São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Partido quer evitar que megarreajuste dos preços represados pelo atual governo crie problema político para Lula

Setor farmacêutico discute reajuste com PT

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O setor farmacêutico iniciou entendimentos com o PT para evitar que um megarreajuste dos preços dos medicamentos, represado pelo atual governo, se transforme num problema político e econômico logo após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os preços dos remédios estão controlados desde dezembro de 2000 por uma medida provisória articulada pelo então ministro da Saúde, José Serra, candidato tucano derrotado nas últimas eleições presidenciais.
Ao longo deste ano, o setor farmacêutico, muito dependente de matéria-prima importada, vem pressionando o governo Fernando Henrique Cardoso por um reajuste que compense a disparada do dólar. De acordo com cálculos da Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica), será necessário um reajuste de pelo menos 18%, em média, para recompor os preços. A medida provisória do governo expira no próximo mês.
Segundo a Folha apurou, já houve contatos preliminares entre interlocutores do PT e da Febrafarma. O coordenador da transição pelo PT, Antônio Palocci Filho, que é médico, considera o tema um dos mais importantes na preparação do governo Lula.

Reajuste escalonado
Na linha de medidas pactuadas que o futuro presidente quer impor como sua marca, há na mesa algumas propostas, não excludentes entre si. Uma idéia é acertar um reajuste escalonado, para diluir no tempo o efeito inflacionário e o desgaste político da alta de preços.
Esse cronograma de reajustes pode ser iniciado logo, ainda no governo FHC -obviamente, desde que este concorde com a idéia e autorize a medida.
Outra possibilidade é criar uma cesta de medicamentos de uso contínuo e de maior consumo popular, cujos preços seriam mantidos sob controle ou com aumentos inferiores aos dos demais produtos farmacêuticos.
Se pelo lado dos petistas o interesse em achar uma solução para o caso tem motivos óbvios, os laboratórios têm objetivos e argumentos que misturam a economia e a política.
O setor teme que uma onda descontrolada de reajustes a partir de janeiro leve o governo de Luiz Inácio Lula da Silva a adotar uma medida simples e radical: prorrogar o congelamento, o que, segundo a indústria, seria desastroso para os investimentos no país.

Doadores
Tenta-se evitar também um relacionamento hostil com o novo governo, como é descrito o mantido com o atual. Nos laboratórios, reclama-se não só do controle de preços, mas também das políticas desenvolvidas para registros e patentes de novos remédios. Não são incomuns insinuações de uso eleitoreiro das medidas voltadas para o setor.
Para o PT, a negociação é delicada: conforme a Folha noticiou, o setor farmacêutico esteve entre os principais doadores de recursos para a campanha de Lula ao Planalto, segundo números parciais. Os dados apontam que Serra recebeu menos dinheiro dos laboratórios que o petista.
Conforme a ótica, um pacto com a indústria farmacêutica poderá ser interpretado como uma capitulação diante de um lobby empresarial. Também por esse motivo, uma ajuda do governo Fernando Henrique Cardoso para o início do reajuste escalonado seria bem-vinda.



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