São Paulo, sábado, 07 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Possível indicação de adversário dos petistas no Estado para um ministério abre crise regional na legenda

PT do Ceará veta Ciro no governo de Lula

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O candidato derrotado do PT ao governo do Ceará, José Airton Cirilo, afirmou ontem que vai "declarar guerra" à direção nacional do partido caso se confirme a indicação de Ciro Gomes (PPS) a algum ministério, abrindo a primeira crise regional no partido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O aviso será dado hoje por José Airton à cúpula petista durante encontro da Executiva Nacional do partido, em São Paulo.
"O Lula tem toda a autoridade e autonomia para nomear quem ele quiser, mas nós não somos obrigados a aceitar essa escolha", afirmou Airton.
A briga entre o PT e o PPS de Ciro no Ceará se acirrou muito na eleição ao governo do Estado. Pela primeira vez em 16 anos no poder, o grupo de Ciro e Tasso Jereissati (PSDB) amargou um segundo turno -em que o candidato que apoiava, o tucano Lúcio Alcântara, venceu José Airton por apenas 3.047 votos de diferença.
Com o acirramento, o processo eleitoral foi tomado por troca de acusações, ainda hoje não encerradas -há pendências na Justiça, e o PT ainda tenta derrubar a vitória de Lúcio com acusações de abuso do poder econômico, corrupção e fraudes.
"O que está em jogo é o processo de hegemonia desse grupo do Ciro e do Tasso no Ceará, que nós conseguimos derrotar nessas eleições", disse José Airton. "Colocar o Ciro em um ministério significa devolver as forças a esse grupo, ressuscitar o Ciro na política, o que é uma desmoralização para o PT do Ceará."
Para o petista, o PPS pode ser contemplado, mas sem colocar Ciro em evidência. "Essa é uma opção política. Não dá para colocar em evidência o Ciro, que foi um dos principais responsáveis pela nossa derrota no Estado", disse ele. "Além disso, acho perigoso o Lula colocar no governo uma pessoa que ficou tachada como um mentiroso contumaz nas eleições", continuou.
José Airton é integrante da ala mais moderada do PT e passou a participar dos encontros da Executiva Nacional do partido após seu desempenho nas eleições ao governo do Estado.
No Ceará, até mesmo onde havia uma relação harmoniosa entre PT e PPS, hoje, por causa da disputa eleitoral, não há mais. Em Sobral, o irmão de Ciro, Cid Gomes (PPS), prefeito há seis anos em aliança com o PT, demitiu o vice-prefeito, o petista Edilson Aragão, da presidência da companhia de água e esgoto do município porque ele estava fazendo campanha para José Airton.
O PT local teve, inclusive, de enfrentar a cúpula do partido para forçar a visita de Lula ao Estado no segundo turno, o que estava sendo evitado por causa da presença de Ciro. Lula visitou o Ceará na última semana de campanha.
"Pela importância que o PT do Ceará demonstrou no processo eleitoral, é estranho que ninguém do Estado tenha sido chamado para integrar a equipe de transição", disse José Airton.


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