São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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MINAS GERAIS

Futuro governador afirma que Estado tem de deixar de ser refém nas questões do país

Aécio quer exercer liderança nacional

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JUIZ DE FORA
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Aécio Neves (PSDB), 42, foi eleito ontem o sucessor de Itamar Franco no governo de Minas Gerais. E, antes mesmo de serem abertas as urnas, reafirmou sua pregação de campanha: "Minas não vai ser refém das questões nacionais, tem que participar e conduzir as questões nacionais".
O tucano, do gabinete do Palácio da Liberdade, a sede do Executivo estadual, onde já esteve seu avô Tancredo Neves (1910-85) na década de 80, quer exercer uma liderança nacional, alimentando a aura de futuro presidenciável.
Aécio, atual presidente da Câmara, se projeta como um dos principais líderes nacionais do PSDB, mas quer influir também em outras siglas. Defende a governabilidade do próximo presidente, seja quem for, mas disse ainda acreditar em José Serra. "Vou trabalhar por ele", disse.
A ampla aliança política que ele costurou após viabilizada sua candidatura pelo atual governador de Minas, Itamar Franco (sem partido), será suporte para os seus vôos. Aécio parte da premissa de que, com uma base bem estruturada em casa, a força do Estado se consolidaria no país.

PT
"Saberei utilizar todo esse apoio que nos trouxe até aqui também como governador", disse ele, referindo-se aos 12 partidos e às incontáveis lideranças políticas que o apóiam, o que resultou na vitória com ampla vantagem sobre o segundo colocado, Nilmário Miranda (PT) -cerca de 30 pontos percentuais.
Ontem, após votar às 10h15 ao lado da filha Gabriela, 11, em Belo Horizonte, Aécio foi para Juiz de Fora levar sua "gratidão" a Itamar -depois ele seguiu para a fazenda da sua família na cidade de Cláudio, de onde só sairá hoje.
O tucano e o governador percorreram de braços dados três quarteirões até a seção onde Itamar vota. Se abraçaram e fizeram o "V" da vitória.
Questionado se se sentia vitorioso, Itamar respondeu: "Sinto-me contente" -a afirmação incluía também a expressiva votação que teve no Estado o petista Luiz Inácio Lula da Silva, apadrinhado por ele em Minas.
Itamar voltou a falar de Aécio como "conciliador" e "líder". Previu que essas qualidades se tornarão mais agudas porque considera o Palácio da Liberdade "emblemático e inspirador".
O PT-MG se revelou mais forte. Nilmário Miranda cresceu na reta final e teve boa votação, fato tido como uma vitória pelo partido, que será o principal opositor de Aécio no Estado.
"O PT é a grande surpresa da eleição. Ninguém acreditava que a gente chegasse em segundo lugar, muito menos que chegasse a esse desempenho. Valeu a luta. Ninguém pode negar que foi uma grande vitória política do PT."

Política canhestra
Nilmário reconheceu a vitória do tucano, mas não deixou de criticá-lo: "Tenho que parabenizar o deputado Aécio Neves pelo desempenho, mas não vou deixar de cobrar duas coisas: o exagero do aparato econômico e o fato de ele não ter comparecido a nenhum debate, de não ter submetido suas idéias ao confronto. Ele é competente, mas é um produto de marketing também".
A derrocada foi do atual vice-governador Newton Cardoso (PMDB). De potencial candidato a polarizador da disputa com Aécio, vai terminar em terceiro lugar e com uma votação muito baixa.
Ao votar em Contagem, Newton já dava sinais da derrota. Reclamou das dificuldades e culpou Itamar pelo seu fracasso. Ameaçou expulsar os desertores do PMDB, mas sabe que está ameaçada a sua liderança interna.
Aécio não poupou Newton e resumiu o que representou para o vice essa disputa: "A campanha trouxe novidade: sepultou definitivamente uma prática política canhestra, atrasada e que não honra a tradição de Minas".


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