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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO
Em 2003, Valério afirmou à Polícia Federal que só pagava por serviços em cheques
Empresário se contradiz sobre pagamentos em dinheiro vivo
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As justificativas apresentadas
ontem à CPI dos Correios pelo
publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para os saques
milionários de contas de suas empresas -as de que usava o dinheiro para pagar fornecedores e
comprar ativos- são desmentidas por um depoimento prestado
em outubro de 2003 pelo próprio
publicitário à Polícia Federal.
Em 2003, a PF de Brasília investigava a participação da principal
empresa da qual Valério é sócio, a
DNA Propaganda, no esquema de
envio de remessa de US$ 750 mil
para o exterior, por meio de doleiros, usando uma subconta da
offshore Beacon Hill Service Corporation, de Nova York, umas das
principais empresas do escândalo
do banco Banestado.
O depoimento, prestado ao delegado Luís Fernando Ayres Machado em 28 de outubro de 2003 e
revelado ontem na CPI pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), mostra que Valério negava realizar
transações em dinheiro. O total
dos saques de suas duas empresas
entre julho de 2003 e maio de 2005
é de R$ 21 milhões, segundo relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras),
ligado ao Ministério da Fazenda.
"A empresa do declarante [Valério] só realiza operação de pagamento fora da rede bancária com
gráficas, mediante pagamento
com cheque", disse Valério à PF.
Entre julho e outubro de 2003,
mês do depoimento, a empresa
DNA já havia registrado pelo menos R$ 1,12 milhão em saques de
agências dos bancos Rural e do
Brasil em Belo Horizonte (MG).
Outra empresa que tem Valério
como sócio, a SMPB, já havia sacado cerca de R$ 6 milhões.
O depoimento de Valério também entra em choque com outro
depoimento que prestou à mesma PF de Brasília, no último dia
29, na esteira das investigações sobre corrupção nos Correios e o
suposto pagamento do "mensalão" a deputados federais.
Confrontado com o relatório do
Coaf, o publicitário dessa vez reconheceu que fazia os saques em
dinheiro. Alegou que teriam como "justificativas o pagamento a
fornecedores da empresa, a distribuição de lucros entre os sócios
ou investimentos em ativos".
De acordo com as informações
levadas à CPI pelo senador Álvaro
Dias, Valério foi investigado por
supostos pagamentos realizados a
fornecedores diversos por meio
da empresa Beacon Hill. Fechada
em 2003 por ordem do governo
americano, a Beacon Hill funcionava como uma retransmissora
de fundos que ocultava os verdadeiros responsáveis pela operação. As remessas eram realizadas
do Brasil para os Estados Unidos
por meio de um esquema de compensação paralelo, que não deixava registros oficiais no BC.
Farol da Colina
As empresas brasileiras, como a
DNA Propaganda, recorriam a
doleiros brasileiros para transferir
artificialmente o dinheiro para os
EUA. A Promotoria de Nova York
considerou a Beacon Hill um dos
maiores esquemas de lavagem de
dinheiro já descobertos na cidade.
As operações suspeitas dessa
empresa geraram a Operação Farol da Colina, desencadeada no
ano passado pela Polícia Federal
brasileira, que culminou em pedidos de prisão de mais de 60 doleiros.
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