São Paulo, Terça-feira, 07 de Setembro de 1999
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GOVERNO
Opção por Alcides Tápias deve agradar a empresariado nacional
Ex-banqueiro, escolhido é defensor da indústria

Lucio Piton - 16.ago.97/Folha Imagem
O novo ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias


DAVID FRIEDLANDER
da Reportagem Local

Depois de um diplomata que não deu certo e de um amigo briguento demais, o presidente Fernando Henrique Cardoso cravou a coluna do meio.
O novo ministro do Desenvolvimento, Alcides Lopes Tápias, tem uma experiência gerencial muito maior que a de Celso Lafer e mais jogo de cintura do que Clóvis Carvalho. É, principalmente, uma escolha para animar o empresariado.
Uma boa pista sobre o que pensa o novo ministro é sua opinião a respeito da indústria nacional. No comando da Camargo Corrêa, grupo que opera nos setores de construção pesada, energia elétrica e têxtil, Tápias já disse várias vezes a amigos que o governo deveria incentivar a indústria nacional.
Não chega a ser um nacionalista de carteirinha, mas acha que o país precisa ter empresas com tamanho suficiente para enfrentar os concorrentes estrangeiros, no Brasil e no exterior.

Perfil influente
Tápias, 57 anos, é um executivo influente entre seus pares e amigo pessoal de muitos deles. Alguns devem seu emprego a ele. Com muita frequência, Tápias é convidado a dar palpite ou mesmo indicar executivos para grandes empresas.
Há pouco mais de três anos na presidência do conselho de administração da Camargo, Tápias fez carreira no Bradesco. Entrou no banco aos 14 anos, como contínuo, e chegou à vice-presidência.
Incentivado pelo então presidente-executivo do Bradesco, Lázaro Brandão, Tápias assumiu o comando da Febraban, a federação dos bancos, em 1991. Brandão queria que seu executivo ficasse mais conhecido.
Tápias fez um bom trabalho e transformou a entidade, até então apagada, numa casa influente no governo e junto aos próprios banqueiros.
Quando deixou a Febraban, em 1994, Tápias esperava assumir o lugar de Brandão. Executivos que conhecem bem o Bradesco contam que ele e Brandão teriam combinado que, na volta da Febraban, a sucessão seria realizada.
Como Brandão acabou não saindo da presidência do maior banco privado nacional, depois de dois anos Tápias decidiu ir embora. Até hoje, em público, nem Brandão nem Tápias admitem que tenham feito o acordo.
Uma curiosidade, a respeito de Tápias, é que depois de sua saída do Bradesco ele chegou a temer não ter um lugar para trabalhar. Naquela época pensou em se aposentar, mas recebeu dezenas de convites.
Aceitou a oferta da Camargo Côrrea, com a missão extra de substituir o lendário Sebastião Camargo, para provar que era capaz de se dar bem em qualquer lugar. Sua missão era reestruturar o grupo, até então muito dependente das obras públicas, e preparar a terceira geração da família Camargo para assumir os negócios.
O grupo entrou nas áreas de energia elétrica, na concessão de estradas e, no ano passado, faturou R$ 1,2 bilhão, o melhor desempenho dos últimos dez anos.

Hábitos simples
Sujeito de hábitos simples, Tápias sempre foi um profissional aplicado, daqueles que colocam o trabalho acima da vida pessoal. Nos tempos de Bradesco, acordava todo dia às 5h30 para não chegar ao escritório depois do chefe Lázaro Brandão.
O ex-contínuo melhorou de vida e mesmo assim morou a vida toda no Tatuapé, bairro de classe média na zona leste de São Paulo. Os pais também moram lá e sua filha tem uma escola no bairro.
Amável, sabe como cativar as pessoas, mas, segundo ele próprio, também sabe como ser vingativo.


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