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RIBEIRÃO PRETO
Empresa completaria salário na gestão Palocci; ministro não comenta
Ex-servidor diz que recebia "extra"
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Um ex-diretor de uma empresa
municipal de Ribeirão Preto (SP)
admitiu ter recebido parte de seu
salário de uma empreiteira contratada na gestão do prefeito Antonio Palocci Filho (PT), atual ministro da Fazenda.
Augusto Pereira Filho, diretor
da Coderp (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto) em 2002, revelou à
Folha que, por nove meses, recebeu cerca de R$ 2.250 mensais da
CVP (Construtora Vale do Paranapanema). Ele ganhava R$ 2.750
do município. O fato ocorreu na
segunda gestão de Palocci (2001/
2002). Procurado, o ministro não
se manifestou.
O pagamento desse "extra" teria
sido negociado pelo então superintendente da Coderp, Juscelino
Dourado, hoje chefe de gabinete
do ministro Palocci. Dourado nega: "Não tenho conhecimento de
informações relativas à apropriação de vantagens nos contratos de
prestação de serviços na Coderp".
Pereira Filho disse que o pagamento era feito "em dinheiro",
sem registro na folha de pagamento da empreiteira. "A Coderp
pôs à disposição da CVP um gestor. Eu recebi do dinheiro destinado à mão-de-obra." "Seria ilegal
se eu estivesse recebendo algum
dinheiro para fazer alguma coisa
em troca. Havia uma prestação de
serviço. O município achou uma
forma de me pagar mais", disse.
O engenheiro Marcelino Enes
de Carvalho Neto, então diretor
da CVP em Ribeirão Preto, disse
que a firma "nunca pagou ou
complementou salário ou remuneração de qualquer servidor público".
Com 99,99% de participação do
município, a Coderp havia sido
contratada por R$ 3,5 milhões para construir o megaprojeto arquitetônico Vale dos Rios (revitalização do centro) e, por R$ 1,335 milhão, para construir a Fabes (Fábrica de Equipamentos Sociais).
A Coderp montava feiras e
eventos. Mudou seu estatuto para
fazer obras. A CVP venceu licitação e foi subcontratada por R$
1,295 milhão. A diferença de R$ 40
mil ficou com a empresa pública,
a título de gerenciamento.
O projeto Vale dos Rios foi
abandonado 11 meses após o lançamento, em 2001. Não assentou
um tijolo sequer, mas custou R$ 2
milhões em "obras", segundo a
Secretaria Municipal da Fazenda.
A Câmara Municipal aponta gastos de R$ 1,7 milhão não explicados. A Fabes foi construída.
Pereira Filho já trabalhou nas
prefeituras petistas de Ribeirão,
Franca e Jaboticabal. Ele concedeu entrevista à Folha em junho
de 2004, sob a condição de que
sua publicação só fosse feita depois de prestar depoimento ao
Ministério Público Estadual, que
investiga o suposto desvio de verbas públicas, ainda sem resultado.
Uma semana depois, pediu que
as declarações não fossem publicadas. O acordo foi rompido após
o Tribunal de Contas do Estado
julgou irregular a contratação da
Coderp. As contas de Palocci de
2002 tiveram parecer desfavorável do TCE (cabe recurso). Novamente procurado, Pereira Filho
não quis atender o jornal.
Colaborou CONRADO CORSALETTE, da
Reportagem Local
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