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ARTIGO
Um grande legado
CARLOS HEITOR CONY
COLUNISTA DA FOLHA
Ao dirigir durante mais de
70 anos, inicialmente um
dos maiores jornais do Rio de Janeiro, e, mais tarde, o maior grupo de comunicação do Brasil e da
América Latina, é natural que
Roberto Marinho nem sempre tenha agradado a todos. Sua obstinada fidelidade ao jornalismo,
contudo, foi maior, bem maior do
que qualquer divergência ou incompreensão que tenha provocado na opinião pública nacional.
Nos tempos difíceis, logo após a
morte de Irineu Marinho, que
fundara "O Globo" vinte e um
dias antes, ele valorizou antes de
mais nada os profissionais que
trabalhavam com seu pai. Era famosa a marmita em que ele comia na velha redação do jornal,
no Largo da Carioca.
Foi um dos maiores nomes do
empresariado brasileiro, mas
nunca deixou de ser o jornalista,
assombrosamente dotado de uma
visão da notícia, do fato, da opinião. Daí sua participação no rádio e, posteriormente, na televisão, onde imprimiu um padrão
de qualidade que ficará como um
marco na história da comunicação de todo um continente. Soube
trabalhar com amigos, um dos segredos de seu sucesso. Nos anos
difíceis do regime autoritário,
abrigou profissionais vetados pelos donos da situação.
Tornado poderoso pelo seu esforço, ele colocou o prestígio de
seu nome e de suas empresas a
serviço de causas humanitárias e
culturais. Com toda a justiça, seu
nome figurará sempre entre os
maiores brasileiros de seu tempo.
E a consagração que soube merecer constituirá o grande legado
que ele deixou para sua família,
para suas empresas e para a história do jornalismo brasileiro.
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