|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPERAÇÃO SATIAGRAHA / A DENÚNCIA
Dantas abasteceu caixa do mensalão, diz Procuradoria
Ministério Público acusa banqueiro do Opportunity e mais 13 pessoas de sete crimes
Acusados dizem não ter
cometido crimes apontados
na acusação, formalizada
quase um ano depois de a
PF deflagrar a Satiagraha
Leo Cabello/Folha Imagem
|
|
Daniel Dantas, após prestar depoimento na PF, no ano passado
DA REPORTAGEM LOCAL
A Procuradoria da República
em São Paulo ofereceu denúncia contra o banqueiro Daniel
Dantas e 13 pessoas por suposto envolvimento em sete crimes diferentes, dentre os quais
gestões temerária e fraudulenta e evasão de divisas. Pediu a
abertura de três inquéritos policiais, um deles específico sobre a fusão, no ano passado, das
empresas de telefonia Brasil
Telecom e Oi/Telemar, que deu
origem à maior tele do país.
Uma das acusações trata do
envolvimento de Dantas e do
grupo Opportunity no financiamento do mensalão, o esquema montado pela direção
nacional do PT e pelo publicitário mineiro Marcos Valério
Fernandes Souza para corromper políticos da base aliada do
governo federal no Congresso.
Segundo a denúncia, que recupera as investigações feitas
pela CPI dos Correios, a companhia telefônica Brasil Telecom, então controlada por
Dantas, pagou R$ 3,37 milhões
para as empresas de Valério.
Os valores "não estavam vinculados a nenhum contrato" e
entraram no caixa único de Valério, do qual saíram os recursos usados no esquema de compra de apoio de congressistas e
partidos entre 2003 e 2005.
A denúncia, protocolada pelo
procurador da República Rodrigo de Grandis na sexta, como a Folha adiantou no sábado, está sob avaliação do juiz da
6ª Vara Federal Criminal de
SP, Fausto Martin De Sanctis,
que decidirá se acolhe a denúncia. Se o fizer, os 14 denunciados se tornarão réus de processo penal -e caberão recursos
em várias instâncias. Eles negam ter cometido os crimes.
A peça, à qual a Folha teve
acesso, tem 80 páginas que resumem 40 volumes principais
e 400 volumes de anexos produzidos pela Polícia Federal e
pela Procuradoria da República em São Paulo desde o início
de 2007, no curso da Operação
Satiagraha, deflagrada há um
ano pela PF sob acompanhamento da Justiça Federal.
A denúncia de De Grandis
descreve sete "fatos criminosos" que teriam tido a participação de Dantas. Relata acusações feitas a Dantas nos últimos anos, mas que ainda não
tinham sido objeto de uma acusação criminal formal, como as
acusações contidas na auditoria interna feita em 2005 pelos
novos controladores da Brasil
Telecom e a própria participação da empresa no financiamento do "valerioduto".
Gestão fraudulenta
A passagem de Dantas pelo
controle da Brasil Telecom, resumida como "gestão fraudulenta", mereceu várias páginas
da denúncia. O uso dos recursos para o mensalão se enquadrou nessa categoria.
Também são mencionados o
Consórcio VOA, empresa aérea
criada por Dantas no âmbito da
Brasil Telecom, mas que não
atendia apenas a área sob responsabilidade da telefônica, o
pagamento de funcionários do
Opportunity pela BrT (uma assessora da presidência teria recebido salário mensal de R$ 26
mil mais um bônus de R$ 1,1
milhão) e uma reforma luxuosa
da sede do banco Opportunity
em São Paulo, que custou
R$ 2,13 milhões.
No tocante ao banco Opportunity, duas acusações têm
maior espaço na denúncia: a
que trata da suposta remessa
ilegal, por meio de doleiros, para o Opportunity Fund, nas
ilhas Cayman, e a ausência de
controles internos para combate à lavagem de dinheiro. Os diretores do Opportunity teriam
deixado de implementar um
sistema para prevenção e detecção de lavagem.
O inquérito também revelou
que na casa do empresário
Humberto Braz foi achado pela
PF um papel intitulado "Contribuições ao Clube", que listava pagamentos a pessoas diversas ainda não identificadas.
Pois um documento idêntico
fora encontrado pela PF, no
mesmo dia 8 de julho de 2008,
no apartamento de Dantas, no
Rio. Isso, nas palavras do procurador, "evidencia que a corrupção de funcionários públicos (ou seja, a simbiose com o
Estado!) é prática contumaz e
elemento definidor da organização criminosa que foi implementada e desenvolvida sob os
auspícios do Opportunity".
O procurador da República
arrolou 20 pessoas como testemunhas, entre as quais o ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger. Ele
prestou serviços a Dantas numa das disputas com sócios da
Brasil Telecom.
Outra testemunha arrolada é
Sérgio Ricardo Silva Rosa, presidente da Previ e antigo adversário do Opportunity nas disputas societárias, ex-presidente da Confederação Nacional
dos Bancários, ligada à CUT
(Central Única dos Trabalhadores).
(RUBENS VALENTE, FLÁVIO FERREIRA E ANA FLOR)
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frase Índice
|