São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2000

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ANÁLISE
Apoio do PSDB sinaliza rumo de Covas em 2002

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DO PAINEL

A nota oficial divulgada pelo PSDB de São Paulo, de repúdio a Paulo Maluf e recomendação de voto em Marta Suplicy, tem um alcance político que vai além das eleições municipais.
O próprio PT foi tomado de surpresa, sobretudo depois que lideranças nacionais do PSDB haviam se dividido entre a neutralidade e o apoio individual a Marta. Mário Covas os atropelou. Em sintonia com o ministro José Serra, o governador, grande artífice da tomada de posição dos tucanos, devolve em dobro a ajuda que teve do PT em 98 e abre espaços em pelo menos três frentes:
1) coloca o PSDB paulista na condição de co-partícipe do enterro anunciado do malufismo, tirando a exclusividade da glória das mãos do PT; 2) reafirma suas diferenças em relação ao governo federal e sobretudo a FHC (que, por conveniências várias de sua aliança de "a" a "z", alimentou Maluf até pelo menos 98); e 3) sinaliza o caminho que gostaria ver o partido tomar em 2002.
O PT, é óbvio, continua sendo um adversário político do PSDB, com a nota oficial e Covas deixaram claro. Não é, portanto, uma eventual aproximação de Lula que está em jogo, mas antes o perfil da aliança que o governador imagina ser a melhor para derrotar o PT e, ao mesmo tempo, reafirmar os compromissos com as reformas sociais que o tucanato jogou fora pela janela.
O PMDB, com quem Serra cultiva um namoro no plano federal, sai indiretamente fortalecido do gesto de Covas, na condição de aliado preferencial para 2002.
Vale lembrar que o governador declarou recentemente, no programa "Roda Viva", que não vê o PFL como parceiro dos tucanos uma vez encerrada a era FHC.
Não se deve tomar a declaração ao pé da letra, mas com um grão de sal. Menos do que a exclusão do PFL do triunvirato governista, o que está em jogo é o lugar de cada parceiro na composição da aliança, que todos -PSDB, PMDB e PFL- acreditam ser necessária para a sobrevida de cada um.
Covas polariza, agora de maneira mais explícita, com o governador Tasso Jereissati, que, derrotado em Fortaleza ao lado de Ciro Gomes (PPS), saiu dizendo que Antonio Carlos Magalhães havia sido o grande vencedor das eleições municipais.
Até onde se vê, a vitória de ACM se restringe ao curral baiano e não será capaz de reverter o esvaziamento de sua influência nacional, mais evidente conforme se avizinha o fim de seu mandato na presidência do Senado.
A FHC não interessa precipitar, nem é de seu estilo, uma definição entre os dois nomes do PSDB que disputam espaço para se viabilizarem como possíveis sucessores do reino: Tasso e Serra.
O primeiro, do agrado do PFL, tem antes de tudo um pacto de lealdade com Ciro. Jogam em dupla. O segundo, opção do PMDB, parece ter acertado os ponteiros com o governador paulista, que começou a interferir de fato no jogo. Isso no caso de que não seja ele próprio, Covas, o nome de consenso do tucanato, apesar da insistência com que repete que vai pendurar as chuteiras em 2002 no portal dos Bandeirantes.


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