São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2000

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GOVERNO

Para Rubens Bizerril, é "evidente" que há outros acusados trabalhando

Coronel acusado de tortura deixa cargo em ministério

Lula Marques/Folha Imagem
Coronel do Exército Rubens Bizerril, após a entrega do cargo, em frente ao Ministério da Justiça


g WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O coronel do Exército Rubens Robine Bizerril, acusado de tortura no dossiê "Brasil: Nunca Mais", deixou ontem o cargo de coordenador de Planejamento e Segurança Pública do Ministério da Justiça. Ele afirmou que é inocente e insinuou que existem mais acusados de tortura no governo.
Bizerril, 65, disse que é funcionário da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e que estava cedido desde 96 para o ministério. O coronel disse que saiu do Exército em 82 e foi para o extinto SNI.
Questionado se havia mais pessoas acusadas de tortura atuando no governo, ele disse que era "evidente". Depois se corrigiu, dizendo que era "natural" e "possível" e explicou: "O general Alberto Cardoso (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) não afirmou que 13% dos funcionários da Abin vieram do SNI? Então...".
Questionado se os acusados de tortura estavam entre esses 13%, ele respondeu: "Não digo nem que sim nem que não. Vocês (repórteres) ganham para isso".
Bizerril disse que conhecia pessoalmente o general Cardoso ("ele foi meu chefe"), mas que nunca disse a ele que era acusado de tortura: "Ele nunca me perguntou". Bizerril trabalhou na Subsecretaria de Inteligência (vinculada à Presidência da República), que antecedeu a Abin.
O coronel disse que não pediu formalmente o afastamento do cargo que ocupava até ontem. Disse que estava em férias quando soube que seu nome havia surgido na imprensa após a demissão do ex-tenente Carlos Alberto del Menezzi, acusado de tortura.
Por isso, disse que colocou em prática uma idéia que já tinha, que foi encaminhar um pedido de licença-prêmio de três meses, a que tem direito. Com a licença, afirmou, perdeu automaticamente o cargo que exercia.
Bizerril disse que não pediu demissão nem afastamento e que não vê razão nenhuma para isso, além de não estar "de mal com ninguém". Afirmou que se aposenta aos 70 anos, por idade, e que até lá pretende continuar no serviço público. "Não me envergonho de nada do que fiz", disse.
Bizerril é acusado de envolvimento na tortura e na morte do estudante secundarista Ismael Silva de Jesus, em agosto de 72, nas dependências do 10º Batalhão de Caçadores de Goiânia -hoje 42º Batalhão de Infantaria Motorizada. Ele disse, ao deixar o Ministério da Justiça, que só viu Ismael depois de morto, no quarto de um sargento, com um fio de persiana enrolado no pescoço.
O coronel, na época major da Brigada de Infantaria de Brasília e que foi chamado para conduzir um Inquérito Policial Militar em Goiânia, disse que Ismael não havia sido preso numa cela por falta de espaço. Segundo ele, haviam sido presas entre 40 e 50 pessoas, acusadas de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro, então clandestino.
Para Bizerril, não havia razão para duvidar da versão oficial, de que Ismael se suicidara por vergonha de ter sido preso. Ele disse que considera a tortura "covarde, abominável, abjeta e uma burrice". "Pegar uma pessoa psicologicamente derrotada e submetê-la a tortura é covardia", afirmou.



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