São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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REGRA DO JOGO

CPI e pré-sal fazem da Petrobras pivô de lobbies no Congresso

Investigação sobre empresa no Senado e definição das regras de exploração do petróleo na Câmara mobilizam grupos de pressão

Para se defender na CPI, Petrobras terá empresa de comunicação para avaliar as notícias e escritório de lobby que acompanhe a comissão

VALDO CRUZ
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Antes mesmo de começar, a CPI da Petrobras já agita a comunidade de lobistas da capital. Entre eles, a avaliação é que a comissão, se de fato funcionar, pode se transformar na maior guerra de lobby vivida pelo governo Lula dentro do Congresso Nacional.
A atenção dos lobistas não estará focada só no Senado, onde a estatal estará sob investigação. Eles atuarão também na Câmara, na guerra pela definição de regras de exploração das reservas de petróleo do pré-sal.
Na semana passada, esse cenário começou a se desenhar. Enquanto governo e oposição disputavam o comando da CPI, a Comissão de Minas e Energia da Câmara reunia empresários e especialistas para debater o novo modelo do setor.
Um lobista definiu a situação da seguinte forma: no Senado, a ordem será proteger a Petrobras e seus fornecedores. Na Câmara, aprovar um texto que atenda ao interesse dos principais atores -Petrobras e petroleiras internacionais.
Enquanto a CPI pode começar a funcionar nos próximos dias, o novo marco regulatório do setor de petróleo deve ser encaminhado ao presidente Lula até o dia 15 de junho. Seu envio ao Congresso está previsto para o início de agosto.

Estratégia
A estatal está montando uma estratégia de defesa em Brasília. Para isso, busca um escritório de lobby para fazer o acompanhamento dos trabalhos da CPI. E já conta com uma empresa de comunicação, a CDN, para medir a temperatura das notícias em tempo real.
A ordem é se antecipar a futuras denúncias. Uma grande empresa lembra que a Petrobras, como não segue a Lei de Licitações, costuma fazer aditivos que fogem ao padrão definido pelo TCU (Tribunal de Contas da União), prato cheio para animar uma CPI.
O funcionamento da comissão e a fase final de definição das regras do pré-sal vão alterar também a agenda do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Ele já decidiu que passará a despachar de Brasília pelo menos dois dias por semana.
Gabrielli terá a ajuda direta de José Eduardo Dutra, presidente da BR Distribuidora e cotado para assumir a presidência do PT, e do chefe do escritório da estatal em Brasília, Carlos Eduardo Figueiredo, no contato com políticos da CPI.
Do lado das grandes empresas, tradicionais financiadoras de campanhas, seus lobistas já começaram a fazer contatos com senadores na busca da blindagem de seus patrões.

Economia
Maior empresa do país, a estatal tem cerca de 240 mil contratos, sendo que 500 deles com valores acima de R$ 25 milhões, e é responsável pelas principais obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), demonstração do interesse econômico envolvido.
Na sua batalha no Congresso, a Petrobras terá um aliado do lado de fora dos gabinetes. Os petroleiros, ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores), prometem fazer incursões a Brasília para pressionar os congressistas.
Na Câmara, segundo a Folha apurou, a bancada do PMDB, sob comando do deputado Eduardo Cunha (RJ), já se articula para atuar na votação do projeto que definirá o novo modelo de exploração. Comandando diretorias da Petrobras, peemedebistas querem ampliar seu poder de influência.
As petroleiras internacionais, reunidas no IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás), também estão se movimentando. O IBP contratou um escritório de lobby para acompanhar a tramitação do projeto no Congresso.
Primeiro resultado: foram orientadas a mudar o tom do discurso sobre a proposta que o governo enviará como projeto de lei à Câmara, que deve ser apreciado em agosto, quando a CPI já estaria funcionando.
A ordem é defender que o importante não é o modelo adotado, mas que nele continue a existir o sistema de leilão para escolha das empresas que vão explorar petróleo no país.


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