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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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MINISTÉRIO PÚBLICO

Procurador-geral diz que rótulo foi criado porque políticos queriam usá-lo como instrumento de pressão

"Engavetador" é apelido injusto, diz Brindeiro

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, 54, disse que é "uma injustiça" o apelido que recebeu de "engavetador-geral da República". Ele afirmou que o rótulo foi criado porque políticos queriam usá-lo como "instrumento de perseguição".
Exemplo disso seria o chamado Dossiê Caribe, que incriminaria o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e se revelou "uma falsificação grosseira", disse.
Ele deixará o cargo no próximo dia 28, depois de ocupá-lo por oito anos, e será substituído por Cláudio Fonteles, indicado anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A seguir, trechos da entrevista dele à Folha:
 

Folha - Que balanço o sr. faz dos oito anos em que esteve no cargo de procurador-geral da República?
Geraldo Brindeiro
- Faço um balanço positivo. O Ministério Público se instrumentalizou de uma maneira muito importante para poder cumprir a sua missão constitucional, que é bem ampla. Realizamos oito concursos, mais do que dobrando o quadro de procuradores da República. Também melhoramos as instalações físicas, com a nova sede, e informatizamos a Procuradoria.

Folha - O sr. recebeu o apelido de "engavetador-geral da República" ainda no primeiro mandato (95/97) e deixará o cargo sem se livrar dele. Como vê esse rótulo?
Brindeiro
- Isso é uma injustiça, não só em relação a mim, mas em relação às pessoas que teriam sido beneficiadas. Por exemplo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no caso do Dossiê Caribe. Passaram quase três anos dizendo que eu tinha engavetado o processo contra ele, o governador Mário Covas ou o ministro Sérgio Motta [Comunicações]. O que ocorreu de fato foi uma grande farsa, uma falsificação grosseira. Eu requisitei a abertura de inquérito contra os falsificadores. É preciso ter em mente que não podemos, no Estado democrático de Direito, acusar as pessoas sem provas. A indignação é compreensível. Acho que, muitas vezes, era um desejo dos adversários políticos que eu fizesse perseguição contra alguém.
Fiz várias denúncias contra parlamentares depois cassados, como o ex-senador Luiz Estevão e os ex-deputados José Aleksandro e Hildebrando Paschoal.

Folha - O sr. decidiu arquivar 11 inquéritos criminais contra o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Isso gerou a especulação de que o sr. pretenderia ser reconduzido pelo presidente Lula para o quinto mandato.
Brindeiro
- Isso demonstra o equívoco dessas pessoas, que pensam que arquivar processos é por algum interesse. Sempre agi com independência e isenção.

Folha - O que o sr. achou da indicação do subprocurador-geral da República Cláudio Fonteles para o seu lugar?
Brindeiro
- Ele é um procurador de grande experiência. É o mais antigo da carreira, no momento. É também professor de direito penal e direito processual penal. Tem todas as condições de assumir a chefia do Ministério Público Federal. Tenho certeza de que se sairá muito bem.


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