São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Presidente comanda campanha e busca rearticular base política de seu mandato; tucanos retomam marketing agressivo

FHC agora assume linha de frente de Serra

RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO

No segundo turno, a campanha de José Serra vai atacar simultaneamente em duas frentes: numa estratégia mais agressiva de marketing, ensaiada mas abandonada na primeira fase, e na rearticulação da base política que nos últimos oito anos apoiou o governo de Fernando Henrique Cardoso.
FHC será o comandante da campanha, seja na linha de frente dos programas eleitorais de TV ou nos palanques estaduais, seja na articulação de bastidor para reagrupar a coalizão de partidos que deu sustentação política ao governo no Congresso.
Depois de oito anos de convívio diário com PMDB, PFL, PTB e PPB, caberá ao presidente cobrar a fatura dos aliados que usufruíram as benesses do poder durante o principado tucano no Planalto.
De acordo com a análise do comitê de Serra, o segundo turno será plebiscitário, com um candidato do governo, leia-se FHC, e outro da oposição. Excluídos ataques à vida privada de Luiz Inácio Lula da Silva, agora os tucanos julgam que será possível um debate para valer entre a mudança a partir do que fez o atual governo e um recomeço com Lula.
FHC e Serra conversaram longamente na tarde de ontem, pelo telefone, após terem votado em São Paulo.

Adesões
Ontem à noite, o comitê tucano contava com o apoio de Anthony Garotinho (PSB), articulado pelo ex-ministro do Trabalho Francisco Dornelles (PPB). Segundo a avaliação dos tucanos, a adesão de Garotinho à candidatura de Lula foi dificultada pela ocorrência de segundo turno no Rio, onde o PT será adversário do PSDB.
O comitê também dava como certa o apoio do senador eleito pelo Ceará Tasso Jereissati (PSDB), liberado do compromisso regional de apoiar Ciro Gomes (PPS).
O objetivo é costurar uma rede de apoios políticos a Serra, que faltou no primeiro turno, até a próxima quarta-feira, quando a campanha deve ser reiniciada.
A campanha de Serra, até agora, foi marcada pela ausência de políticos em seu núcleo, resultado das resistências que o tucano criou ao longo do processo de viabilização da candidatura. Como crê que as contradições estaduais de palanques estarão resolvidas, Serra aposta que contará com a maior parte da coalizão que elegeu, reelegeu e ajuda FHC a governar.
A começar por Tasso. Há 15 dias, o deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG) teve uma longa conversa com o ex-governador cearense, que considerou "muito boa". Serra evitou novos conflitos com Tasso. O prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães (PMDB), por exemplo, havia organizado um comício na cidade para o candidato. Ele cancelou para não provocar o ex-governador, inimigo político de Juraci.
Serra espera contar com apoios de aliados, eleitos ou na disputa do segundo turno, na Paraíba (Cássio Cunha Lima), em Pernambuco (Jarbas Vasconcelos e Marco Maciel), no Ceará (Lúcio Alcântara), no Espírito Santo (Paulo Hartung), em Goiás (Marconi Perillo), no Rio Grande do Sul (Germano Rigotto), em São Paulo (Geraldo Alckmin) e em Minas Gerais (Aécio Neves).
O caso do Espírito Santo é típico do que os tucanos chamam de "contradições de palanque": ex-PSDB, Hartung é aliado de primeira hora de Serra. Não podia assumir o apoio porque concorreu pela legenda do PSB, de Garotinho. Agora, sente-se liberado.
O desenho das urnas nos Estados é considerado favorável ao tucano. Em São Paulo, por exemplo, Alckmin preferia enfrentar Paulo Maluf (PPB) no segundo turno. A campanha de Serra torceu até o último minuto por José Genoino (PT) na final. Assim pode ideologizar a campanha.
O vice-presidente Marco Maciel será o encarregado de reunir os cacos do PFL em torno de Serra. Perdem força na sigla o senador eleito pela Bahia Antonio Carlos Magalhães e o presidente nacional do partido, Jorge Bornhausen. O primeiro, inimigo de Serra. Mas a circunstância ideológica impede Bornhausen de se aliar ao PT.

Azul e vermelho
Sem um terceiro ou quarto candidato que possa usufruir dos ataques a Lula, a campanha de Serra sente-se à vontade para desafiar o petista para o debate sobre programa de governo e questionar administrações do partido.
A estratégia foi tentada assim que Serra deu a impressão de que se isolaria no segundo lugar nas pesquisas. Os tucanos recuaram por avaliar que os votos que eventualmente tiravam de Lula migrariam para Garotinho.
Para a campanha, agora é preto no branco. Ou azul e vermelho: deve voltar a linha do confronto, do questionamento de antagonismos ideológicos. Diferença escondida no primeiro turno, a propaganda vai explorar com intensidade o fato de que a disputa é entre um candidato do governo e outro da oposição.



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