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Relatório da polícia aponta fraude "sistêmica" no BNDES
Planilha mostra que Paulinho receberia R$ 256 mil como supostas comissões
PF entregou à Justiça Federal material para "proporcionar conhecimento relativo ao envolvimento do deputado na organização criminosa"
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um relatório da Polícia Federal entregue nesta semana à
Justiça Federal específico sobre o deputado Paulo Pereira
da Silva (PDT-SP), o Paulinho,
anexou uma planilha que prevê
um pagamento a "PA"-que as
investigações concluíram ser
referência ao deputado- de R$
256 mil até 2009 por suposta
participação em "comissões"
sobre a liberação de empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) à Prefeitura de
Praia Grande (SP).
A planilha foi apreendida na
empresa Progus, pertencente
ao empresário Marcos Vieira
Mantovani. Ele foi contratado
por uma empreiteira de Praia
Grande para atuar no contrato
firmado entre prefeitura e o
BNDES, no valor global de R$
123,9 milhões. Até o início da
Operação Santa Tereza, deflagrada pela PF em 24 de abril,
R$ 20 milhões haviam sido liberados pelo banco.
"As provas contra o referido
deputado [Paulinho] se tornaram mais evidentes na véspera
da deflagração (relatório nº 10),
com os cumprimentos dos
mandados de busca e de prisão
e também com farto material
apreendido em poder de João
Pedro [ex-assessor de Paulinho] e Mantovani [consultor],
planilhas com divisão da propina recebida pela organização
criminosa (ver relatório nº 11)",
apontou o relatório policial.
Segundo o relatório, a "organização criminosa" atuou com
"caráter sistêmico". "O presente relatório tem como escopo
proporcionar conhecimento
relativo ao envolvimento do
deputado federal Paulo Pereira
da Silva na Organização Criminosa supracitada, além dos fatos já consignados em documentos anteriores."
Os policiais anexaram resumos de cerca de cem interceptações telefônicas em que o nome de Paulinho foi citado de
uma forma ou outra antes, durante e depois das prisões ocorridas em 24 de abril.
"Amigo do peito"
Documentos incluídos no relatório colocam em xeque as
afirmações de Paulinho e Mantovani de que não se conhecem.
Em e-mail enviado em 1º de
agosto de 2006 a uma secretária do PDT paulista, Mantovani
diz ter recebido uma ligação do
próprio deputado: "Estive ontem no RJ e não pude perguntar. O Paulinho me ligou na
quarta para ir a uma empresa
no Bom Retiro. Não falou o nome e a pessoa que deveria procurar".
Em e-mail datado de 27 de
setembro de 2006, Mantovani
disse ser muito próximo de
Paulinho: "Se não tem para
quem votar para deputado federal, vote no meu amigo do
peito, Paulinho da Força Sindical, 1212".
O relatório também inclui e-mail de dezembro de 2004 que
não aparecia em relatórios anteriores no qual Mantovani explica a um funcionário as condições da suposta parceria de
sua empresa com a Força Sindical, presidida por Paulinho, e
o escritório LTB (Leite, Tosto e
Barros), do advogado Ricardo
Tosto, um dos investigados pela PF, nos projetos que envolviam financiamento pelo
BNDES. No e-mail, intitulado
"particular e confidencial",
Mantovani disse que "terão casos em que as negociações incluirão participantes especiais
-"reference fee'- e estes serão
avisados e ajustados caso a caso". O consultor escreveu que
isso seria uma espécie de tradição: "É assim que funciona o esquema de parceria típica de negócios e política".
"O grupo de parceiros foram
[sic] divididos em 3 equipes
participantes - na equipe técnica soma-se o LTB, na política
eles têm o deles e no agente a
base da Força."
O funcionário tinha várias
dúvidas: "Nos casos de sucesso
(BNDES), você já tem definido
quanto eu iria receber? (Em
função de tal valor, qual o melhor tipo de empresa que eu deveria constituir para emitir notas fiscais? A fim de não me prejudicar com IRPF [Imposto de
Renda], bem como não prejudicar ou expor a Progus?)".
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