São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Crise no PTB adia anúncio de companheiro de chapa de ex-ministro

Força Sindical ameaça tirar apoio a Ciro por causa de vice

ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DO PAINEL

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Frente Trabalhista adiou para amanhã a definição sobre o vice de Ciro Gomes (PPS) após a Força Sindical ameaçar retirar seu apoio ao presidenciável caso seu presidente, Paulo Pereira da Silva (PTB), não seja indicado à chapa.
Partidários do sindicalista, diante da notícia de que a ex-vereadora Sônia Santos (PTB) era anteontem a favorita para o cargo, reagiram prometendo retirar até mesmo os 200 ônibus de sindicatos da central que já anunciaram presença na convenção da frente, na segunda-feira, em São Paulo.
Sem a Força, o presidenciável perderia o potencial apoio de 1.600 sindicatos que reúnem cerca de 14 milhões de trabalhadores em todo o Brasil. A central sindical conta ainda com um orçamento anual médio de R$ 2,4 milhões.
Na tentativa de reverter o jogo a favor de Paulinho, também foi cogitada a realização de uma votação para a escolha do vice no dia da convenção. A iniciativa causaria um embaraço político ao encontro, marcado, a princípio, apenas para festejar a homologação da chapa encabeçada por Ciro.
O líder sindical, segundo a Folha apurou, disse à frente que não pretendia disputar a indicação e que retiraria sua candidatura.
Afirmou ainda que também abriria mão da vaga caso a escolha fosse adiada para a próxima semana, conforme sugestão feita por integrantes da frente, e prometeu apenas manter seu apoio pessoal ao ex-ministro.
De pouca expressão política, o nome de Sônia cresceu anteontem, um dia depois de a indicação de Paulinho ter sido dada como certa dentro do PTB.
Um pedido do presidente do PDT, Leonel Brizola, para que a escolha fosse adiada e uma pesquisa apontando Sônia com intenção de votos superior à do sindicalista serviram de pretexto para que a indicação da ex-vereadora fosse cacifada pelo PTB.
De acordo com petebistas e com o PPS, teriam sido duas as razões para a mudança de opinião de líderes do PTB sobre Paulinho. A primeira delas, o fato de o sindicalista ter se apresentado como virtual vice de Ciro a Brizola antes de um encontro formal com o presidente de seu partido, o deputado José Carlos Martinez.
A orientação, dada a Paulinho pelo próprio Ciro, teria sido desrespeitada por problemas envolvendo a agenda de Martinez.
O segundo motivo seria a intenção da cúpula do PTB de indicar para a composição da chapa um candidato sobre o qual pudesse exercer maior influência.

Mulher x desempregados
Com o impasse, Martinez viajou a São Paulo para uma reunião de emergência com o presidente do PTB local, Campos Machado, um dos maiores entusiastas da indicação do líder sindical.
No encontro, contra a tese de Martinez de que Sônia era eleitoralmente mais viável, Machado argumentou, segundo a Folha apurou, que, além de ser de São Paulo e de integrar o diretório estadual petebista do maior colégio eleitoral do país, o sindicalista exerceria o papel de representante dos desempregados na chapa.
""Mulher por mulher, já temos a Patrícia Pillar", disse Machado a interlocutores, em uma referência à atriz e namorada de Ciro.
A ameaça da Força foi levada a Ciro. A Folha apurou junto a interlocutores do presidenciável que o ex-ministro não quer interferir no que considera uma disputa interna do PTB. Por isso, pretende que o partido se entenda até amanhã antes de tomar qualquer atitude em relação ao caso.

Adesivos
Na Força, a certeza da indicação de Paulinho como vice levou a central sindical a criar modelos de adesivos que incluíam o nome do sindicalista ao lado do de Ciro.
Integrantes da central afirmaram ainda que o presidente da Força chegou a telefonar na segunda-feira para o presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem é amigo, para anunciar que deveria ser o escolhido.
Paulinho é o vice preferido do PPS e do presidente da sigla, senador Roberto Freire. E, mesmo não sendo o nome dos sonhos de Brizola, também não sofre vetos por parte do pedetista, que tem dito apenas que preferiria não "se precipitar" sobre o assunto.
"Os dois nomes merecem apreço. Ele é um sindicalista jovem, de muito futuro. Ela [Sônia] é uma mulher ativa e militante credenciada", declarou Brizola à Folha.

Inquérito
Após palestra para universitários nas Faculdades Metropolitanas Unidas (UniFMU), em São Paulo, Ciro afirmou ontem que, caso eleito, determinará a abertura de inquérito para apurar a atuação do Bank of America.
"No dia em que assumir, esse banco vai responder a inquérito por manipular informação privilegiada. Vai pagar por isso de acordo com as penas brasileiras porque aqui não é um país das bananas", disse, em referência às pesquisas de opinião encomendadas pelo banco.
Segundo ele, a Comissão de Valores Mobiliários seria responsável pela apuração. A assessoria do banco afirmou que a instituição não comentaria o assunto.


Colaborou LIEGE ALBUQUERQUE, da Reportagem Local



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