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REFORMAS
Entidades estimam que 40% dos servidores federais devem parar; para sindicalista, João Paulo só negocia "perfumaria"
Servidores iniciam primeira greve sob Lula
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Contrários ao texto da reforma
da Previdência proposto pelo governo, servidores públicos federais ligados às 11 entidades que
compõem a CNESF (Coordenação Nacional das Entidades de
Servidores Federais) iniciam a
partir de amanhã a primeira greve
por tempo indeterminado desde
o início do governo Lula.
Estimativas da coordenação
apontam para uma adesão de
40% a 45% dos servidores federais à paralisação ainda neste mês,
o que corresponde a cerca de 400
mil funcionários públicos parados. A promessa do movimento
grevista é suspender as atividades
nas universidades e escolas técnicas, no INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social), nos serviços de
saúde, na Receita Federal e no Judiciário, entre outros setores.
A decisão de paralisar as atividades foi tomada no fim de semana em reunião plenária da
CNESF, em Brasília. Quase houve
unanimidade: dos 397 delegados
presentes, apenas quatro se abstiveram e os demais votaram pela
greve. No mês passado, a coordenação promoveu uma marcha em
Brasília contra a reforma, reunindo cerca de 30 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.
Mesmo diante da ameaça de
greve, o governo tem afirmado
que não negociará a proposta de
reforma da Previdência. Há menos de um mês, durante instalação da Mesa Nacional de Negociação Permanente (fórum de discussão entre governo e servidores), o ministro José Dirceu (Casa
Civil) deixou claro que qualquer
negociação deverá ser feita diretamente com o Congresso.
Ontem, a Folha tentou ouvir o
Ministério do Planejamento sobre a greve. Vários recados foram
deixados, mas até a conclusão
desta edição a assessoria de imprensa não havia respondido.
"Chegamos a pedir uma audiência com o presidente Lula para discutir o assunto, e a resposta
que tivemos foi que o tema deverá
ser tratado conosco pelo ministro
[Ricardo] Berzoini [Previdência].
Ou seja, o nosso pedido não foi
aceito", relatou José Domingues,
um dos representantes da CNESF.
Perfumaria
Ele acrescentou que as negociações diretas com o Congresso não
têm atendido às principais reivindicações dos servidores. "Um
grupo esteve reunido com o João
Paulo [João Paulo Cunha, presidente da Câmara]. Ele só negocia
perfumaria. Isso não resolve", declarou o sindicalista, acrescentando que a reivindicação original do
movimento grevista é pela retirada da reforma do Congresso.
João Paulo afirmou na semana
passada que pelo menos três pontos da reforma da Previdência devem ser alterados: o aumento da
idade mínima para aposentadoria, a forma de cálculo do benefício e a aposentadoria especial a
que têm direito os professores.
Os pontos são alvo de um grande número de emendas dos deputados e já são tratados informalmente pelos governistas como temas que devem ser "aperfeiçoados"- ou "ter uma atenção melhor", nas palavras de João Paulo.
Calendário
Domingues enfatiza que a suspensão da greve só será possível se
o governo mudar o calendário de
tramitação da reforma, aceitando
discutir com os servidores. "Não
entendemos por que esse atropelo. Não somos contra reformar a
Previdência, mas não aceitamos a
proposta que está aí", comentou.
Nos últimos meses, sindicatos
de servidores de vários setores deflagraram paralisações pontuais e
temporárias para protestar contra
a reforma.
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