São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Prefeito José Serra diz que a oposição não deve apostar no "quanto pior, melhor"

Tucanos pedem moderação e evitam citar impeachment

DA REPORTAGEM LOCAL

Numa estratégia traçada na noite de domingo - quando já circulavam rumores sobre o teor da entrevista de Roberto Jefferson à Folha - e após a divulgação do conteúdo na internet, o comando do PSDB recomendou moderação na reação às denúncias. Ditada em telefonemas que incluíram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a ordem é sugerir investigação, inclusive a CPI, mas sem alimentar o argumento do governo de que a crise é produto da antecipação das eleições.
Os tucanos, disse um deles, não querem ser "bodes expiatórios" da crise, nem acusados de golpismo. A avaliação é que, com os tremores na própria base aliada, a oposição nem precisa ser incendiária. Ontem, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador do Estado, Geraldo Alckmin, seguiram a orientação.
Serra disse que a oposição deve se comportar com muita responsabilidade e não se deixar "dominar pela paixão e muito menos pela idéia do quanto pior, melhor". Ele conta que leu a notícia à noite na internet e ficou tão preocupado que teve dificuldade para dormir: "Fiquei muito preocupado pela instabilidade que isso pode trazer para o Brasil".
Embora tenha afirmado que "todos nós aguardamos as palavras do presidente Lula, que certamente vai dar as devidas explicações", Alckmin evitou atacar o presidente diretamente. "Nós não vamos colaborar para criar um ambiente ainda mais tenso do que estamos vivendo", disse.
Até o inflamado líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio (AM), disse que esse não é um caso de impeachment. E o secretário-geral do partido, Bismarck Maia (CE), afirmou que "a determinação é acompanhar com cuidado, exigir investigação, mas sem pirotecnia".
Alckmin voltou a defender a CPI dos Correios. Mas ressaltou que "tudo isso deve ser apurado com serenidade, com isenção na busca da verdade". Questionado sobre o fortalecimento de seu nome para sucessão presidencial, Alckmin -que em pesquisa Datafolha aparece disputando um eventual segundo turno com Lula-, disse que "não tem nenhuma relação com candidatura. Eleição é no ano que vem."
As declarações foram dadas na manhã de ontem em São Paulo, durante evento no Celex (Centro de Logística da Exportação). Alckmin esteve acompanhado por Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que, no entanto, não fez comentários sobre o pagamento dos "mensalões", afirmando que esteve fora do país nas últimas semanas e que só hoje, em Brasília, se informaria sobre a situação.
Já Serra sugeriu que o governo permita o curso das investigações. "É espantoso, mas possível é. Eu estive 16 anos no Congresso e nunca vi nada parecido", disse, a respeito do suposto esquema de mesadas a parlamentares.
O prefeito comentou o assunto durante a assinatura de um convênio com o Rotary Club de São Paulo no prédio da prefeitura. Segundo Serra, a denúncia deve ser investigada "de maneira correta, completa e até o fundo das coisas". Para o prefeito, o caso não chega a comprometer a governabilidade, mas "certamente não faz bem à imagem do governo".
Em pesquisa Datafolha sobre sucessão presidencial divulgada no domingo, Serra aparece com 26% contra 36% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. A pesquisa Datafolha foi realizada em todo o país nos dias 31 de maio e 1º de junho.

PMDB
Em Salvador, o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) disse que o governo perdeu o controle da crise política. "As denúncias publicadas pela Folha são muito graves, gravíssimas, e envolvem prevaricação por parte do governo". De acordo com o parlamentar, "o que não podemos aceitar é, sob o risco de manter a governabilidade, a gente observar o governo jogar toda a podridão embaixo do tapete".
"Na entrevista à Folha, o deputado Roberto Jefferson disse que o presidente Lula tinha conhecimento do caso. E sabemos que ele não fez nada. E agora, o que temos de fazer? Não existe outra alternativa, a não ser uma investigação imediata, a não ser uma CPI. Não podemos mais perder tempo com tanta lama", disse. (CATIA SEABRA, LUÍSA BRITO e VICTOR RAMOS)


Colaborou a Agência Folha, em Salvador


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