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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Governistas avaliam que as acusações de Roberto Jefferson contra o PT podem frustrar a tentativa de abafar investigações no caso dos Correios
CPI é agora fato consumado, dizem aliados
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A entrevista do presidente do
PTB, Roberto Jefferson (RJ),
transformou a instalação de uma
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) em um fato consumado, segundo avaliação de líderes
governistas na Câmara.
A peça que dá origem à CPI dos
Correios é considerada tecnicamente fraca, tanto por governistas como por alguns oposicionistas. Em compensação, com as novas denúncias, ficou mais difícil
derrubar a CPI no passo seguinte,
que seria o plenário.
"Na CCJ a decisão tende a ser
mais técnica, examinando a constitucionalidade e os aspectos técnicos, mas no plenário o voto tem
caráter mais político. No atual clima, é difícil convencer deputados
a se expor para matar a CPI", disse o líder do PP, José Janene (PR).
Há quem avalie que ainda é possível aprovar na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da
Câmara a inconstitucionalidade
do requerimento de CPI, uma vez
que o governo tem maioria folgada -ampliada com a substituição de deputados considerados
"independentes" por outros mais
fiéis ao Palácio do Planalto.
A CCJ analisa um recurso do vice-líder do governo João Leão
(PL-BA), que pede a derrubada da
CPI dos Correios por não ter um
"fato determinado". Isso significa
que seria ampla demais, propondo-se a investigar várias estatais.
Está marcado para hoje o início
da discussão do relatório sobre o
recurso, preparado pelo deputado Inaldo Leitão (PL-PB), que, alinhado com as pretensões governistas, deve aceitar o argumento
de Leão. O governo tem 40 dos 60
integrantes da CCJ.
A votação deve ocorrer só na semana que vem. A expectativa do
governo antes do final de semana
era de otimismo com a possibilidade de aprovar a inconstitucionalidade também no plenário,
uma vez que o quórum necessário
é apenas de maioria simples.
"A situação é muito complicada
politicamente. Em tese, a CPI dos
Correios trata de uma coisa, e a
acusação de mesada é outra. Na
prática, o ambiente político mudou. Isso se reflete na tentativa de
derrubar a CPI", afirmou o líder
do PSB, Renato Casagrande (ES).
O governo teme que uma CPI
dos Correios, ao ser instalada, rapidamente se preste a investigar
todo o governo federal.
Para Sandro Mabel, líder do PL
(GO), a entrevista de Jefferson à
Folha adicionou um novo elemento de confusão a um ambiente que já parecia controlado pelo
governo. "Vamos ter de reavaliar,
porque cada vez que acontece
uma coisa dessas, as coisas mudam radicalmente", afirmou.
Há também entre os governistas
partidários da opinião de que ainda é possível impedir a criação da
CPI. Um dos petistas credenciados pelo governo para comandar
a operação-abafa diz que a entrevista de Jefferson é menos ruim
do que parece. "Se conseguirmos
explicar o papel do presidente Lula, teremos então uma acusação
feita por um deputado isolado,
que não tem provas. O calor do
momento pode se dissipar."
Cresce ainda a defesa de que o
governo tome uma atitude simbólica forte nos próximos dias para passar a imagem de que está se
movimentando. "É preciso fazer
um pente fino nos cargos de nomeação política", diz Casagrande.
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