São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO

Para a Polícia Federal, o ex-ministro da Fazenda e o ex-presidente da Caixa combinaram versões antes de prestar depoimento

Palocci age para evitar acareação na PF

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao saber que a Polícia Federal pretendia fazer uma acareação entre ele e Jorge Mattoso, o ex-ministro Antonio Palocci enviou um recado à cúpula do governo em forma de ameaça: sente-se massacrado e não gostaria de ficar frente a frente com o ex-presidente da Caixa Econômica Federal.
A PF (Polícia Federal) suspeita que Palocci e Mattoso combinaram suas versões para os depoimentos que prestaram a respeito da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Pela combinação, Mattoso não diria que recebeu diretamente de Palocci a ordem para violar o sigilo, dando ao ex-ministro a chance de tentar se livrar de eventual condenação penal por falta de provas.
Nesse contexto, a cúpula da PF planejava fazer uma acareação entre os dois, como informou ontem a Folha. Essa decisão foi comunicada ao Palácio do Planalto. Um membro da cúpula do governo disse às 18h30 de ontem que ela estava mantida. A ameaça de Palocci, que poderia fazer revelações incômodas para o governo, preocupou o Planalto. Mattoso também enviou recado de que não gostaria da acareação. O governo teme retaliações de ambos.
Com a divulgação da informação de que seria feita a acareação entre Palocci e Mattoso, o delegado que conduz a investigação, Rodrigo Carneiro Gomes, teria ficado contrariado. Ontem, a PF, por meio de sua assessoria de imprensa, negou que haverá acareação.
Nos últimos dias, a PF negou que seriam prestados depoimentos que acabaram sendo tomados e participou de uma operação de despiste da imprensa montada por advogados de Palocci para tomar o depoimento do ex-ministro na terça-feira. Oficialmente, a PF informava que o depoimento aconteceria no dia seguinte. A PF diz que só aceitou a antecipação porque os advogados de Palocci ameaçavam adiar o depoimento.
A Folha apurou que Palocci faz pressão nos bastidores para, na expressão de um petista, "ter uma saída". Como Palocci negou ter dado a ordem de violação do sigilo e Mattoso disse que lhe deu o extrato, a acareação serviria para que, frente a frente, o delegado Gomes pudesse esclarecer quem foi o mandante da quebra ilegal do sigilo bancário de Francenildo.

Imagens da Caixa
A PF recebeu as imagens do sistema de segurança e os livros que registram as entradas e saídas do edifício sede da Caixa em Brasília. Em análise preliminar, os filmes e documentos não revelam um possível envolvimento de outros personagens na violação do sigilo.
O inquérito, instaurado há pouco mais de 15 dias, está com 300 páginas. Segundo a PF, está aberta a possibilidade de que pessoas já ouvidas voltem a falar espontaneamente -o que vale para o jornalista Marcelo Netto, ex-assessor de imprensa de Antonio Palocci.
Ao se apresentar para depor, anteontem, o jornalista usou do direito de permanecer calado quando informado de que seria ouvido na condição de investigado. Na ocasião, seu advogado, Eduardo Toledo, disse que seu cliente poderia se apresentar em outra oportunidade, tão logo a defesa tivesse acesso ao inquérito.
Até a conclusão desta edição, a Justiça Federal em Brasília ainda não havia se pronunciado sobre as quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático apresentadas pela PF e pelo Ministério Público.


Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília


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