|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO MENSALÃO /ARQUIVO VIVO
Ex-dirigente diz ao jornal "O Globo" que esquema pretendia arrecadar R$ 1 bilhão
Silvio Pereira fala e complica governo na teia do mensalão
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase um ano depois de desvendado o esquema do mensalão,
o ex-secretário-geral do PT Silvio
Pereira traz novamente a crise do
governo Lula para o centro das
atenções. Ao conceder entrevista
ao jornal "O Globo", publicada na
edição de hoje, Silvio dá mais
detalhes sobre as ligações do PT
com o empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza para arrecadar recursos à legenda.
Segundo o ex-secretário, dirigentes do PT e Marcos Valério
traçaram um plano ousado: arrecadar R$ 1 bilhão. Inicialmente,
diz Silvio Pereira, consideravam
que os recursos poderiam ser
obtidos a partir de negociatas que
envolveriam bancos em processo
de liqüidação no Banco Central
(Econômico, Mercantil de Pernambuco e Opportunity).
Na segunda-feira, a CPI dos
Bingos vai expedir ofício convocando Silvio Pereira a prestar depoimento no Senado. Ele poderá
ser ouvido na quarta-feira.
Apesar de afirmar que quem
mandava no PT e intermediava o
contato com empresários em busca de arrecadação era um grupo
seleto -o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o ex-ministro José
Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o senador Aloizio
Mercadante-, Silvio Pereira não
responsabiliza nenhum deles por
corrupção nem os liga ao esquema de Valério.
Ao contrário, menciona até que
Dirceu não recebia o empresário.
No PT, Silvio Pereira era ligado ao
ex-ministro. Quando se imaginava que o rombo do PT era de R$
55 milhões (dinheiro que o partido teria obtido via Marcos Valério), Silvio surpreende ao revelar
que, no fim de 2003, a dívida da legenda era de R$ 120 milhões.
Uma das novidades reveladas
por Silvio é que o esquema envolveria uma espécie de consórcios
de empresas, ligadas a Valério,
que agiam em conluio para fraudar licitações no governo.
A CPI dos Correios constatou
ilegalidades em licitações na ECT
(Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos), mas não investigou
licitações de outras estatais. Os lucros das operações, segundo insinua o ex-secretário, eram distribuídos para partidos, como o PT,
o PTB e outros da base aliada.
O ex-petista afirma na entrevista a "O Globo" que procurou a
atual direção do PT para fornecer
tais informações. Procurado pela
Folha, o presidente nacional da
legenda, Ricardo Berzoini, desqualificou Silvio Pereira: "Não levo muito a sério esse cidadão. Ele
não merece o meu respeito.
Quem fez o que ele fez mostra que
não tem caráter. Perder o sábado
por causa disso é bobagem".
Depois de ler a entrevista, Berzoini disse que Silvio nunca o procurou para falar sobre o mensalão
e que o ex-secretário-geral está
"desequilibrado". Considerou a
entrevista "de baixa relevância".
Para Berzoini, Silvio denota
"mágoa" por sua situação partidária. "A entrevista é confusa, desequilibrada, mostra uma pessoa
magoada, que se sente prejudicada por sua situação no partido.
Parece que falou sem medir."
Berzoini disse que o PT não tem
por que se opor ao depoimento de
Pereira à CPI dos Bingos.
Outra revelação de Silvio Pereira é que a direção do PT, no ano
passado, procurou Valério para
propor um acordo logo depois
que o escândalo estourou. O empresário teria dito que ou contava
tudo e derrubava a República, ou
contava parcialmente, ou seria assassinado, como PC Farias
(tesoureiro de Fernando Collor).
Silvinho, como é chamado pelos
colegas petistas, deu claros sinais
de que está psicologicamente abalado (leia texto ao lado). Há trechos contraditórios na entrevista,
sobretudo quando fala da responsabilidade dos dirigentes do partido. Para a oposição, o ex-secretário liga Lula diretamente ao esquema e deixa claro que o presidente sabia de tudo.
Os petistas rejeitam essa tese e
acham que fica claro na entrevista
que o presidente não teve conhecimento das tramas da antiga direção partidária.
"Não vejo nenhuma novidade
nessas declarações. A idéia de que
poderia haver uma meta de arrecadação eu acho uma coisa completamente fantasiosa. Basta um
mínimo de raciocínio elementar.
É absolutamente inviável qualquer partido traçar uma perspectiva nessa direção [R$ 1 bilhão]",
disse Mercadante.
A Folha apurou que, segundo
avaliação da cúpula do PT, o ex-secretário mistura fatos verdadeiros com ficção, de forma desconexa e fragmentada. Ainda assim, os
petistas temem a volta da crise e
implicações na campanha de reeleição de Lula.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Ex-dirigente diz que pode ser morto por falar Índice
|