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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Manifestação durou quatro horas e reuniu cerca de 50 mil pessoas, segundo a PM; sete ficaram feridos

Em protesto, servidor depreda Congresso

Alan Marques/Folha Imagem
Cerca de 50 mil servidores públicos, segundo a Polícia Militar, participam de marcha na Esplanada dos Ministérios contra a proposta de reforma da Previdência, aprovada ontem em primeiro turno


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Organizada há mais de um mês, a marcha dos servidores públicos contra a reforma da Previdência, em Brasília, terminou ontem em depredação do Congresso Nacional, com um saldo de 52 vidros quebrados na entrada principal e sete feridos -cinco seguranças da Câmara e dois manifestantes. A Polícia Militar avaliou em cerca de 50 mil a 60 mil pessoas, e os organizadores, em 80 mil.
A marcha durou cerca de quatro horas e foi pacífica na maior parte do tempo. O tumulto só ocorreu no final, com uma tentativa de invasão do prédio por parte de um grupo de manifestantes. A diretoria da Câmara estimou em R$ 20 mil os prejuízos e vai responsabilizar criminalmente os manifestantes que destruíram os vidros do Congresso, acusados de atos de vandalismo pela Casa.
Os manifestantes que vieram de várias regiões do país se concentraram às 9h na catedral e iniciaram a marcha por volta das 10h20. Eles percorreram toda a Esplanada dos Ministérios até a praça dos Três Poderes. Os carros de som ficaram estacionados por cerca de uma hora e, depois, os manifestantes começaram a percorrer o caminho de volta. Ao chegar ao lado do Congresso, porém, um grupo de servidores destruiu grades de proteção e subiu na cúpula do Legislativo. Seguranças da Câmara e PMs foram acionados para conter o tumulto.
Os manifestantes passaram cerca de 20 minutos em cima do prédio, cantando "Aha, uhu, o Congresso é nosso" e estenderam uma faixa: "Lula está jogando a Previdência pública na privada".
Outras faixas fizeram parte do protesto: "De Fernando a Fernando, até Lullando a gente vai se ferrando" e "Se quer continuar comendo pão com ovo, basta votar no PT de novo".
Após negociação com a PM, os manifestantes começaram a descer pela rampa que dá acesso à entrada principal do Congresso. Parte do grupo tentou chegar próximo à porta, mas foi contida por PMs e seguranças -nesse momento, começou a confusão.
A tensão aumentou quando um grupo conseguiu ultrapassar os policiais e quebrar uma vidraça. Logo depois, outros passaram a chutar os vidros, e servidores que estavam no gramado lançavam pedras. Foram quebrados 52 vidros, segundo a Presidência da Câmara, mas a ação não durou sequer cinco minutos. Ao chutar os vidros, os manifestantes corriam para fugir dos seguranças, o que aumentava o clima de tumulto.
Um dos manifestantes foi jogado no gramado, de uma altura de quase dois metros. Na confusão, um segurança também foi empurrado e caiu na grama. O quebra-quebra só parou porque os manifestantes interromperam a destruição dos vidros. Servidores que estavam no gramado ainda lançaram pedras, mastros de bandeira e até a tampa de um bueiro.
Do ato de vandalismo participaram militantes que trajavam camisetas do PSTU e de universidades, além de integrantes de grupos punks. Os servidores carregaram três caixões para um enterro simbólico de Lula e dos ministros José Dirceu (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Previdência) e Luiz Gushiken (Comunicação).
A PM do DF, que entrou em confronto com servidores em greve duas vezes nas últimas semanas, apenas assistiu. Segundo o coronel Hellen, que não informou seu nome completo, eram 1.500 policiais e a proteção dos vidros é de "competência exclusiva do policiamento da Câmara".
As centrais sindicais responsáveis pela marcha negaram envolvimento. "Não podemos ser responsabilizados por um ato de meia dúzia de malucos que ninguém conseguiu identificar", disse José Domingues Godoy Filho, vice-presidente do Andes (professores universitários).
O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho, criticou a tentativa de invasão violenta do Congresso e disse que os manifestantes responsáveis já forma identificados e são ligados ao PSTU. Integrantes do PSTU negaram que seus militantes tenham participado do ato.

Machucado
Ao invadir ontem a Câmara dos Deputados, Adriano Gomes da Silva, 23, tentou fugir dos seguranças da Casa, acompanhado por fotógrafos, lentes de câmeras de TV e berros de parlamentares. Silva foi imobilizado por, pelo menos, três seguranças da Casa. Teve um hematoma na testa e um corte em um dedo da mão, que, segundo ele, ocorreu ao ser "jogado" pelos seguranças contra os vidros da entrada da Câmara.
Silva disse trabalhar como carteiro em Guarulhos, na Grande São Paulo. Afirmou não ser servidor dos Correios, mas celetista da empresa. Questionado sobre o motivo da sua participação na manifestação, afirmou ser contra a proposta do governo para a reforma da Previdência.
A senadora Heloísa Helena (PT-AL), que acompanhou Silva na saída da Câmara, convidou-o para ficar em sua casa até que melhorasse, mas o manifestante disse que tinha de voltar a São Paulo para trabalhar.


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