São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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Renan não vai misturar votações, diz Lula

Presidente defende o voto aberto na ação de cassação, mas ressalta que Senado tem um regimento e que precisa ser seguido

Presidente, em entrevista a emissoras de rádio, afasta a possibilidade de o governo decidir pela reestatização da Vale, como pretende o PT

LETÍCIA SANDER
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar das cobranças públicas de peemedebistas de apoio ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista a nove emissoras de rádio, na manhã de ontem, não ver "possibilidade" de o PMDB ou o próprio Renan misturarem o processo de cassação que o senador responde com as votações no Congresso.
Também disse que se trata de duas coisas diferentes: uma é um problema do presidente do Congresso, acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista de empreiteira, entre outros supostos delitos. Outra, segundo Lula, é um problema nacional, de políticas que precisam ser votadas.
Na entrevista, que durou pouco mais de uma hora, Lula disse ser favorável ao voto aberto no caso da votação de cassação, mas ressaltou que o regimento tem de ser seguido.
Ao falar de experiências do governo, disse que qualquer pessoa guindada a cargo público tem a obrigação de fazer as coisas corretamente e defendeu que quem cometer um delito deve ser afastado do cargo.
Lula também afastou a possibilidade de o governo decidir pela reestatização da Vale do Rio Doce, como pediu o PT.
Bastante à vontade, o presidente fumou duas cigarrilhas, tomou três cafés e fez várias menções sobre o futebol. Veja abaixo os principais trechos:

 

RENAN CALHEIROS
O presidente negou que as investigações contra Renan possam atrapalhar votações de interesse do governo no Congresso. E disse que o caso está seguindo os procedimentos, que "não pode ser diferente". "Eu não vejo possibilidade de o Renan ou o PMDB misturarem as votações que estão no Congresso Nacional com as coisas que estão por serem votadas. Até porque tem um problema que é do presidente do Congresso Nacional e envolve os partidos políticos da base e o PMDB, e tem um problema que é nacional, que é do Brasil. As políticas públicas que têm que ser votadas, não são de interesse do Lula ou do Renan, são de interesse do povo brasileiro."

VOTO SECRETO
O presidente disse que abriria o voto, caso tivesse de decidir a cassação ou não de Renan. "Eu votaria aberto e diria o que estava votando. Agora, os senadores irão votar de acordo com o regimento do Congresso."

FORO PRIVILEGIADO
Lula defendeu o foro privilegiado no caso de presidente e governadores. E, numa rara menção pública ao caso, lembrou do processo que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, responde. "Houve uma denúncia contra o Meirelles, o Meirelles era presidente do Banco Central (...). Você não pode deixar, porque esse cidadão, que é presidente do Banco Central, poderia ser preso, se um juiz de qualquer lugar resolvesse prendê-lo. Então, você precisar dar à pessoa a garantia de que a pessoa não vai ser truncada na possibilidade de exercer a sua função, porque alguém entendeu que precisa prender. Nós precisamos garantir que haja normas processuais que respeitem a democracia e permitam às pessoas exercerem as funções."

FORA DO CARGO
Ao ser questionado sobre o desempenho do governo após a saída de figuras como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), Lula afirmou que "qualquer pessoa guindada a um posto público tem a obrigação política, ética e moral de fazer as coisas corretamente".
"Se qualquer pessoa, seja ela a mais íntima ou a menos íntima, comete um delito, comete um erro, pratica uma coisa que não deveria praticar, o que deve acontecer? Ser afastada do cargo. E depois o que deve acontecer? Ter um processo. Vou dizer para você que se todo mundo tivesse tido o procedimento que eu tive, certamente o Brasil não teria tanto problema que tem. Agora, é verdade que nós precisamos ter em conta que nem todos os acusados poderão ser considerados culpados."

CPMF
Lula disse que a CPMF é um imposto justo e que o Brasil "não pode prescindir de R$ 40 bilhões". "Se amanhã o Congresso Nacional extinguir a CPMF, vai significar o quê? Que nós vamos cortar R$ 40 bilhões de outras coisas para poder cumprir com os nossos compromissos."

VALE
O presidente foi enfático ao negar a intenção de reestatizar a Vale, ao contrário do que levantou o PT. "Os partidos têm autonomia, e o partido tem autonomia inclusive com relação ao governo. Agora, posso dizer que esse tema não passa pelo governo, não se discute no governo, porque tem ato jurídico que foi consagrado e o governo vai respeitar. Isso não está na minha mesa nem entrará."

APARTHEID SOCIAL
Ao ser questionado sobre as freqüentes referências, em discursos, sobre a divisão entre ricos e pobres, Lula disse que está tentando acabar com o apartheid social, e não incitá-lo. "Não sou eu que tento fazer essa divisão." "O que eu digo sempre é o seguinte: eu governo para os 190 milhões de brasileiros. É só ver o lucro dos empresários. Agora, do ponto de vista das políticas públicas, faço um esforço incomensurável para cuidar das pessoas que não tiveram oportunidade neste país." Sobre a classe média, Lula afirmou: "O que eu estou tentando é fazer com que mais gente faça parte da classe média brasileira. Aliás, por mim, nós teríamos uma sociedade só de classe média".

ECONOMIA
Sobre o aumento de preços nos alimentos, Lula afirmou que o governo não irá permitir a volta da inflação. "Não iremos permitir porque, na hora em que a inflação voltar, o prejuízo é direto no bolso das pessoas que vivem de salário neste país e no bolso das pessoas mais pobres. (..) A inflação, quando atinge dois dígitos, ninguém segura mais. Nós não iremos permitir que a inflação saia da meta. Quem estiver apostando na volta da inflação para ganhar dinheiro, eu queria aproveitar a rádio de vocês para dizer: tirem o cavalo da chuva, porque a inflação não vai voltar".


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