|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Os salvadores
A intervenção da Presidência da República (Lula,
José Dirceu & cia.) no comando
da campanha de Marta Suplicy,
com pesadas críticas implícitas e
explícitas à condução que lhe foi
dada no primeiro turno, traduz
bem a presunção típica dos palacianos, mas é injusta e contém
riscos interessantes.
Marta partiu de uma situação
crítica, nos seus difíceis 16%, e
sua campanha levou-a a muito
mais do que necessário para estar no segundo turno, e com
chances que, se não são as maiores, são reais.
Além disso, quem pode negar
que Marta tenha pago, além dos
desgastes administrativos e sobretudo pessoais, também pelo
governo Lula e suas políticas
contrárias aos aposentados, ao
salário mínimo e à redução
substancial do desemprego? Se
assim foi, terá pago pelo que
apoiou, mas nem por isso os palacianos de Brasília estariam
isentos de parte das responsabilidades negativas que atribuem à
campanha de Marta.
Agora, os riscos. A mobilização
da própria Presidência afirma,
por si só, as melhores possibilidades de José Serra. Se confirmadas
com a vitória, a intromissão direta da Presidência transformará Lula, Dirceu & cia. nos grandes derrotados, mais derrotados
do que Marta. Um colapso que o
governo terá muita dificuldade
de superar, se é que poderá consegui-lo.
O comando do governo é que
está fazendo da disputa paulistana uma batalha federal, com
múltiplos riscos e efeitos nacionais onerosos, pela continuidade
do desgaste iniciado com a intromissão que já exigiu de Lula
um pedido de desculpas.
Tudo igual
Petistas vitoriosos e alguns comentaristas vêem nos êxitos eleitorais de Marcelo Déda (Aracaju), João Paulo (Recife), Fernando Pimentel (Belo Horizonte) e
outros o impulso para despaulistizar o PT e dar-lhe enfim, mais
do a aparência, a natureza de
partido nacional.
Em termos partidários, no entanto, nenhuma novidade advém dos êxitos invocados como
força nova. Onde estavam, senão nos lugares mesmos para os
quais foram agora reeleitos, esses a quem se atribui nova fisionomia do petismo? Tal como a
Minas Gerais de Magalhães Pinto, estão hoje e estarão amanhã
onde já estavam, sem que isso
lhes desse influência na natureza do PT.
O sentido que as suas vitórias
petistas podem ter é para fora do
PT, é político, não é para dentro,
onde a estrutura está montada
para ser, e continuar sendo, tal
qual é.
A unidade
O acordo de Lula com Antonio
Carlos Magalhães, que beneficiou
o candidato do PFL em Salvador
contra o candidato do PT, funcionou no primeiro turno, mas no segundo já criou nova rebeldia petista.
O acordo permanece, agora contra o candidato do PDT, tanto que
José Genoino condicionou a reconsideração ao caso de apoio do PDT
paulistano a Marta. Os petistas de
Salvador, porém, desconsideraram
o comando nacional e já declararam apoio ao pedetista João Henrique, o que equivale a uma declaração antecipada de derrota do carlista César Borges.
Começou no Rio, avançou em
Fortaleza e agora chega a Salvador.
Texto Anterior: Reação: Lula se expõe sem resultado ao federalizar pleito, diz FHC Próximo Texto: Panorâmica - Pará 1: Duas urnas são roubadas no interior do Estado Índice
|