São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Salmeron alegou que cargo pertencia ao PTB e pediu demissão da presidência da estatal; no Rio, delegado do Trabalho se afasta

Apadrinhado por Jefferson deixa Eletronorte

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Apadrinhado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) para ocupar a presidência da Eletronorte, Roberto Salmeron pediu demissão ontem do cargo que ocupava desde maio de 2004. Em seu lugar assume, interinamente, o presidente do conselho de administração da estatal e diretor de engenharia da Eletrobrás, Valter Cardeal, homem de confiança da ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia). Os demais afilhados políticos do petebista em estatais, porém, mantiveram suas funções.
O pedido de demissão de Salmeron, amigo pessoal de Jefferson, aconteceu no dia em que a Folha publicou entrevista na qual o presidente nacional do PTB afirmou que o PT paga um "mensalão" de R$ 30 mil para deputados do PL e do PP.
Salmeron justificou sua saída argumentando que o cargo pertencia ao partido, e não a ele. Ele é citado na gravação que revelou o esquema de corrupção nos Correios como sendo uma das "pessoas-chave" que atuariam a favor de Jefferson.
Na entrevista à Folha, Jefferson disse que Salmeron era como uma "rainha da Inglaterra" porque a ministra Dilma Rousseff preferia despachar com Ademar Palocci, irmão do ministro da Fazenda e diretor de engenharia da estatal.
A nomeação de Salmeron fez parte de uma estratégia política do governo, que tentava compor com o PMDB para evitar uma CPI no caso Waldomiro Diniz. O então presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, foi demitido e, em seu lugar, entrou Silas Rondeau, ligado ao então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), abrindo espaço para que o PTB ocupasse a presidência da estatal.
Salmeron fez um discurso para os funcionários da estatal na empresa, em Brasília, transmitido por videoconferência para os demais escritórios da estatal. Segundo a Folha apurou, ele elogiou funcionários, lembrou que o cargo era do PTB e não fez referências à crise política que começou com a divulgação da fita com o esquema de corrupção nos Correios, empresa da qual já foi vice-presidente.
À tarde, esteve com a ministra Dilma e entregou sua carta de demissão. No último dia 25, Salmeron já havia ensaiado um pedido de demissão, mas o PTB acabou desistindo de entregar o cargo.
Outros afilhados políticos de Jefferson não tiveram a mesma atitude. Na Embratur, Emerson Palmieri, diretor de administração e finanças, continuava na função até ontem à tarde. O mesmo ocorreu com o vice-presidente de logística da Caixa Econômica Federal, Carlos Alberto Cotta, o diretor de planejamento e gestão da Eletronuclear, Luiz Rondon, o diretor de operações logísticas da BR Distribuidora, Fernando Cunha, e o diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar, Alfredo de Almeida Cardoso.

Rio
Indicado pelo presidente nacional do PTB, o titular da Delegacia Regional do Trabalho do Rio, Henrique Barbosa de Pinho e Silva, pediu exoneração do cargo ontem após o jornal "O Globo" ter anunciado no domingo que ele estaria sendo investigado por suposta prática de prevaricação.
"Solicitei minha exoneração por entender que, diante das informações contidas na reportagem sobre a quebra de confiança da minha pessoa como titular deste órgão pelo poder central, em Brasília, mesmo infundadas e inverídicas sobre mim, não me restava outra atitude", disse, por e-mail.
Silva assumiu a delegacia em 11 de abril de 2003. Ele alegou que a investigação sobre prevaricação, aberta pelo Ministério Público Federal, começou a partir de supostas irregularidades cometidas pela funcionária Denise Ferreira Rocha Azevedo, que acabou punida. Na ocasião, ela foi flagrada pela TV Globo pedindo propina a uma empresa autuada pela delegacia.


Colaborou a Sucursal do Rio

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