São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2005

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RIBEIRÃO PRETO

Empresa completaria salário na gestão Palocci; ministro não comenta

Ex-servidor diz que recebia "extra"

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Um ex-diretor de uma empresa municipal de Ribeirão Preto (SP) admitiu ter recebido parte de seu salário de uma empreiteira contratada na gestão do prefeito Antonio Palocci Filho (PT), atual ministro da Fazenda.
Augusto Pereira Filho, diretor da Coderp (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto) em 2002, revelou à Folha que, por nove meses, recebeu cerca de R$ 2.250 mensais da CVP (Construtora Vale do Paranapanema). Ele ganhava R$ 2.750 do município. O fato ocorreu na segunda gestão de Palocci (2001/ 2002). Procurado, o ministro não se manifestou.
O pagamento desse "extra" teria sido negociado pelo então superintendente da Coderp, Juscelino Dourado, hoje chefe de gabinete do ministro Palocci. Dourado nega: "Não tenho conhecimento de informações relativas à apropriação de vantagens nos contratos de prestação de serviços na Coderp".
Pereira Filho disse que o pagamento era feito "em dinheiro", sem registro na folha de pagamento da empreiteira. "A Coderp pôs à disposição da CVP um gestor. Eu recebi do dinheiro destinado à mão-de-obra." "Seria ilegal se eu estivesse recebendo algum dinheiro para fazer alguma coisa em troca. Havia uma prestação de serviço. O município achou uma forma de me pagar mais", disse.
O engenheiro Marcelino Enes de Carvalho Neto, então diretor da CVP em Ribeirão Preto, disse que a firma "nunca pagou ou complementou salário ou remuneração de qualquer servidor público".
Com 99,99% de participação do município, a Coderp havia sido contratada por R$ 3,5 milhões para construir o megaprojeto arquitetônico Vale dos Rios (revitalização do centro) e, por R$ 1,335 milhão, para construir a Fabes (Fábrica de Equipamentos Sociais).
A Coderp montava feiras e eventos. Mudou seu estatuto para fazer obras. A CVP venceu licitação e foi subcontratada por R$ 1,295 milhão. A diferença de R$ 40 mil ficou com a empresa pública, a título de gerenciamento.
O projeto Vale dos Rios foi abandonado 11 meses após o lançamento, em 2001. Não assentou um tijolo sequer, mas custou R$ 2 milhões em "obras", segundo a Secretaria Municipal da Fazenda. A Câmara Municipal aponta gastos de R$ 1,7 milhão não explicados. A Fabes foi construída.
Pereira Filho já trabalhou nas prefeituras petistas de Ribeirão, Franca e Jaboticabal. Ele concedeu entrevista à Folha em junho de 2004, sob a condição de que sua publicação só fosse feita depois de prestar depoimento ao Ministério Público Estadual, que investiga o suposto desvio de verbas públicas, ainda sem resultado.
Uma semana depois, pediu que as declarações não fossem publicadas. O acordo foi rompido após o Tribunal de Contas do Estado julgou irregular a contratação da Coderp. As contas de Palocci de 2002 tiveram parecer desfavorável do TCE (cabe recurso). Novamente procurado, Pereira Filho não quis atender o jornal.


Colaborou CONRADO CORSALETTE, da Reportagem Local


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