São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO

Em 2003, Valério afirmou à Polícia Federal que só pagava por serviços em cheques

Empresário se contradiz sobre pagamentos em dinheiro vivo

RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As justificativas apresentadas ontem à CPI dos Correios pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para os saques milionários de contas de suas empresas -as de que usava o dinheiro para pagar fornecedores e comprar ativos- são desmentidas por um depoimento prestado em outubro de 2003 pelo próprio publicitário à Polícia Federal.
Em 2003, a PF de Brasília investigava a participação da principal empresa da qual Valério é sócio, a DNA Propaganda, no esquema de envio de remessa de US$ 750 mil para o exterior, por meio de doleiros, usando uma subconta da offshore Beacon Hill Service Corporation, de Nova York, umas das principais empresas do escândalo do banco Banestado.
O depoimento, prestado ao delegado Luís Fernando Ayres Machado em 28 de outubro de 2003 e revelado ontem na CPI pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), mostra que Valério negava realizar transações em dinheiro. O total dos saques de suas duas empresas entre julho de 2003 e maio de 2005 é de R$ 21 milhões, segundo relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), ligado ao Ministério da Fazenda.
"A empresa do declarante [Valério] só realiza operação de pagamento fora da rede bancária com gráficas, mediante pagamento com cheque", disse Valério à PF.
Entre julho e outubro de 2003, mês do depoimento, a empresa DNA já havia registrado pelo menos R$ 1,12 milhão em saques de agências dos bancos Rural e do Brasil em Belo Horizonte (MG). Outra empresa que tem Valério como sócio, a SMPB, já havia sacado cerca de R$ 6 milhões.
O depoimento de Valério também entra em choque com outro depoimento que prestou à mesma PF de Brasília, no último dia 29, na esteira das investigações sobre corrupção nos Correios e o suposto pagamento do "mensalão" a deputados federais.
Confrontado com o relatório do Coaf, o publicitário dessa vez reconheceu que fazia os saques em dinheiro. Alegou que teriam como "justificativas o pagamento a fornecedores da empresa, a distribuição de lucros entre os sócios ou investimentos em ativos".
De acordo com as informações levadas à CPI pelo senador Álvaro Dias, Valério foi investigado por supostos pagamentos realizados a fornecedores diversos por meio da empresa Beacon Hill. Fechada em 2003 por ordem do governo americano, a Beacon Hill funcionava como uma retransmissora de fundos que ocultava os verdadeiros responsáveis pela operação. As remessas eram realizadas do Brasil para os Estados Unidos por meio de um esquema de compensação paralelo, que não deixava registros oficiais no BC.

Farol da Colina
As empresas brasileiras, como a DNA Propaganda, recorriam a doleiros brasileiros para transferir artificialmente o dinheiro para os EUA. A Promotoria de Nova York considerou a Beacon Hill um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro já descobertos na cidade.
As operações suspeitas dessa empresa geraram a Operação Farol da Colina, desencadeada no ano passado pela Polícia Federal brasileira, que culminou em pedidos de prisão de mais de 60 doleiros.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Inutilidades
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.