São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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MENSALÃO/ O RELATÓRIO

Senador rebate ataques de petistas e afirma que relatório paralelo do partido "seria tiro no pé" da sigla, porque envolveria o presidente Lula

Delcídio diz que não foi eleito presidente da CPI para defender o PT

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de atropelar seu partido, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou ontem que não foi eleito presidente da CPI dos Correios para defender o PT. Ele está sendo atacado por seus correligionários devido à forma como conduziu a votação do relatório final da comissão, aprovado por 17 votos a 4, em uma sessão que durou menos de meia hora.
"Não fui eleito presidente para defender o PT e nenhum outro partido da base", disse ele, ao lado do relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
O relatório pediu o indiciamento de mais de cem pessoas, entre elas os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo). O documento afirma que o mensalão existiu e que foi abastecido com dinheiro público. O relator, no entanto, poupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao dizer que não há provas de que ele foi omisso em relação ao esquema.
Contrariado com o teor do texto, a bancada do PT apresentou um relatório paralelo no qual negava o mensalão e cancelava os pedidos de indiciamento de caciques petistas. O documento também atribuía a "gênese" do "valerioduto" ao PSDB mineiro.
Para Delcídio, o PT errou a estratégia ao apresentar um substitutivo e seria prejudicado se o documento fosse aprovado. "Seria um tiro definitivo no pé do partido e em outras pessoas. Eu fico pasmo de ver a dimensão que a discussão tomou", disse ele.
O presidente da CPI estava se referindo ao presidente Lula, que segundo ele seria o principal atingido caso o PT derrubasse o relatório original para votar o paralelo. De acordo com Delcídio, o primeiro voto em separado na fila para ser apreciado era o do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que pedia o indiciamento do presidente da República por crime de responsabilidade. "O Lula estava sendo conduzido pelo PT para dentro do processo", afirmou.
Serraglio disse ainda que, ao afirmar que os repasses feitos a deputados eram caixa dois, e não compra de apoio parlamentar, o relatório paralelo estava concluindo, na sua opinião, que a campanha do presidente Lula teria sido beneficiada pelo esquema, já que os pagamentos foram feitos durante o seu mandato.
Apesar da atitude adotada pelo PT, o relator afirmou que não sofreu pressão do governo. "O governo Lula nunca interferiu na minha investigação. Ele tem lá os seus defeitos, como a gente vê, mas isso não fez", disse Serraglio.
Tanto Delcídio quanto Serraglio afirmaram que a bancada do PT não queria negociar mudanças no texto, e sim atrasar a votação para que não desse tempo de aprovar um relatório até a próxima segunda-feira, quando termina o prazo de funcionamento da CPI.
Serraglio passou o dia da votação, que começou às 18h, reunido com parlamentares do PT tentando alterar a redação do texto de forma a agradá-los, desde que não alterasse a estrutura do relatório -no caso a existência do mensalão e o fato do esquema ter sido abastecido por meio da Visanet.
"Chegou um momento em que eu disse: "tenho a maior confiança em vocês, mas tem alguma coisa errada. Não vamos chegar a lugar nenhum assim. Acho que vocês estão cozinhando o tempo e me enrolando", disse o relator.


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