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ELIO GASPARI
O Big Brother de Serra e Kassab
Querem impor um jaboticabão megalomaníaco: botar chips para rastrear 6 milhões de carros
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O GOVERNADOR de São Paulo, José
Serra, e o prefeito da capital, Gilberto Kassab, anunciaram que,
a partir de maio do próximo ano, os 6
milhões de de carros que rodam na cidade serão obrigados a carregar chips,
encurralando motoristas caloteiros
que não pagam taxas, seguro nem multas. São Paulo tem cerca de 1,7 milhão
de carros nessa situação. Com 2.500
antenas, numa operação que deve custar uns R$ 300 milhões, será possível tirar centenas de milhares de veículos das ruas, descongestionando a cidade.
Regularizando-se a metade dessa frota
delinqüente, fatura-se algo como R$
900 milhões. De quebra, as infrações
serão melhor fiscalizadas.
Os doutores garantem que isso não
tem nada a ver com novos pedágios, reconhecem que os chips permitirão o
mapeamento de todos os percursos de
um motorista, mas juram que os dados
ficarão protegidos pela confidencialidade. Acredite quem quiser. Durante o
tucanato, as declarações de Imposto de
Renda do exercício de 1995 foram parar
nas barracas de camelôs.
O projeto não tem similar no mundo.
Mais: onde há chip há também um novo pedágio embutido. Em Londres, Estocolmo e Cingapura eles permitem a
cobrança de taxas em áreas de trânsito
sobrecarregado. O uso voluntário desse
equipamento está disseminado em
centenas de estradas, inclusive em rodovias privadas brasileiras. O que há de
novo é obrigatoriedade.
A imposição dos chips para toda a
área de uma cidade como São Paulo, é
um jaboticabão. Pior: uma decisão insana do Conselho Nacional de Trânsito
manda que até 2011 eles sejam colocados em todos os carros de Pindorama,
inclusive nos de Uiramutã (Roraima),
no extremo norte do país, onde vivem
4,6 mil pessoas, com uma frota de dez
carros. Para os fornecedores, isso significará, por baixo, uma encomenda de
R$ 2 bilhões.
Pensa-se em fazer em todo o Brasil
algo que só vai acontecer no protetorado
das Bermudas, com 53 km2 de área, 66
mil habitantes e 25 mil veículos. A cidade de São Paulo tem 1,5 mil km2 e 11 milhões de vítimas.
Serra e Kassab podem estar convencidos de que os chips não provocarão o
aparecimento de pedágios inteligentes.
(Por exemplo: uma taxa de R$ 1 para
quem entrar nas áreas congestionadas,
cobrada eletronicamente.) Ou acham
que falta inteligência à escumalha, ou
ela falta a eles, até porque faz pouco sentido mutilar o pleno uso da tecnologia. É
melhor fazer uma coisa dessas às claras.
Em Estocolmo, o chip foi aceito num referendo.
Há um cheiro de eugenia viária na busca da redução da frota delinqüente de
carros mambembes. Será que os doutores acreditam ser possível sumir com 1
milhão de veículos com a mesma naturalidade com que contratam a compra de
R$ 300 milhões em equipamentos?
Calculando-se que 700 mil donos de
carros corram atrás da regularização e
que os demais atendam duas pessoas
cada um, Serra e Kassab tiveram uma
grande idéia: deixar 2 milhões de bípedes sem aquele carro velho, barulhento
e com os papéis fora de ordem. Cada
um desses transgressores deixa de pagar algo como R$ 1.000 por ano. Em alguns casos, o carro vale menos que isso.
Nada contra puni-los, mas isso não pode ser feito maciçamente, em alguns
meses. (No Rio, mais da metade dos 2
milhões de carros que rodam na cidade
estão fora dos conformes.)
Os chips já se mostraram eficientes
em diversos serviços. Começar impondo-os à malha de uma cidade do tamanho de São Paulo é uma temeridade.
Sem discussão, é prepotência. Como
ensinava o professor Mário Henrique
Simonsen, "o problema mais difícil do
mundo, bem enunciado, um dia será
resolvido, mas se o problema mais fácil
do universo for mal enunciado, jamais
será resolvido".
BOA NOTÍCIA
Se a Câmara ou o Senado entrarem num confronto institucional com o STF, serão humilhados. Os doutores Renan Calheiros e Arlindo Chinaglia precisam botar na cabeça que diminuiu o número de pessoas dispostas a dar a volta no quarteirão
para defender as instituições que
presidem.
Para que eles entendam o
mundo irreal em que vivem: nos
domínios do doutor Chinaglia, a
Câmara vai comprar 11 carros de
luxo (dois deles para a alta burocracia da Casa). Querem trocar a
frota e torrarão R$ 1,4 milhão.
Nos domínio de Renan, um funcionário mandou fazer um carimbo onde grafou "Congreço
Nacional". O carimbo custa R$
10, mas não foi substituído imediatamente.
LULA EM HARVARD
Nosso Guia orgulha-se da sua
condição de monoglota e freqüentemente faz pouco de quem
passou muito tempo na escola.
Um curioso descobriu que esse
desempenho é recente. Em dezembro de 1998, depois de perder a segunda eleição para
FFHH, ele anunciou que pretendia mergulhar num curso de inglês para, depois, passar seis meses na Universidade Harvard.
Não fez uma coisa nem outra.
JOGO ALTO
Lula chamou os líderes dos
partidos da base para um jantar
amigo no Alvorada. Dois maganos acercaram-se para interceder por novas modalidades de jogatina. Ele desconversou.
VOZES D'ÁFRICA
Corre pela África uma estranha história: o Paquistão estaria
interessado em entrar no projeto de montagem de um míssil em
que vêm trabalhando especialistas brasileiros e sul-africanos.
MÁ IDÉIA
Um senador do PSDB recebeu
um telefonema de um ministro do
STF. O doutor pedia sua ajuda para
aprovar no plenário o nome de Luiz
Antonio Pagot para a direção-geral
do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes. O senador quase duvidou. Convenceu-se quando um colega relatou-lhe
ter recebido o mesmo tipo de pedido, do mesmo ministro. Pagot foi
aceito pelo Senado por 42 x 24. Se
um juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos tiver que escolher entre o suicídio e uma gestão dessas,
enforca-se no gabinete.
SEGREDO
As memórias de Alan Greenspan
informam que desde 1976 as sessões do Copom americano são gravadas. Em 1990, quando um deputado soube disso, exigiu a divulgação das fitas, o Federal Reserve
Board admitiu a existência do tesouro e comprometeu-se a divulgar
as transcrições após um embargo
de cinco anos. O Copom de Pindorama publica uma ata reveladora,
sibilina e sucinta, mas continua
sem gravador. Faria bem a todo
mundo se pudessem ser ouvidas
pela choldra dez anos depois, ou 20.
PROVA NELA
A PUC-SP mudou o dia do vestibular, marcado desde abril, e a nova
data coincidiu com o da PUC de
Campinas. Segundo a professora
Ana Zilocchi, não há problema,
pois um aluno poderá fazer a prova
da PUC paulistana em Campinas.
Duas provas de vestibular num
mesmo dia. Os candidatos de Campinas terão direito a tudo isso mais
95 km de estrada. Outro dia a professora disse que "as provas elaboradas pela PUC são atuais e voltadas para o estudante". Menos na
data. Muita gente esquece, mas o
dia do vestibular talvez seja o de
maior tensão na vida do jovem.
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