São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Verba era paga em almoço, diz Cesar

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A "mesada" que, segundo o deputado Roberto Jefferson, era paga a parlamentares da base aliada pelo PT em troca de apoio político, era distribuída de forma aberta em um almoço mensal, realizado em restaurantes de Brasília, segundo afirmou ontem o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), que em abril denunciou tal prática em entrevista à Folha.
"O dinheiro chegaria em uma mala e os pacotes eram distribuídos", disse Cesar Maia.
Ele afirma ter tomado conhecimento do esquema por intermédio de 15 parlamentares, entre deputados e senadores, do PFL, do PMDB e do PSDB, que o procuraram. "Eles me deram esse tipo de detalhe, inclusive de alguns deles estarem presentes", acrescentou. Maia, entretanto, disse não saber quantos e quais deputados receberiam o dinheiro, nem quem seria o "homem da mala", que faria a entrega do dinheiro.

Caixa dois
Mas, segundo o prefeito carioca, os 15 parlamentares lhe informaram que "a articulação era da bancada do governo". No entanto, os recursos não devem vir do caixa do governo federal. Na sua opinião, "isso é impossível, as despesas de governo têm de ser empenhadas e liquidadas para serem realizadas. Só pode ser caixa dois de empresas", afirmou.
Maia defendeu a "apuração dos fatos pela CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] dos Correios e, se confirmados, o Congresso deve iniciar processo de impedimento do presidente da República, por crime de responsabilidade, pois ele foi informado e não abriu investigação".
As declarações foram feitas após abertura da reunião plenária da Associação Comercial de São Paulo, da qual o prefeito carioca era convidado. A cúpula do PFL, presente ao evento, aproveitou para apresentar a candidatura de Cesar Maia à Presidência da República, defendida pelo vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e pelo vice-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, ambos do PFL.

Bornhausen
O presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, também presente, disse que a existência de mesada à parlamentares "já corria à boca pequena no Congresso, desde o ano passado, durante o processo eleitoral". Ele defendeu que a CPI dos Correios ouça o presidente do PTB, deputado federal Roberto Jefferson, sobre suas acusações de pagamento de mesadas a parlamentares. "A CPI não pode ficar restrita a um órgão, apenas", afirmou.
Para Maia, "com a entrevista de hoje [ontem] do deputado Roberto Jefferson (PTB), não tenho dúvidas que as respostas a todas as indagações [quem recebe e quem paga a mesada] serão dadas pela CPI. Agora se sabe a razão de o governo não querer a CPI", declarou o prefeito.
Questionado se o deputado Jefferson, principal acusado do esquema de corrupção nos Correios tem credibilidade e se confia na sua palavra, Maia disse que o deputado petebista "tem uma tradição de honrar sua palavra nos piores momentos".

Watergate
Na opinião de Maia, se o deputado falou a verdade, "nós temos um caso muito semelhante ao de Watergate e muito mais grave. No caso Watergate o presidente [dos EUA, Richard] Nixon não sabia, não comandava o processo, era um caso de espionagem política contra a sede do Partido Democrata. Esse caso é um caso de corrupção ativa para mudar ou garantir votos de parlamentares, onde o presidente da República, hipoteticamente, foi informado e não abriu investigação".
Para Maia, há uma crise política, mas não há uma crise institucional. "Se o governo tentar acobertar esses fatos a crise política se transforma em crise institucional, na medida em que a Constituição não será aplicada pelo Congresso Nacional. A salvação política do presidente - caso se comprovem os fatos- será o desastre institucional brasileiro", afirmou Maia.


Texto Anterior: PSDB paulista chama governo de "Cosa Nostra"
Próximo Texto: Toda mídia - Nelson de Sá: Só o começo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.