justiça Mauro Zaque de Jesus.
"Transferências de criminosos internacionais viraram empréstimos de R$ 644 mil e R$ 650 mil para a empresa de Arcanjo no Uruguai, chamada Aveyron, que depositou o dinheiro no BankBoston e autorizou empréstimos das mesmas quantias para a Confiança Fomento Mercantil, de Arcanjo em Mato Grosso", afirmou o promotor.
O Ministério Público denuncia que essa última empresa de Arcanjo sonegou R$ 500 milhões da Receita Federal. Em março de 2001, o empreendimento foi transferido para a "offshore" Lyman, no Uruguai, que também pertenceria ao "comendador".



Texto Anterior: Alckmin pretende taxar inativos
Próximo Texto: Outro lado: Advogado afirma que não há provas contra "comendador"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.