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BC SOB PRESSÃO
Presidente do BC afirma que está a ponto de "perder a paciência" com denúncias, mas não pretende sair
Acusações beiram o ridículo, diz Meirelles
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, disse ontem
que está a ponto de "perder a paciência" por considerar que as
acusações contra ele chegaram ao
nível do "patético, do ridículo".
Questionado se perder a paciência significava a possibilidade de
deixar o governo, Meirelles foi enfático: "Não", apesar de já esperar
novas denúncias "nos próximos
dias, meses", por conta do clima
eleitoral. Sua reação, a partir de
agora, pode ser o silêncio. Meirelles diz estar analisando a possibilidade de parar de comentar as
acusações feitas ele. "Talvez eu esteja cometendo um erro ao explicar tudo, porque criou a obrigação de explicar tudo", afirmou.
Segundo ele, um jornalista não
entende um item qualquer de sua
declaração de renda, "porque o
criminoso que quebrou o meu sigilo fiscal passou para ele", e ele,
Meirelles, tem de explicar.
O presidente do BC diz não saber o nome do "criminoso", mas,
em tom de desabafo, afirma que o
"mundo passou a funcionar ao
contrário", ao comentar que nos
últimos dias tem gastado seu tempo tentando esclarecer as acusações. "Eu não tenho que ficar correndo para provar."
Meirelles disse que até anteontem estava tranqüilo, porque avaliava que as acusações mereciam
explicações, como as envolvendo
a ordem bancária de US$
50.677,12 e seu domicílio fiscal.
Quando tomou conhecimento
do caso envolvendo o valor de um
terreno seu em Vassouras (RJ),
porém, avalia que passaram a
"exagerar, chegando ao nível do
patético, ridículo". "Minha inclinação a partir de agora é, quem tiver denúncia, que oficie a Receita.
Não vou mais comentar, vou preservar meu direito de sigilo fiscal
ou meu direito de perder a paciência", disse Meirelles.
Erro de cálculo
Sobre o terreno em Vassouras,
afirma que houve um erro do cartório. Diz que o terreno foi adquirido em 1989 por NCz$ 2.200, mas
a escritura foi registrada em seu
nome apenas em 1998.
Na hora do registro, o cartório
acabou não fazendo a conversão
do valor em cruzados novos para
reais. Escreveu apenas que o imóvel estava sendo registrado pelo
menor valor da moeda atual, R$
0,01, mas que ele havia sido adquirido em 1989 por NCz$ 2.200.
"Mas está lá na escritura, foi comprado por NCz$ 2.200. Será que
não leram isso?", disse.
Segundo Meirelles, seu contador, quando foi fazer sua declaração de renda, deparou-se com
dois valores contraditórios na escritura, R$ 0,01 e NCz$ 2.200, que
convertidos para real valeriam R$
2.328,78. "Ele resolveu ser conservador e botou o menor valor da
unidade real, que foi R$ 1. De uma
simplicidade atroz. Só que nós estamos num clima que está me fazendo perder um pouco a paciência, que tudo que um sujeito olha
e não entende fica suspeito."
Meirelles afirma que o erro acabou gerando prejuízo para ele: se
for vender o terreno, para fazer o
cálculo do Imposto de Renda a ser
pago terá de deduzir apenas R$ 1 e
não R$ 2.328,78, que seria o valor
corrigido. Na sua declaração de
bens encaminhada em 5 de julho
de 2002 à Justiça Eleitoral de
Goiás, o terreno aparece com o
valor de R$ 4.000, que seria seu
valor de mercado à época.
Novas acusações
Meirelles espera novas acusações para os próximos dias. "Como minha declaração é extensa,
então a capacidade dos caras denunciarem nos próximos dias,
meses, é enorme." Segundo ele, o
clima eleitoral facilita a divulgação das acusações. Ele se antecipa
e conta duas acusações que tem
ouvido falar que serão publicadas
contra ele. Uma, sobre "um apartamento milionário em Goiânia",
que valeria R$ 1,03 milhão.
"Eu de fato tenho um apartamento em Goiânia, muito bom e
o valor é esse mesmo. Qual é o
problema? É uma situação complicada, o sujeito mistura a inveja
dele com uma suspeita."
A outra acusação que foi ventilada seria sobre um imóvel que
vendeu nos Estados Unidos. Ele
não teria recolhido imposto sobre
R$ 2 milhões recebidos da venda
do imóvel. Segundo Meirelles, a
versão da denúncia que ouviu seria embasada na declaração de tributaristas -segundo os quais o
valor deveria ser tributado no
Brasil. "Está errado, não é tributável, é uma dessas denúncias que
circulam, é um dinheiro que tinha
de ficar lá até terminar todos os
cálculos de imposto americano."
Meirelles finaliza, em tom de
desabafo: "É aquela coisa, homem
público que tem tudo isso [patrimônio elevado] é ladrão. Só que
eu ganhei esse dinheiro sendo
presidente mundial de uma corporação americana. Desculpe,
mas aconteceu. Ainda bem, bom
para o Brasil, tem um brasileiro
que foi lá e conseguiu".
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