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ADMINISTRAÇÃO
Programa de Marta suprimiu decisão votada pelo partido no dia em que ela foi homologada candidata
PT aprovou anular o contrato da dívida
LILIAN CHRISTOFOLETTI
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta da prefeita eleita
Marta Suplicy (PT) para tentar renegociar os termos da dívida do
município de São Paulo com a
União contradiz as diretrizes discutidas e aprovadas em encontro
municipal do partido no primeiro
semestre deste ano.
Durante a convenção do partido, em 18 de junho, que homologou a candidatura de Marta, foi
aprovado um documento que defende a anulação do contrato de
refinanciamento da dívida do
município com a União.
"O governo do PT terá outra
postura em relação à dívida da cidade e renegociará todos os termos atuais acordados com o governo federal", diz o texto.
O documento, intitulado "Diretrizes de Programa de Governo",
teve por objetivo definir as linhas
de um eventual mandato petista.
O texto continua: "Tomamos
posição pela anulação dos contratos de "refinanciamento" das dívidas do município com os governos estadual e federal, determinados pelos acordos com o FMI e
com o Banco Mundial".
Por fim, a resolução aprovada
defende ainda "a anulação dos títulos precatórios (dívidas decorrentes de sentenças judiciais),
com investigação e punição com
confisco dos fraudadores e beneficiários".
A posição que vem sendo externada por Marta desde que foi eleita é diferente. A petista tem dito
que procurará respeitar o contrato renegociado, em maio deste
ano, pelo atual prefeito de São
Paulo, Celso Pitta.
O acordo compromete 13% da
receita líquida do município com
a amortização da dívida renegociada, no valor de R$ 10,5 bilhões.
A prefeita eleita costuma dizer
que "ameaçar não pagar a dívida
seria enganar a população". Ela
cita uma das cláusulas do contrato que autoriza a União a reter recursos municipais equivalentes às
parcelas da dívida em caso de
não-pagamento.
Na versão final de seu programa
de governo, que foi baseado no
documento aprovado no encontro petista, Marta não seguiu as
diretrizes aprovadas pelo PT no
tocante à dívida com a União.
Foi suprimido o trecho que pregava a anulação do contrato firmado entre o município e a União
(leia quadro ao lado).
A mudança ocorreu no item
que trata do assunto, cujo título é:
"Ter uma postura ativa na cena
política nacional e em relação à
dívida da cidade". No lugar, foi
adotada uma versão mais amena.
Em vez de prometer que "renegociará todos os termos" da dívida, como defendeu o partido,
Marta diz que "buscará" a renegociação, sem referência a "todos
os termos" -o que poderia ser
interpretado como a anulação do
contrato. O trecho que prega explicitamente a "anulação dos contratos de "refinanciamento" e dos
títulos precatórios" foi totalmente
suprimido.
Marta decidiu incluir um trecho
mais condizente com o que vem
prometendo. "(O governo municipal) propõe a aplicação de parcela considerável da dívida em
programas de combate à pobreza
e exclusão, prioritariamente no
programa Renda Mínima."
Durante a campanha eleitoral, a
então candidata defendeu que
parte dos 13% comprometidos
com a dívida junto à União retornasse ao município "carimbada",
para uso em programas sociais.
Marta também não seguiu diretriz, incluída no mesmo documento, sobre privatizações. Segundo o PT, deveriam ser "suspensas todas as privatizações em
curso", trecho que foi retirado.
Anulação
Amir Khair, que coordenou a
área de finanças do programa de
governo de Marta, afirmou não
ter conhecimento da resolução
aprovada pelo partido.
"Anulação pura e simples do
contrato não foi considerada por
mim nem pela Marta. O que ela
externou é que, se você não paga a
dívida, perde os recursos na boca
do caixa e ainda por cima paga
multa", afirmou Khair, que foi secretário das Finanças na primeira
gestão do PT (a de Luiza Erundina, entre 1989 e 1992).
Khair diz que em nenhum momento durante a elaboração do
programa de governo se cogitou a
anulação total do contrato. "A
gente leva em consideração que
existe um contrato assinado.
Marta vai respeitar os contratos",
disse ele. O coordenador também
nega que a prefeita eleita tenha
considerado a anulação dos precatórios. "Não se discutiu isso."
Khair disse que Marta vai tentar
mudar os termos do contrato, o
que seria muito mais difícil, pois
passaria por alterações na Lei de
Responsabilidade Fiscal. A idéia
seria conseguir reduzir o comprometimento de 13% para um percentual mais baixo.
Sem validade
O presidente do Diretório Municipal do PT, o deputado federal
Ricardo Berzoini, admite que há
diferenças entre o programa
aprovado pelo partido e o de Marta. Para ele, isso é "natural".
"O posicionamento aprovado
em encontro do partido com certeza será levado em consideração,
mas não quer dizer que vai ser a
posição do governo de Marta. Governo é governo, e partido é partido", disse Berzoini.
Para o deputado, o governo de
Marta é maior do que a posição
defendida pelo partido.
"O governo da Marta não é o
PT, é o governo do PT. O que é diferente. O governo é mais amplo
do que o partido do ponto de vista
das alianças feitas no primeiro e
no segundo turno das eleições. O
partido tem um posicionamento,
que pode ou não coincidir com o
do governo", afirmou.
Para o presidente municipal, o
documento aprovado pelo partido reproduz a posição do PT, mas
não tem "validade jurídica".
"O PT tem um diagnóstico claro
do quanto é prejudicial para São
Paulo esse contrato de refinanciamento. Para o partido, o ideal seria a anulação. Mas não há uma
análise dos partidos coligados
com o PT. Não temos um estudo
do impacto político nem sabemos
se isso tem validade jurídica", disse o deputado. Segundo Berzoini,
o assunto só será discutido se
houver "brecha jurídica" que permita o questionamento do contrato. "Não faremos bravatas."
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