|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Verba era paga em almoço, diz Cesar
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A "mesada" que, segundo o deputado Roberto Jefferson, era paga a parlamentares da base aliada
pelo PT em troca de apoio político, era distribuída de forma aberta em um almoço mensal, realizado em restaurantes de Brasília, segundo afirmou ontem o prefeito
do Rio de Janeiro, Cesar Maia
(PFL), que em abril denunciou tal
prática em entrevista à Folha.
"O dinheiro chegaria em uma
mala e os pacotes eram distribuídos", disse Cesar Maia.
Ele afirma ter tomado conhecimento do esquema por intermédio de 15 parlamentares, entre deputados e senadores, do PFL, do
PMDB e do PSDB, que o procuraram. "Eles me deram esse tipo de
detalhe, inclusive de alguns deles
estarem presentes", acrescentou.
Maia, entretanto, disse não saber
quantos e quais deputados receberiam o dinheiro, nem quem seria o "homem da mala", que faria
a entrega do dinheiro.
Caixa dois
Mas, segundo o prefeito carioca,
os 15 parlamentares lhe informaram que "a articulação era da
bancada do governo". No entanto, os recursos não devem vir do
caixa do governo federal. Na sua
opinião, "isso é impossível, as
despesas de governo têm de ser
empenhadas e liquidadas para serem realizadas. Só pode ser caixa
dois de empresas", afirmou.
Maia defendeu a "apuração dos
fatos pela CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] dos Correios e, se confirmados, o Congresso deve iniciar processo de
impedimento do presidente da
República, por crime de responsabilidade, pois ele foi informado
e não abriu investigação".
As declarações foram feitas
após abertura da reunião plenária
da Associação Comercial de São
Paulo, da qual o prefeito carioca
era convidado. A cúpula do PFL,
presente ao evento, aproveitou
para apresentar a candidatura de
Cesar Maia à Presidência da República, defendida pelo vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e pelo vice-governador de
São Paulo, Cláudio Lembo, ambos do PFL.
Bornhausen
O presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, também
presente, disse que a existência de
mesada à parlamentares "já corria à boca pequena no Congresso,
desde o ano passado, durante o
processo eleitoral". Ele defendeu
que a CPI dos Correios ouça o
presidente do PTB, deputado federal Roberto Jefferson, sobre
suas acusações de pagamento de
mesadas a parlamentares. "A CPI
não pode ficar restrita a um órgão, apenas", afirmou.
Para Maia, "com a entrevista de
hoje [ontem] do deputado Roberto Jefferson (PTB), não tenho dúvidas que as respostas a todas as
indagações [quem recebe e quem
paga a mesada] serão dadas pela
CPI. Agora se sabe a razão de o
governo não querer a CPI", declarou o prefeito.
Questionado se o deputado Jefferson, principal acusado do esquema de corrupção nos Correios
tem credibilidade e se confia na
sua palavra, Maia disse que o deputado petebista "tem uma tradição de honrar sua palavra nos
piores momentos".
Watergate
Na opinião de Maia, se o deputado falou a verdade, "nós temos
um caso muito semelhante ao de
Watergate e muito mais grave. No
caso Watergate o presidente [dos
EUA, Richard] Nixon não sabia,
não comandava o processo, era
um caso de espionagem política
contra a sede do Partido Democrata. Esse caso é um caso de corrupção ativa para mudar ou garantir votos de parlamentares,
onde o presidente da República,
hipoteticamente, foi informado e
não abriu investigação".
Para Maia, há uma crise política,
mas não há uma crise institucional. "Se o governo tentar acobertar esses fatos a crise política se
transforma em crise institucional,
na medida em que a Constituição
não será aplicada pelo Congresso
Nacional. A salvação política do
presidente - caso se comprovem
os fatos- será o desastre institucional brasileiro", afirmou Maia.
Texto Anterior: PSDB paulista chama governo de "Cosa Nostra" Próximo Texto: Toda mídia - Nelson de Sá: Só o começo Índice
|