ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

"Um camarada que é acusado de extorsão em vários órgãos do governo ia dispensar uma mesada? Um mensalão? Ia exigir que fosse muito mais (..). Pegar a mesada dos colegas e pôr no bolso. Não combina que um cara que pratica extorsão possa dispensar mesada."
Foi dessa forma, irônica, que o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, respondeu à afirmação do deputado Roberto Jefferson, publicadas ontem pela Folha, de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava ""mensalão" de R$ 30 mil a parlamentares, em troca de apoio no Congresso, e que ele teria orientado seu partido a recusar a oferta.
Costa Neto acusou o presidente do PTB de tentar chantagear o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando disse tê-lo informado sobre o suposto comportamento de Delúbio.
"Ele (Jefferson) está acuado, e tenta chantagear o governo com alguma coisa. (...) É evidente que, se o presidente Lula tivesse tomado conhecimento, teria tomado providência. Tenho certeza de que Roberto Jefferson não falou nada do que disse ao presidente Lula. É conversa dele. Nunca falou disso com ninguém (...) Ele quer chantagear porque vai perder o mandato. Ameaça, pensando que vai levar alguma vantagem", prosseguiu Costa Neto.
Afirmou que o PL processará judicialmente Roberto Jefferson, por difamação e calúnia, por ter acusado parlamentares do PL de aceitarem a suposta mesada de Delúbio para votar a favor do governo. Adicionalmente, defendeu a abertura de um processo pela Corregedoria da Câmara, para investigar a denúncia.
Na entrevista publicada ontem pela Folha, Roberto Jefferson referiu-se a uma reunião entre os deputados federais Carlos Rodrigues, presidente do PL no Rio de Janeiro, Costa Neto e Pedro Henry (PP-MT), em que teriam pressionado José Múcio (PTB-PE) a aderir ao esquema do mensalão. A reunião, na versão de Jefferson, teria ocorrido em janeiro do ano passado.
Valdemar Costa Neto confirmou que teve uma reunião com José Múcio, Pedro Henry e Carlos Rodrigues, no período citado por Jefferson, mas sustentou que o encontro restringiu-se à discussão da reforma política, que estava sendo cogitada na ocasião.
""Não queria ir sozinho (à reunião), para não parecer que só eu mandava no partido. Levei o Carlos Rodrigues comigo, porque ele fazia parte da comissão da reforma política. Ele [Roberto Jefferson] só podia estar se referindo a esta reunião", afirmou.
Costa Neto negou que tenha existido o diálogo citado por Jefferson à Folha, quando um dos presentes, segundo as palavras de Jefferson, teria dito ao deputado Múcio: ""Que que é isso? Vocês não vão receber? Que conversa é essa? Vão dar uma de melhores que a gente?".
Segundo o presidente do PL, a denúncia de Jefferson implicaria que mais de 200 deputados teriam recebido dinheiro de Delúbio. Ele disse ser esta uma hipótese inverossímil. ""Estariam todos presos. (...) Você não controla. Tem deputado que briga com a mulher, outro que briga com o funcionário. É uma piada (a denúncia). Todo mundo sabe disso", disse.
Em nota, Costa Neto disse que o deputado petebista tenta envolver o PL e o governo nas práticas que ele, Roberto Jefferson, prestou ao governo Collor.


Texto Anterior: PPS decide recolher assinaturas para CPI
Próximo Texto: Severino diz que cabe CPI para investigar caso
Índice