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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Prefeito José Serra diz que a oposição não deve apostar no "quanto pior, melhor"
Tucanos pedem moderação e evitam citar impeachment
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa estratégia traçada na
noite de domingo - quando já
circulavam rumores sobre o teor
da entrevista de Roberto Jefferson
à Folha - e após a divulgação do
conteúdo na internet, o comando
do PSDB recomendou moderação na reação às denúncias. Ditada em telefonemas que incluíram
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a ordem é sugerir
investigação, inclusive a CPI, mas
sem alimentar o argumento do
governo de que a crise é produto
da antecipação das eleições.
Os tucanos, disse um deles, não
querem ser "bodes expiatórios"
da crise, nem acusados de golpismo. A avaliação é que, com os tremores na própria base aliada, a
oposição nem precisa ser incendiária. Ontem, o prefeito de São
Paulo, José Serra, e o governador
do Estado, Geraldo Alckmin, seguiram a orientação.
Serra disse que a oposição deve
se comportar com muita responsabilidade e não se deixar "dominar pela paixão e muito menos
pela idéia do quanto pior, melhor". Ele conta que leu a notícia à
noite na internet e ficou tão preocupado que teve dificuldade para
dormir: "Fiquei muito preocupado pela instabilidade que isso pode trazer para o Brasil".
Embora tenha afirmado que
"todos nós aguardamos as palavras do presidente Lula, que certamente vai dar as devidas explicações", Alckmin evitou atacar o
presidente diretamente. "Nós não
vamos colaborar para criar um
ambiente ainda mais tenso do que
estamos vivendo", disse.
Até o inflamado líder do PSDB
no Senado, Artur Virgílio (AM),
disse que esse não é um caso de
impeachment. E o secretário-geral do partido, Bismarck Maia
(CE), afirmou que "a determinação é acompanhar com cuidado,
exigir investigação, mas sem pirotecnia".
Alckmin voltou a defender a
CPI dos Correios. Mas ressaltou
que "tudo isso deve ser apurado
com serenidade, com isenção na
busca da verdade". Questionado
sobre o fortalecimento de seu nome para sucessão presidencial,
Alckmin -que em pesquisa Datafolha aparece disputando um
eventual segundo turno com Lula-, disse que "não tem nenhuma relação com candidatura.
Eleição é no ano que vem."
As declarações foram dadas na
manhã de ontem em São Paulo,
durante evento no Celex (Centro
de Logística da Exportação).
Alckmin esteve acompanhado
por Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que, no entanto,
não fez comentários sobre o pagamento dos "mensalões", afirmando que esteve fora do país nas últimas semanas e que só hoje, em
Brasília, se informaria sobre a situação.
Já Serra sugeriu que o governo
permita o curso das investigações.
"É espantoso, mas possível é. Eu
estive 16 anos no Congresso e
nunca vi nada parecido", disse, a
respeito do suposto esquema de
mesadas a parlamentares.
O prefeito comentou o assunto
durante a assinatura de um convênio com o Rotary Club de São
Paulo no prédio da prefeitura. Segundo Serra, a denúncia deve ser
investigada "de maneira correta,
completa e até o fundo das coisas". Para o prefeito, o caso não
chega a comprometer a governabilidade, mas "certamente não faz
bem à imagem do governo".
Em pesquisa Datafolha sobre
sucessão presidencial divulgada
no domingo, Serra aparece com
26% contra 36% do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A
margem de erro é de dois pontos
percentuais para mais ou menos.
A pesquisa Datafolha foi realizada
em todo o país nos dias 31 de maio
e 1º de junho.
PMDB
Em Salvador, o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB)
disse que o governo perdeu o controle da crise política. "As denúncias publicadas pela Folha são
muito graves, gravíssimas, e envolvem prevaricação por parte do
governo". De acordo com o parlamentar, "o que não podemos
aceitar é, sob o risco de manter a
governabilidade, a gente observar
o governo jogar toda a podridão
embaixo do tapete".
"Na entrevista à Folha, o deputado Roberto Jefferson disse que o
presidente Lula tinha conhecimento do caso. E sabemos que ele
não fez nada. E agora, o que temos
de fazer? Não existe outra alternativa, a não ser uma investigação
imediata, a não ser uma CPI. Não
podemos mais perder tempo com
tanta lama", disse.
(CATIA SEABRA, LUÍSA BRITO e VICTOR RAMOS)
Colaborou a Agência Folha, em Salvador
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