São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2005

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"República não cairá por minha causa"

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRAS[ILIA

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Marcos Valério evitou responder um questionamento de que uma empresa sua (Estratégica Marketing) poderia ter contratado um dos filhos do presidente: "Eu não posso dizer que sim ou não. Não tenho conhecimento disso. Não sei nem mesmo o nome do filho do presidente".
Em seu depoimento, que começou às 9h35, Valério destacou que tem amizade com políticos de vários partidos (PSDB, PMDB, PFL), disse que foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões do PT no BMG por amizade a Delúbio e que os R$ 350 mil que ele pagou como devedor solidário, em 2004, até agora não foram saldados pelo PT. Ele disse ter deixado de ser o avalista do partido.
Questionado pelo deputado Murilo Zauith (PFL-MS) se suas declarações poderiam "abalar a República", respondeu: "Não me dou toda essa importância. Sou um cidadão normal. Meu depoimento não iria tirar o sono do presidente ou de alguns parlamentares." E agregou: "A República não vai cair por minha causa. O país vai continuar normal".

DELÚBIO SOARES - O publicitário confirmou a amizade com o ex-tesoureiro do PT e o aval ao empréstimo de R$ 2,4 milhões tomado pelo partido no BMG e, embora tenha pago uma das parcelas, no valor de R$ 350 mil, afirmou que ainda não cobrou esse valor da legenda. Ele afirmou que deixou de ser avalista do partido. "[Delúbio] me pediu para ser avalista porque o partido precisava liquidar um débito e o BMG queria o aval de alguém que tivesse lastro. Hoje não sou mais avalista."

SILVIO PEREIRA - Afirmou que seu relacionamento com Silvio Pereira era "estritamente político", uma vez que o ex-secretário era responsável por organizar candidaturas do partido. Negou ter negociado cargos com ele.

JOSÉ DIRCEU - Marcos Valério confirmou que se reuniu com o ex-ministro da Casa Civil no Palácio do Planalto. Na ocasião, estava acompanhado por José Augusto Dumont, do Banco Rural. Ele negou que a conversa tenha sido sobre eventual benefício ao banco. Valério afirmou que era amigo do ex-vice-presidente da instituição, morto em 2004. "Ele [Dumont] foi informar que iria explorar minas de nióbio no Amazonas."

BANCO RURAL - De acordo com o publicitário, ele utilizou duas vezes aviões do banco, mas negou que tenha sido para levar malas de dinheiro a deputados. O publicitário disse que esteve no Banco Central com o vice-presidente do banco e acompanhado do deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), mas não informou o motivo do encontro. "Entrei mudo e saí calado." Ele confirmou que renegociou um débito de R$ 9 milhões com a instituição, pagando apenas cerca de R$ 2 milhões.

SAQUES - Marcos Valério confirmou os saques em dinheiro feitos no Banco Rural, mas não deu detalhes sobre o destino dos recursos. Quando questionado por parlamentares, repetia que a verba serviu para "pagar fornecedores". Ele disse que suas contas estão à disposição e que a Receita está investigando sua movimentação financeira. "O movimento da minha empresa corresponde à rotina de qualquer empresa. Não tenho nada a esconder."

ROBERTO JEFFERSON - Contestou as afirmações de que teria se encontrado com ele na primeira quinzena de julho de 2004 para entrega de recursos para campanhas dos petebistas. Mostrou, com cópias de reservas de hotel e tíquetes aéreos, que só esteve em Brasília no dia 7 daquele mês e que em 9 de julho viajou para Nova York, retornando dia 18. "O deputado Roberto Jefferson ia construindo seu depoimento durante as entrevistas, criando teses."

R$ 4 MILHÕES - Marcos Valério negou que tenha entregue R$ 4 milhões a Jefferson. Disse que conhece Emerson Palmieri, tesoureiro informal do partido, com quem esteve na sede do PT, em Brasília. "Conversamos sobre política e eleições. Ele me contou histórias de suas viagens com uma Harley Davidson. Não houve nenhum negócio de levar dinheiro."

FAZENDAS - Sobre a aquisição de fazendas na Bahia, o publicitário afirmou que adquiriu as propriedades por meio de um corretor e que não conhece os ex-donos. Entregou ao relator um pacote com documentação das propriedades.

JOSÉ BORBA - Questionado sobre sua suposta influência no governo e na divisão de cargos, como disse o então líder do PMDB na Câmara, José Borba, o publicitário negou e disse que era "mentira" do deputado. "Não tratei de cargos; tratei de campanhas do PMDB. Até porque, daqui a pouco, serei um ministro sem pasta". Parlamentares gritaram: "Já é!"

PIMENTA DA VEIGA - Marcos Valério afirmou que se aproximou do ex-ministro Pimenta da Veiga por conta de um drama familiar em comum: os dois tiveram filhos vítimas de câncer. Afirmou que contratou os serviços de advocacia de Veiga para poder ajudar no pagamento do tratamento. "O contrato foi feito em 2003, quando ele já não era ministro."

PROCURADOR DA REPÚBLICA - Sobre as reservas de passagens e hospedagem em nome do procurador Glênio Guedes, que constam da agenda entregue pela ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, o publicitário disse que se aproximou de Guedes "pela paixão em comum pelo esporte", no caso, equitação. Ele negou que tenha beneficiado o procurador com intenção de obter vantagens para o Banco Rural. "Ele me solicitava para que eu emitisse as passagens. Ele me reembolsou."

FERNANDA KARINA - Disse que a demitiu porque percebeu que não precisava mais de uma secretária. Negou que ela tenha presenciado qualquer transação em dinheiro feita em malas. "A Karina ficava no primeiro andar da agência, e o setor administrativo, no segundo. Ela não tinha acesso ao setor financeiro." Disse que, depois que Karina deixou a empresa, ligou várias vezes "solicitando ajuda financeira". Segundo ele, ela enviou vários e-mails na qual fazia ameaças veladas. Valério leu alguns desses e-mails e deu a entender que ela foi paga para conceder a entrevista à "IstoÉ Dinheiro".

CONTAS NO EXTERIOR - Disse que nunca enviou recursos para o exterior como pessoa física. Assentiu que a empresa paga fornecedores em outros países, "cerca de US$ 7.000 a US$ 10 mil".

DEPOIMENTO - Procurou tranqüilizar os parlamentares. Disse que não tem poder para "abalar a República". "Eu não me dou toda essa importância. Sou um cidadão normal. Meu depoimento não iria tirar o sono do presidente ou de algum parlamentar."


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