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MINISTÉRIO PÚBLICO
Procurador-geral diz que rótulo foi criado porque políticos queriam usá-lo como instrumento de pressão
"Engavetador" é apelido injusto, diz Brindeiro
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, 54, disse
que é "uma injustiça" o apelido
que recebeu de "engavetador-geral da República". Ele afirmou
que o rótulo foi criado porque políticos queriam usá-lo como "instrumento de perseguição".
Exemplo disso seria o chamado
Dossiê Caribe, que incriminaria o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e se revelou "uma
falsificação grosseira", disse.
Ele deixará o cargo no próximo
dia 28, depois de ocupá-lo por oito anos, e será substituído por
Cláudio Fonteles, indicado anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A seguir, trechos da entrevista
dele à Folha:
Folha - Que balanço o sr. faz dos
oito anos em que esteve no cargo
de procurador-geral da República?
Geraldo Brindeiro - Faço um balanço positivo. O Ministério Público se instrumentalizou de uma
maneira muito importante para
poder cumprir a sua missão constitucional, que é bem ampla. Realizamos oito concursos, mais do
que dobrando o quadro de procuradores da República. Também
melhoramos as instalações físicas,
com a nova sede, e informatizamos a Procuradoria.
Folha - O sr. recebeu o apelido de
"engavetador-geral da República"
ainda no primeiro mandato (95/97)
e deixará o cargo sem se livrar dele.
Como vê esse rótulo?
Brindeiro - Isso é uma injustiça,
não só em relação a mim, mas em
relação às pessoas que teriam sido
beneficiadas. Por exemplo, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso no caso do Dossiê Caribe. Passaram quase três anos dizendo que eu tinha engavetado o
processo contra ele, o governador
Mário Covas ou o ministro Sérgio
Motta [Comunicações]. O que
ocorreu de fato foi uma grande
farsa, uma falsificação grosseira.
Eu requisitei a abertura de inquérito contra os falsificadores. É preciso ter em mente que não podemos, no Estado democrático de
Direito, acusar as pessoas sem
provas. A indignação é compreensível. Acho que, muitas vezes, era um desejo dos adversários
políticos que eu fizesse perseguição contra alguém.
Fiz várias denúncias contra parlamentares depois cassados, como o ex-senador Luiz Estevão e os
ex-deputados José Aleksandro e
Hildebrando Paschoal.
Folha - O sr. decidiu arquivar 11
inquéritos criminais contra o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Isso gerou a especulação de
que o sr. pretenderia ser reconduzido pelo presidente Lula para o
quinto mandato.
Brindeiro - Isso demonstra o
equívoco dessas pessoas, que
pensam que arquivar processos é
por algum interesse. Sempre agi
com independência e isenção.
Folha - O que o sr. achou da indicação do subprocurador-geral da
República Cláudio Fonteles para o
seu lugar?
Brindeiro - Ele é um procurador
de grande experiência. É o mais
antigo da carreira, no momento.
É também professor de direito penal e direito processual penal.
Tem todas as condições de assumir a chefia do Ministério Público
Federal. Tenho certeza de que se
sairá muito bem.
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