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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Procurador-geral da República, que tem o poder de pedir ao STF investigação contra Lula, minimiza suspeitas de corrupção
Imprensa faz "manchetismo", diz Fonteles
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, disse ontem
que a imprensa faz "um manchetismo danado", minimizando as
suspeitas de corrupção no governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, criadas pela entrevista do
presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson.
"O Brasil está passando por momentos difíceis? Está. A imprensa
hiperavalia isso, faz um manchetismo danado. Isso é da vida. A
gente não deve se apavorar nem
se amedrontar por causa disso",
afirmou Fonteles, no início da
noite de ontem, ao discursar na
posse de novos procuradores da
República. "A crise é o alimento
da democracia. Só o ditador não
gosta da crise", afirmou.
O procurador-geral tem o poder exclusivo de pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) investigações criminais contra o presidente da República, ministros de
Estado e deputados, por causa do
foro privilegiado.
Fonteles disse, por meio de sua
assessoria, que estuda as declarações de Jefferson para decidir se
tomará alguma providência. O
mandato dele termina no próximo dia 30. Lula ainda não indicou
o sucessor.
O procurador-geral disse que,
em 30 anos de carreira no Ministério Público Federal, viu "tempestades e noites escuras".
STF e o esquema PC
Dois ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) -Marco
Aurélio de Mello e Carlos Ayres
Britto- consideraram "muito
grave" a afirmação do presidente
nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson, de que o tesoureiro do PT dava mesada de R$ 30
mil a congressistas.
Para dois ministros que falaram
em caráter reservado, há indícios
de prática dos crimes de corrupção e prevaricação.
Em razão do caráter aparentemente institucional do chamado
"mensalão", que seria a obtenção
de apoio de parlamentares ao governo, os ministros dizem haver a
possibilidade de envolvimento do
presidente Lula.
Um deles disse que o caso da
"mesada" pode ser mais grave
que o esquema PC, que levou à renúncia do ex-presidente Fernando Collor. Nas acusações contra
Collor, o dinheiro teria sido desviado em benefício de pessoas,
sem envolver o governo.
Marco Aurélio defendeu a apuração dos fatos, ao se dizer "perplexo". Britto, que é ex-petista
(1985 a 2003) e foi indicado por
Lula para o STF, afirmou estar
"estupefato", mas que esperaria
explicações do PT e do governo.
Processos
Um presidente pode responder
a processo político, de impeachment, perante o Senado, e a processo judicial, por crime, perante
o STF. No primeiro caso, qualquer cidadão pode denunciá-lo.
No segundo, apenas o procurador-geral. Nos dois casos, o processo só será aberto se for aprovado por dois terços dos deputados.
O Código Penal prevê de um a
oito anos de prisão nas condenações por corrupção. A pena de
prisão para a prevaricação varia
de três meses a um ano. Esse crime é definido como "retardar ou
deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal".
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