São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Os salvadores

A intervenção da Presidência da República (Lula, José Dirceu & cia.) no comando da campanha de Marta Suplicy, com pesadas críticas implícitas e explícitas à condução que lhe foi dada no primeiro turno, traduz bem a presunção típica dos palacianos, mas é injusta e contém riscos interessantes.
Marta partiu de uma situação crítica, nos seus difíceis 16%, e sua campanha levou-a a muito mais do que necessário para estar no segundo turno, e com chances que, se não são as maiores, são reais.
Além disso, quem pode negar que Marta tenha pago, além dos desgastes administrativos e sobretudo pessoais, também pelo governo Lula e suas políticas contrárias aos aposentados, ao salário mínimo e à redução substancial do desemprego? Se assim foi, terá pago pelo que apoiou, mas nem por isso os palacianos de Brasília estariam isentos de parte das responsabilidades negativas que atribuem à campanha de Marta.
Agora, os riscos. A mobilização da própria Presidência afirma, por si só, as melhores possibilidades de José Serra. Se confirmadas com a vitória, a intromissão direta da Presidência transformará Lula, Dirceu & cia. nos grandes derrotados, mais derrotados do que Marta. Um colapso que o governo terá muita dificuldade de superar, se é que poderá consegui-lo.
O comando do governo é que está fazendo da disputa paulistana uma batalha federal, com múltiplos riscos e efeitos nacionais onerosos, pela continuidade do desgaste iniciado com a intromissão que já exigiu de Lula um pedido de desculpas.

Tudo igual
Petistas vitoriosos e alguns comentaristas vêem nos êxitos eleitorais de Marcelo Déda (Aracaju), João Paulo (Recife), Fernando Pimentel (Belo Horizonte) e outros o impulso para despaulistizar o PT e dar-lhe enfim, mais do a aparência, a natureza de partido nacional.
Em termos partidários, no entanto, nenhuma novidade advém dos êxitos invocados como força nova. Onde estavam, senão nos lugares mesmos para os quais foram agora reeleitos, esses a quem se atribui nova fisionomia do petismo? Tal como a Minas Gerais de Magalhães Pinto, estão hoje e estarão amanhã onde já estavam, sem que isso lhes desse influência na natureza do PT.
O sentido que as suas vitórias petistas podem ter é para fora do PT, é político, não é para dentro, onde a estrutura está montada para ser, e continuar sendo, tal qual é.

A unidade
O acordo de Lula com Antonio Carlos Magalhães, que beneficiou o candidato do PFL em Salvador contra o candidato do PT, funcionou no primeiro turno, mas no segundo já criou nova rebeldia petista.
O acordo permanece, agora contra o candidato do PDT, tanto que José Genoino condicionou a reconsideração ao caso de apoio do PDT paulistano a Marta. Os petistas de Salvador, porém, desconsideraram o comando nacional e já declararam apoio ao pedetista João Henrique, o que equivale a uma declaração antecipada de derrota do carlista César Borges.
Começou no Rio, avançou em Fortaleza e agora chega a Salvador.


Texto Anterior: Reação: Lula se expõe sem resultado ao federalizar pleito, diz FHC
Próximo Texto: Panorâmica - Pará 1: Duas urnas são roubadas no interior do Estado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.