São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

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JANIO DE FREITAS

O xadrez dos cargos

O deputado José Dirceu já foi posto no Ministério da Fazenda, no Gabinete Civil do Planalto com maior frequência e, mais recentemente, está na presidência da Câmara. Mas ninguém, fora do pequeno círculo muito próximo de Luiz Inácio Lula da Silva, sabe ao certo onde estará o deputado José Dirceu no futuro governo. Por motivos que não figuram entre os mais respeitáveis do jornalismo, as composições ministeriais são propícias à competição entre os ficcionistas, preferentemente a procurarem e esperarem a informação mais consistente para servir aos leitores.
A presença de José Dirceu na presidência da Câmara tem alta cotação dentro do PT, mas com base em um argumento volátil: sua habilidade de articulação facilitaria apoios necessários ao governo na Câmara. Essa capacidade de Dirceu está mais do que demonstrada, eleva-o mesmo à melhor do gênero na atualidade. E a presidência da Câmara é importante em muitos sentidos de seus vários poderes políticos, no seu próprio âmbito, e institucionais. Mas a posição mais conveniente para transações com o Congresso não está na Câmara nem no Senado. Está no governo.
Alguns jornalistas consideram que o PT só tem José Dirceu para a presidência da Câmara. Também conta, pelo menos, com Sigmaringa Seixas, que volta à vida parlamentar com a experiência e os créditos do seu desempenho de bom deputado. Mas a ala do PT que se inquieta com a posição ausência de José Dirceu do Gabinete Civil, onde desfrutaria de condições mais amplas para as articulações, excede-se tanto quanto os que o têm por indispensável na presidência da Câmara.
O PT está na situação inversa à do PSDB, que não teve (e não tem) um articulador hábil para oferecer ao seu governo. Fernando Henrique Cardoso foi sempre socorrido pelos pefelistas Luís Eduardo Magalhães e Inocêncio Oliveira para obter as aprovações problemáticas que marcaram seu primeiro mandato. No segundo, com temática já rasteirinha, foi sobretudo o PMDB que agiu. Nem é preciso dizer por que tudo foi sempre negociado em termos fisiológicos.
Ao círculo do presidente eleito não faltam operadores já provados em negociações e articulações bem sucedidas. É o caso, para citar pelo menos mais um, e também por justiça, de Luiz Dulci. Pouco visível, pouco sonoro, mas reconhecido como inteligência íntegra e competência sólida, demonstradas inclusive na ordenação, durante a campanha eleitoral e ainda agora, dos variados petismos.
Para alguns postos, o problema de Lula da Silva é o de excesso de habilitados.



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