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Governo de Rondônia teme novo massacre em reserva
Estado afirma que há 1.500 pessoas trabalhando ilegalmente em área indígena
PF e Funai consideram exagerada a estimativa; um dos índios indiciado pela morte de 29 garimpeiros em 2004 foi preso com munição
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
Três anos após índios terem
matado 29 garimpeiros que extraíam ilegalmente diamantes
na reserva indígena Roosevelt,
a pedra ainda é explorada dentro da terra dos cintas-largas.
Ofício da Secretaria da Segurança Pública de Rondônia enviado à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Estado afirma que existem 1.500 pessoas
trabalhando irregularmente
dentro da área.
O governo afirma que o fluxo
de gente para a região aumentou nos últimos meses, o que
eleva a "preocupação que tal fato [o massacre] venha a ocorrer
novamente", diz o documento.
A Polícia Federal, responsável pela fiscalização da reserva,
confirma a existência de invasores, mas afirma que, hoje,
eles não passam de cem.
No dia 23 de março, quando
foi feita a última varredura aérea da área, foram vistos ao menos 40 homens em diferentes
clareiras, além de duas pás carregadeiras -máquinas usadas
para remover grandes quantidades de terra.
"Desde o massacre, o número
de pessoas lá dentro nunca passou de 300", disse Mauro Sposito, delegado da PF. Para ele,
apesar da dificuldade de impedir a entrada de garimpeiros e
do "risco latente" de conflitos
entre não-índios e indígenas, a
retirada de diamantes está
"quase parada" se comparada
com a época das mortes.
"Mas tirar todo mundo de lá é
a mesma coisa que subir o morro da Rocinha e prender todos
os traficantes", afirmou.
A reserva dos 1.300 cintas-largas tem 2,7 milhões de hectares, 18 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
O presidente da Funai (Fundação Nacional do índio), Márcio Meira, disse que a área é alvo de uma "pressão permanente" desde 2004 e que a função
da entidade é "acalmar os índios". Ele considera que o número de 1.500 garimpeiros é
"um certo exagero".
A reportagem não conseguiu
localizar nenhuma liderança
cinta-larga. Nacoça Pio Cinta
Larga, um dos principais líderes da etnia e indiciado por participação nas 29 mortes de 7 de
abril de 2004, foi preso no mês
passado sob a acusação de levar
para a aldeia, sem autorização,
munição para arma de fogo.
O juiz, o promotor e o delegado de Espigão D'Oeste (RO), cidade mais próxima da reserva,
confirmaram à Folha a presença de exploradores na área.
A informações vêm principalmente dos depoimentos de
"rodados", nome dado aos homens que vão até a cidade tentando chegar ao garimpo e que,
por não terem dinheiro para
bancar a incursão na selva, vagam pelas ruas de Espigão. Para todas as autoridades ouvidas, o número de "rodados"
cresceu nos últimos meses.
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