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TRANSIÇÃO
Possível indicação de adversário dos petistas no Estado para um ministério abre crise regional na legenda
PT do Ceará veta Ciro no governo de Lula
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O candidato derrotado do PT ao
governo do Ceará, José Airton Cirilo, afirmou ontem que vai "declarar guerra" à direção nacional
do partido caso se confirme a indicação de Ciro Gomes (PPS) a algum ministério, abrindo a primeira crise regional no partido do
presidente eleito Luiz Inácio Lula
da Silva (PT).
O aviso será dado hoje por José
Airton à cúpula petista durante
encontro da Executiva Nacional
do partido, em São Paulo.
"O Lula tem toda a autoridade e
autonomia para nomear quem ele
quiser, mas nós não somos obrigados a aceitar essa escolha", afirmou Airton.
A briga entre o PT e o PPS de Ciro no Ceará se acirrou muito na
eleição ao governo do Estado. Pela primeira vez em 16 anos no poder, o grupo de Ciro e Tasso Jereissati (PSDB) amargou um segundo turno -em que o candidato que apoiava, o tucano Lúcio
Alcântara, venceu José Airton por
apenas 3.047 votos de diferença.
Com o acirramento, o processo
eleitoral foi tomado por troca de
acusações, ainda hoje não encerradas -há pendências na Justiça,
e o PT ainda tenta derrubar a vitória de Lúcio com acusações de
abuso do poder econômico, corrupção e fraudes.
"O que está em jogo é o processo de hegemonia desse grupo do
Ciro e do Tasso no Ceará, que nós
conseguimos derrotar nessas eleições", disse José Airton. "Colocar
o Ciro em um ministério significa
devolver as forças a esse grupo,
ressuscitar o Ciro na política, o
que é uma desmoralização para o
PT do Ceará."
Para o petista, o PPS pode ser
contemplado, mas sem colocar
Ciro em evidência. "Essa é uma
opção política. Não dá para colocar em evidência o Ciro, que foi
um dos principais responsáveis
pela nossa derrota no Estado",
disse ele. "Além disso, acho perigoso o Lula colocar no governo
uma pessoa que ficou tachada como um mentiroso contumaz nas
eleições", continuou.
José Airton é integrante da ala
mais moderada do PT e passou a
participar dos encontros da Executiva Nacional do partido após
seu desempenho nas eleições ao
governo do Estado.
No Ceará, até mesmo onde havia uma relação harmoniosa entre
PT e PPS, hoje, por causa da disputa eleitoral, não há mais. Em
Sobral, o irmão de Ciro, Cid Gomes (PPS), prefeito há seis anos
em aliança com o PT, demitiu o
vice-prefeito, o petista Edilson
Aragão, da presidência da companhia de água e esgoto do município porque ele estava fazendo
campanha para José Airton.
O PT local teve, inclusive, de enfrentar a cúpula do partido para
forçar a visita de Lula ao Estado
no segundo turno, o que estava
sendo evitado por causa da presença de Ciro. Lula visitou o Ceará
na última semana de campanha.
"Pela importância que o PT do
Ceará demonstrou no processo
eleitoral, é estranho que ninguém
do Estado tenha sido chamado
para integrar a equipe de transição", disse José Airton.
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