São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Vítima de leucemia, Enéas morre no Rio aos 68 anos

Três vezes candidato ao Planalto, foi eleito à Câmara com 1,57 mi de votos em 2002

De família pobre, chegou a simpatizar com o PCB na época em que estudava na faculdade, mas depois se tornou ultranacionalista

Jorge Araújo - 3.mar.2000/Folha Imagem


DA SUCURSAL DO RIO

Enéas Carneiro (PR-SP), 68, o deputado federal mais votado em números absolutos na história do País (1,57 milhão de votos em 2002), morreu ontem às 14h no Rio de falência múltipla dos órgãos decorrente de uma leucemia. Era médico cardiologista, professor universitário e parlamentar desde 2003.
A Câmara suspendeu a sessão de hoje e manterá a bandeira nacional a meio-mastro. Segundo o líder do PR na Câmara, Luciano Castro, Enéas estava doente desde o início de 2006. Ele fazia sessões de quimioterapia e vinha de uma série de internações para combater o câncer. Adriana Lorendi, ex-mulher de Enéas, disse que ele acreditava que a quimioterapia não estava surtindo efeito e desistiu das sessões. Há cinco dias, os médicos o autorizaram a ficar em casa. O velório será no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, das 9h às 16h.
"Ele vinha em uma luta muito grande contra a doença. Foi uma grande perda. Ele foi uma figura de renome nacional. Lamento que não tenha chegado a vivenciar o partido [PR] que ajudou a criar", disse Castro. No ano passado, ele aceitou a fusão do Prona com o PL.
Em abril de 2006, causou surpresa na Câmara ao aparecer sem sua barba negra, após três semanas em licença médica: "Perdi minha barba, mas, com ajuda de Deus, estou vivo". E atualizou o slogan: "O importante é que, com barba ou sem barba, meu nome é Enéas".
Enéas ostentava a barba longa e óculos de aros escuros desde 1989, quando concorreu pela primeira vez à Presidência como candidato do partido que criou, o Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional). Com 15 segundos por inserção, concluía suas mensagens rapidamente, finalizando com o bordão "Meu nome é Enéas!".
Simpatizante do PCB na juventude, dizia ter se afastado do marxismo depois que Jacques Monod, Prêmio Nobel de Medicina em 1965, "provou que o funcionamento das moléculas de RNA e DNA não era previsto pelo materialismo dialético". Dizia anular o voto desde que Jânio Quadros o "decepcionou" e que o golpe de 1964 não afetou o "cidadão comum".
Ficou conhecido pelas posições ultranacionalistas. Criticava Lula por ignorar a "bauxita refratária". Em 1998 defendeu a fabricação da bomba atômica, "para sermos respeitados". Após três tentativas frustradas de se eleger presidente, em 2002 teve votação recorde para a Câmara, elegendo sozinho outros cinco deputados. Só um ficou no partido -os demais foram acusados de envolvimento com os sanguessugas.
Em 2003, teve os sigilos bancário e fiscal quebrados pela Justiça sob acusação de ter vendido candidaturas nas chapas do Prona e foi acusado de embolsar verbas de custeio da Câmara. Negava as acusações.
Como parlamentar, teve atuação apagada -só apresentou dois projetos de lei- e acabou reeleito com votação bem mais modesta: 386.905 votos.


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