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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO
Para a Polícia Federal, o ex-ministro da Fazenda e o ex-presidente da Caixa combinaram versões antes de prestar depoimento
Palocci age para evitar acareação na PF
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao saber que a Polícia Federal
pretendia fazer uma acareação
entre ele e Jorge Mattoso, o ex-ministro Antonio Palocci enviou um
recado à cúpula do governo em
forma de ameaça: sente-se massacrado e não gostaria de ficar frente a frente com o ex-presidente da
Caixa Econômica Federal.
A PF (Polícia Federal) suspeita
que Palocci e Mattoso combinaram suas versões para os depoimentos que prestaram a respeito
da violação do sigilo bancário do
caseiro Francenildo Costa. Pela
combinação, Mattoso não diria
que recebeu diretamente de Palocci a ordem para violar o sigilo,
dando ao ex-ministro a chance de
tentar se livrar de eventual condenação penal por falta de provas.
Nesse contexto, a cúpula da PF
planejava fazer uma acareação
entre os dois, como informou ontem a Folha. Essa decisão foi comunicada ao Palácio do Planalto.
Um membro da cúpula do governo disse às 18h30 de ontem que
ela estava mantida. A ameaça de
Palocci, que poderia fazer revelações incômodas para o governo,
preocupou o Planalto. Mattoso
também enviou recado de que
não gostaria da acareação. O governo teme retaliações de ambos.
Com a divulgação da informação de que seria feita a acareação
entre Palocci e Mattoso, o delegado que conduz a investigação, Rodrigo Carneiro Gomes, teria ficado contrariado. Ontem, a PF, por
meio de sua assessoria de imprensa, negou que haverá acareação.
Nos últimos dias, a PF negou
que seriam prestados depoimentos que acabaram sendo tomados
e participou de uma operação de
despiste da imprensa montada
por advogados de Palocci para tomar o depoimento do ex-ministro na terça-feira. Oficialmente, a
PF informava que o depoimento
aconteceria no dia seguinte. A PF
diz que só aceitou a antecipação
porque os advogados de Palocci
ameaçavam adiar o depoimento.
A Folha apurou que Palocci faz
pressão nos bastidores para, na
expressão de um petista, "ter uma
saída". Como Palocci negou ter
dado a ordem de violação do sigilo e Mattoso disse que lhe deu o
extrato, a acareação serviria para
que, frente a frente, o delegado
Gomes pudesse esclarecer quem
foi o mandante da quebra ilegal
do sigilo bancário de Francenildo.
Imagens da Caixa
A PF recebeu as imagens do sistema de segurança e os livros que
registram as entradas e saídas do
edifício sede da Caixa em Brasília.
Em análise preliminar, os filmes e
documentos não revelam um
possível envolvimento de outros
personagens na violação do sigilo.
O inquérito, instaurado há pouco mais de 15 dias, está com 300
páginas. Segundo a PF, está aberta
a possibilidade de que pessoas já
ouvidas voltem a falar espontaneamente -o que vale para o jornalista Marcelo Netto, ex-assessor
de imprensa de Antonio Palocci.
Ao se apresentar para depor,
anteontem, o jornalista usou do
direito de permanecer calado
quando informado de que seria
ouvido na condição de investigado. Na ocasião, seu advogado,
Eduardo Toledo, disse que seu
cliente poderia se apresentar em
outra oportunidade, tão logo a
defesa tivesse acesso ao inquérito.
Até a conclusão desta edição, a
Justiça Federal em Brasília ainda
não havia se pronunciado sobre
as quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático apresentadas pela
PF e pelo Ministério Público.
Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília
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