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SEGUNDO TURNO
Presidente comanda campanha e busca rearticular base política de seu mandato; tucanos retomam marketing agressivo
FHC agora assume linha de frente de Serra
RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO
No segundo turno, a campanha
de José Serra vai atacar simultaneamente em duas frentes: numa
estratégia mais agressiva de marketing, ensaiada mas abandonada
na primeira fase, e na rearticulação da base política que nos últimos oito anos apoiou o governo
de Fernando Henrique Cardoso.
FHC será o comandante da
campanha, seja na linha de frente
dos programas eleitorais de TV
ou nos palanques estaduais, seja
na articulação de bastidor para
reagrupar a coalizão de partidos
que deu sustentação política ao
governo no Congresso.
Depois de oito anos de convívio
diário com PMDB, PFL, PTB e
PPB, caberá ao presidente cobrar
a fatura dos aliados que usufruíram as benesses do poder durante
o principado tucano no Planalto.
De acordo com a análise do comitê de Serra, o segundo turno será plebiscitário, com um candidato do governo, leia-se FHC, e outro da oposição. Excluídos ataques à vida privada de Luiz Inácio
Lula da Silva, agora os tucanos
julgam que será possível um debate para valer entre a mudança a
partir do que fez o atual governo e
um recomeço com Lula.
FHC e Serra conversaram longamente na tarde de ontem, pelo
telefone, após terem votado em
São Paulo.
Adesões
Ontem à noite, o comitê tucano
contava com o apoio de Anthony
Garotinho (PSB), articulado pelo
ex-ministro do Trabalho Francisco Dornelles (PPB). Segundo a
avaliação dos tucanos, a adesão de
Garotinho à candidatura de Lula
foi dificultada pela ocorrência de
segundo turno no Rio, onde o PT
será adversário do PSDB.
O comitê também dava como
certa o apoio do senador eleito pelo Ceará Tasso Jereissati (PSDB),
liberado do compromisso regional de apoiar Ciro Gomes (PPS).
O objetivo é costurar uma rede
de apoios políticos a Serra, que
faltou no primeiro turno, até a
próxima quarta-feira, quando a
campanha deve ser reiniciada.
A campanha de Serra, até agora,
foi marcada pela ausência de políticos em seu núcleo, resultado das
resistências que o tucano criou ao
longo do processo de viabilização
da candidatura. Como crê que as
contradições estaduais de palanques estarão resolvidas, Serra
aposta que contará com a maior
parte da coalizão que elegeu, reelegeu e ajuda FHC a governar.
A começar por Tasso. Há 15
dias, o deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG) teve uma longa
conversa com o ex-governador
cearense, que considerou "muito
boa". Serra evitou novos conflitos
com Tasso. O prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães (PMDB), por
exemplo, havia organizado um
comício na cidade para o candidato. Ele cancelou para não provocar o ex-governador, inimigo
político de Juraci.
Serra espera contar com apoios
de aliados, eleitos ou na disputa
do segundo turno, na Paraíba
(Cássio Cunha Lima), em Pernambuco (Jarbas Vasconcelos e
Marco Maciel), no Ceará (Lúcio
Alcântara), no Espírito Santo
(Paulo Hartung), em Goiás (Marconi Perillo), no Rio Grande do
Sul (Germano Rigotto), em São
Paulo (Geraldo Alckmin) e em
Minas Gerais (Aécio Neves).
O caso do Espírito Santo é típico
do que os tucanos chamam de
"contradições de palanque": ex-PSDB, Hartung é aliado de primeira hora de Serra. Não podia
assumir o apoio porque concorreu pela legenda do PSB, de Garotinho. Agora, sente-se liberado.
O desenho das urnas nos Estados é considerado favorável ao tucano. Em São Paulo, por exemplo,
Alckmin preferia enfrentar Paulo
Maluf (PPB) no segundo turno. A
campanha de Serra torceu até o
último minuto por José Genoino
(PT) na final. Assim pode ideologizar a campanha.
O vice-presidente Marco Maciel
será o encarregado de reunir os
cacos do PFL em torno de Serra.
Perdem força na sigla o senador
eleito pela Bahia Antonio Carlos
Magalhães e o presidente nacional do partido, Jorge Bornhausen.
O primeiro, inimigo de Serra. Mas
a circunstância ideológica impede
Bornhausen de se aliar ao PT.
Azul e vermelho
Sem um terceiro ou quarto candidato que possa usufruir dos ataques a Lula, a campanha de Serra
sente-se à vontade para desafiar o
petista para o debate sobre programa de governo e questionar
administrações do partido.
A estratégia foi tentada assim
que Serra deu a impressão de que
se isolaria no segundo lugar nas
pesquisas. Os tucanos recuaram
por avaliar que os votos que eventualmente tiravam de Lula migrariam para Garotinho.
Para a campanha, agora é preto
no branco. Ou azul e vermelho:
deve voltar a linha do confronto,
do questionamento de antagonismos ideológicos. Diferença escondida no primeiro turno, a propaganda vai explorar com intensidade o fato de que a disputa é
entre um candidato do governo e
outro da oposição.
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